I feel like my heart is stuck ♡

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Era um domingo, véspera de volta ás aulas. Lá fora, passava-se uma brisa gelada e fria. Era inverno. As folhas das árvores que haviam caído no outono, agora já estavam em seus respectivos lugares e não havia uma alma viva sequer serpenteando por ali. Eu estava ali deitado na minha cama, aparentemente sozinho, mas extremamente acompanhado de vastos pensamentos sobre amanhã, pois é, será as voltas ás aulas no primeiro ano do ensino médio, o pesadelo de qualquer aluno, muitos dizem que esse dia define como serão os restos dos seus três anos nesse mundo de horrores que é o ensino médio. Eu, definitivamente, não sou o estereótipo de garoto popular, fortão e musculoso, que vive rodeado de líderes de torcida e é convidado pra todas as festas e badalações. Eu sou apenas eu. Harry Styles. Um garoto normal, um garoto qualquer, um garoto invisível. Sempre foi assim, durante todos esses anos, eu nunca me destaquei, eu nunca pude viver o lado bom ou mal, como você quiser chamar, da vida de um adolescente do ensino médio. Eu sempre fui deixado de lado. Para você ter uma noção, meu “codinome” na escola é Lonely boy, ninguém me diz: “Harry, me passa a matéria?” ou “Harry, me empresta seu caderno?” é sempre a mesma coisa: “Sai da frente, Lonely boy!”, é o que o povo do fundão diz pra mim, que costumo sentar-me lá na frente, embora eu não seja um nerd, não me entenda mal, eu sou um cdf normal que tenta apenas ficar na média. Eu ás vezes penso demais, vocês devem ter reparado isso, mas é por que eu nunca tive alguém pra conversar ou pra desabafar, ou contar sobre o que aconteceu no meu dia, sou só eu e mim mesmo. Sempre foi. Sempre será:

- Porra, eu já falei pra você abaixar isso. Já viu que horas são? – Ouvi minha madrasta dizer aos berros e fui até o andar de baixo para ver o que estava acontecendo, embora eu já soubesse, provavelmente, meu pai havia chegado bêbado e de madrugada em casa, ele fazia isso umas duas vezes ao mês, desde o dia da morte da minha mãe.

- Estou indo pra casa, mi laide! – disse ele com um sorriso sarcástico estampado no rosto e tentando se equilibrar, cambaleando pros lados vezes ou outras.

- Você bebeu denovo, Robin? – perguntou ela, embora a resposta fosse óbvia devido ao forte cheiro de álcool que se adentrou ao ambiente – Que saber não me responda o que é obvio. Eu só te direi uma coisa, isso não vai ficar assim, não pode, trate de se ajeitar ou então eu farei minhas malas e irei embora, já estou cansada disso! Durante todos esses três anos! Você não muda! Eu realmente não posso mais lidar com isso. Então a decisão é sua, ou ela ou eu. – Ela disse por fim, se referindo a óbvia depressão alcoólica bimensal de meu pai, que claramente, ainda não aceitou a perda da minha mãe.

Então, ela virou de costas e veio em direção a escada, onde eu estava parado, observando tudo atentamente e silenciosamente. Ela estava subindo as escadas e quando chegou à metade se virou para mim, me lançando um olhar furioso e disse:

- ISSO É TUDO CULPA SUA! – e continuo seu caminho até o seu quarto, onde se trancou, batendo a porta com tanta força que era capaz da porta ter saído do seu devido lugar.

Na manhã seguinte, eu acordei bem. Bem aterrorizado e abalado. Aterrorizado com o primeiro dia de aula e abalado com os acontecimentos da noite anterior. O céu estava claro e luminoso, o sol esplandecia por toda a vizinhança, com toda certeza aquele definitivamente não parecia um dia de inverno em Minnesota.

Levantei-me da cama, escovei os dentes, tomei uma ducha, passei cerca de trinta minutos escolhendo qual modelito usar, tomei o café da manhã, arrumei as coisas e fiz tudo isso imaginando em como seria meu primeiro dia de aula no ensino médio.

Várias possibilidades passaram pela minha cabeça, talvez, se eu desse sorte, um atleta popular poderia puxar assunto comigo, ou talvez, uma líder de torcida ou melhor... Um jogador sarado de basquetebol me chamasse pra sair, sei lá. Sim, eu tenho muita imaginação. Sim, eu penso muito. Enfim, acho que já disse isso pra vocês.

Até que sai dos meus devaneios e vi que já estava na hora. Mais que na hora, eu estava atrasado no meu primeiro dia de aula. Então, passei como um vulto pela casa, dizendo: “Tchau pai, Tchau Eve!”, me dirigindo até la fora, ao chegar na garagem, peguei minha bicicleta e pedalei como nunca havia pedalado na vida, graças á deus... Cheguei bem na hora! Ufa!

- Então alunos, eu sei que é o primeiro dia de vocês e que nos primeiros dias nós costumamos pegar leve, mas esses anos as coisas terão de serem um pouco diferentes, um pouco mais puxadas, por isso, precisarei que vocês entreguem uma redação pra mim, apresentando-me uma perspectiva de vida, até o fim do bimestre. Essa redação vai valer metade da nota anual, entenderam? – Disse Mrs. Robbinson, nossa professora de filosofia.

E então o sinal tocou...

- Gentes não se esqueçam do trabalho, é muito importante! – Disse ela para a turma, mas não fora ouvida, pois todos já haviam se levantado de seus devidos lugares e já estavam cruzando a porta de saída, inclusive eu.

Era hora do intervalo, hora do almoço e todos estavam no refeitório do colégio, eu estava sentado numa das mesas do canto, perto da porta, um lugar praticamente invisível, apenas eu e mais três cadeiras vagas. Eu estava observando, observando que cada estereotipo de pessoa se encaixava no seu respectivo grupo.

Os fortões e musculosos, que usavam jaquetas de universidade, sentavam no meio do refeitório, como se fossem os reis.

Logo do lado deles haviam garotas superficiais, com bronzeamento artificial, unhas postiças e que eram extremamente cuidadosas com a aparência. Essas usavam uniforme de torcida e naquela mesa só se falava de garotos e batons, bolsas, roupas, Louis Vuitton, Victoria Secrets, Chanel, enfim... Esses tipos de coisas.

Mais atrás havia o grupo de teatro, pessoas cultas e bem emotivas, dramáticas, que estavam sempre com um roteiro de falas na mão, essas pessoas viviam pela arte. Eu as admiro por fazerem o que amam fazer.

Também havia a galera do rock, pessoas extremamente esquisitas no meu conceito de “normal”, que haviam piercing em tudo quanto é parte do corpo – acredite em tudo quanto é parte MESMO - e que se vestiam muito com as cores preto, vermelho e roxo.

Os nerds eram a minoria ficavam no canto oposto da onde eu estava e viviam jogando xadrez ou dama, se não estiverem fazendo nenhum dos dois, estarão fazendo trabalhos de casas e/ou experiências cientificas.

E por fim, eu. O garoto solitário. O garoto que não se encaixa em nenhum grupo. O estranho, mas de uma hora para outro tudo mudou, de repente, eu não era o único sozinho ali, havia outro garoto solitário, ele havia acabado de entrar no recinto e estava parecendo confuso e perdido, sem saber pra onde ir, onde se sentar. E ele era tão gato, era do tipo bad boy, estava usando uma jaqueta preta e calça skinny jeans, o que só o deixava-o mais sexy, por baixo da jaqueta, era possível ver uma camiseta dos ramones. “Tem bom gosto”, pensei pra mim mesmo.

E de repente meu ar parou, era como se eu oxigênio tivesse sido tirado do meu corpo ao percebe que ele se aproximava. Ele estava vindo eu minha direção, porra, ele vai sentar aqui, o que eu faço? E eu congelei, quando ele se sentou na minha frente e me olhou com aqueles olhos cinzentos, me encarando por baixo da franja que cobria toda sua testa e parte dos olhos.

- Oi. – Ele disse, com um sorriso de quem parecia estar se divertindo com a situação.

Unbroken.Onde histórias criam vida. Descubra agora