Vancouver parece um lugar maravilhoso para se começar uma (outra) vida.
Natalie Jordan é uma corretora de imóveis, recém formada e disposta a colocar sua carreira nas nuvens. Acabara de se mudar para a grande cidade, após uma proposta de emprego que lhe foi oferecida, diga-se de passagem, no momento certo.Aos 23 anos não se acredita que uma pessoa tenha sofrido demais na vida. Os mais experientes dirão que as feridas são capazes de se curarem rapidamente, que a juventude é assim. Mas para Natalie é um pouco mais intenso que isso. Dois anos atrás ficara noiva de seu (agora ex) namorado. O relacionamento durava desde o colegial e ambos acreditavam pertencerem um ao outro. Drew, o então noivo, sempre foi o mais ciumento dos dois. Nat, Como ele a chamava, com o tempo abriu mão de todos os amigos homens e mulheres com quem tinha uma relação próxima, para não causar problemas com ele. Mas a medida que os anos se passavam, sentia-se sufocada, exausta.
Um dia, em um momento de iluminação própria, decidiu que merecia mais.
Chovia forte naquela noite, os ventos soavam como assobios na janela da sala. Natalie chegava em casa depois de um encontro de amigas, em um pub ali perto.
Ainda no hall de entrada, retirava o casaco e botas encharcados, e levava-os ao armário. As luzes estavam escuras e imaginava que Drew já dormia.
Sem fazer barulho, se movia até banheiro para tomar uma ducha quente antes de se deitar.
Ao percorrer metade do corredor, ouve uma voz que parece vir da cozinha, como se houvessem duas pessoas conversando.
A curiosidade a direciona até o cômodo, instantaneamente.
Drew estava lá, e estava só.
Na bancada, uma garrafa vazia de whisky. A TV ligada no jornal noturno, justificava as vozes.
Droga. – pensa.
Sabia que bebida e Drew não combinavam. Ele costumava ter um temperamento forte em relação a tudo, principalmente quando se tratava dela.
– Amor, está tudo bem?
Drew continua com os olhos voltados para o copo.
Ela conhecia aquela feição. Sabia que era pra ter medo. Já tinha na pele marcas de outras experiências que lhe marcaram nesses longos 8 anos.
– Onde você estava? – ele pergunta em voz baixa.
– Com a Rachel, no Seb's.Há alguns meses, Drew de alguma forma havia criado uma história em sua cabeça, que a acusava de traí-lo com seu orientador da universidade. Na época ele a ajudava na apresentação do seu trabalho de conclusão do curso de Arquitetura. A história era obviamente mentira, mas para Drew, sempre foi mais que isso.
Natalie sabia que ele nunca havia superado, e o medo de passar por outra crise de ciúmes, a estremecia.
Houveram outros momentos em que essa cena se repetiu, e sempre acabava da mesma forma. Ela machucada e ele arrependido.- Drew? - disse ela, assustada. – você bebeu isso tudo, sozinho?
Drew salta do banco em um momento de surto.
- O que você fez, Natalie?
Ela sabia que era mais um de seus momentos, pois ele nunca a chamava pelo nome inteiro.
- Do que você está falando?Drew se aproxima devagar, e olha nos olhos dela. A casa estava escura, mas haviam linhas de luzes da noite passando através das frestas da janela. Ele a observa por alguns segundos enquanto ela silenciosamente imagina o que viria a seguir.
E foi o suficiente para Natalie saber que era hora de ir.
Não era a primeira agressão, mas como todas as histórias de abuso domiciliar, no final do dia, os agrados e pedidos de desculpa sempre a faziam renovar as esperanças de que ele poderia mudar.
Não há mudança para esse tipo de homem.
Drew anda em passos pesados em direção à porta, como se houvesse se arrependido do ato que acabara de acontecer.
Natalie levanta-se do chão, chorando como sempre fazia, recentemente com mais frequência. Caminha até o closet, enche uma pequena sacola com as primeiras roupas que encontra, e sai correndo pela porta dos fundos.
Ela não entende como passara por tudo isso, todos esses anos. A ficha finalmente cai, ela não podia mais ficar ali. Não era a vida que sonhara quando era adolescente.
Preciso sair daqui – pensa em um momento de desespero.
Seu destino era incerto. Sabia que ele a procuraria com a família, e ela não queria os envolver nisso.Anda até a rodoviária e fica alguns minutos em pé, em frente ao mapa da cidade, pensando em onde ir, enquanto sua mente não para de relembrar todas as vezes em que foi agredida, de todas as maneiras possíveis, sem nunca ter tido chances de se defender.
Como fui tão estúpida?
Vai até a loja de conveniência, compra um celular descartável barato e disca um número que sempre esteve gravado na sua mente.
- Rose? - foi o que conseguiu falar antes de desabar em lágrimas.
- Natalie? É você?Rose era uma amiga antiga da universidade. Havia abandonado o curso para se dedicar ao teatro, que era a sua verdadeira paixão. Ambas não se viam há alguns anos, mas sempre mantiveram contato através das redes sociais.
Natalie conta rapidamente o que aconteceu e pede que Rose a receba só por esta noite.
- Você é bem vinda para ficar o quanto quiser. Venha!
Natalie desliga o celular, joga no lixo e vai.
Pelos próximos dias, não ouviu falar sobre Drew. Havia feito uma ligação para sua mãe, dois dias depois, para contar-lhe que não voltaria mais para casa, e só. Sua mãe, uma senhora de 50 anos, sabia de sua história desde o princípio e apoiava qualquer decisão que Natalie decidisse tomar para o seu bem.
Ficara na casa de Rose por duas semanas e dois dias, quando recebeu um e-mail tão ensolarado quanto àquela segunda.
Parecia que finalmente alguém lá no céu havia olhado para ela."Senhorita Jordan, venho por este informá-la que seu currículo foi avaliado e aprovado para a vaga integral de Arquiteta junior da J.D. Contamos com a sua presença em nossa sede em Vancouver, na próxima quarta-feira.
Dave Scott"
Aquelas palavras causavam nela uma sensação parecida com as mais belas palavra de amor ditas em Titanic. Natalie não conseguia parar de pular e chorar, enquanto Rose tentava acalma-la, sem sucesso. Não havia sentido tamanha felicidade há anos.
Fizera uma entrevista com um representante da J.D (John and Dave), meses atrás, numa conferência que participou representando sua turma, que acabava de concluir o curso. Dave Scott era o diretor executivo da J.D e havia se empolgado com a apresentação de Natalie sobre a influência das imobiliárias nas vendas da América do norte.
Após a apresentação, ele mesmo foi a cumprimentar e depois de uma conversa breve, pediu seu currículo para avaliar a possibilidade de levá-la para Vancouver, como aprendiz, onde fica a sede de sua empresa.Este dia finalmente havia chegado, e não poderia ser em outro momento. Tudo que Natalie precisava era de um recomeço.
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Quase Por Acaso
عاطفيةEla uma jovem corretora de imóveis, recém formada, mudando-se para a cidade de Vancouver. Ele um empreiteiro de sucesso, com quase o dobro da idade e da atitude. Sozinha e sem conhecer a cidade, ou as pessoas, tem sua vida cruzada com a dele, e e...