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•SETEMBRO •

Segunda-feira, 21

No meio de setembro, o vento do outono se fazia presente entre as árvores secas dos bosques prateados da Irlanda. Os ventos oceânicos traziam consigo diversas nuvens, que, aos poucos, tomaram os céus da ilha. A temperatura era ociosa, e era possível ouvir o cantar dos pássaros que se escondiam do anoitecer, que estava demasiadamente próximo. Era possível ouvir os poucos carros que percorriam as ruas de Galway, e o vento que soprava em direção ao norte do país, levava consigo a maresia.

Longe dali, no condado, os fazendeiros cansados do dia exaustivo se juntavam nos pubs, e as ruas ficavam cada vez mais desérticas. Em pouco tempo, nem o vento se fazia mais presente. A noite seria longa, e possivelmente, chuvosa.

E então, da noite para o dia, o clima amenizou-se. O vento desviou-se para longe dali, trazendo o bálsamo da brisa e a temperatura amena, junto da fragrância da terra úmida e da natureza. Os campos, secos pela estação, acolhiam os rebanhos de ovelhas que tentavam aproveitar algumas folhas verdes que restaram ali.

Entre os bosques, no condado, a mansão Winchester se iluminava quando os primeiros raios de sol apareciam ao amanhecer. Tudo estava imóvel, exceto as gotas de chuva da noite anterior, que escorriam pelas folhas alaranjadas. O sol começava a aquecer cada canto da mansão, e aos poucos, fez cada um dali despertar.

O mancebo, deitado em meio a seus lençóis, se mexeu de um lado para o outro na cama, até resmungar algo inaudível para seu criado, que o acordara com uma bandeja de café, contendo algumas frutas da estação, flores em um pequeno vaso e pedaços de pão Irlandês .

-Bom dia, senhor!- O velho disse, vendo o mais jovem abrir seus olhos verdes como os bosques sombrios na primavera, com pontinhos castanhos como o tronco das árvores, que reluzem os raios de sol. O garoto cobriu a face sonolenta com o cobertor branco, enquanto o criado abria as cortinas, deixando que os raios de sol adentrassem o quarto, incomodando a visão do jovem rapaz.

-Bom dia, Benedith- O rapaz respondeu, levantando com parcimônia. Sentou-se na imensa cama e repousou a bandeja sobre suas pernas, sorrindo frugal para o grisalho. O mais velho saiu dos aposentos de seu senhor, em seguida, e o mais jovem esperou o baque surdo da porta para devorar seu café da manhã.

Terminou de se alimentar, se trocou, e foi até a cozinha, sentando-se perto da grande mesa de pedra, que agora, estava repleta de alimentos frescos colhidos a pouco da horta localizada nos fundos da mansão.

-Como anda a saúde de Benedith, Brígida?- O mancebo perguntou à senhora de longos cabelos grisalhos a sua frente, que preparava algo em uma grande panela de pedra.

-Bom dia, senhor.- Suspirou a mais velha - O prognóstico do médico indicou sérias complicações no seu estado de saúde. Não sabemos até quando ele irá resistir- Disse com pesar, segurando as lágrimas cristalinas, as impedindo de escorrer sobre sua face envelhecida. O mais jovem suspirou, tristonho. Benedith era como seu pai, e era com muito pesar, teve de admitir que, em breve, o senhor grisalho já não estaria mais entre eles.- Como estava o café, afinal?

- Magnífico, como sempre, Brígida!- Exclamou descendo da bancada de mármore e indo para fora da mansão. O sol matutino iluminava as sombras dos cedros, e as lebres corriam livres entre as folhas secas da estação. Lembrara-se de caçar algumas com Benedith há um tempo atrás. Sorriu ao ver os patos enfileirados desfilarem para o lago de águas gélidas, arrepiando-se pela brisa fria que o atingiu.

Cerrou os olhos calmamente, e seus lábios se abriram em um sorriso sem mostrar os dentes, aquele seria um longo e demasiadamente cansativo dia. Iria ver uma pessoa que há muito não via, uma velha amiga de sua mãe, que morava entre os bosques verdes do condado. Adentrou pela enorme porta, voltando diretamente à seus aposentos.

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