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As coisas estavam uma verdadeira bagunça. O quarto fedia à mofo, as cortinas sempre fechadas, os edredons desarrumados, uma caixa de pizza de duas semanas atrás estava jogada de qualquer jeito em um canto aleatório daquele cômodo, diversas caixas de China In Box estavam abertas e caídas sobre a sua escrivaninha onde costumava deixar seu computador. Nada possuía uma ordem naquele local. Incluindo a sua vida.

O cheiro horrível era desagradável, mas não tinha vontade de se levantar para ajeitar aquela bagunça. Estava ocupado demais tentando ajustar-se dentro de si. Seus pensamentos estavam em uma desordem agonizante, como se diversos papéis fossem espalhados por um cômodo gigantesco e diversos ventiladores gigantes estivessem ligados e virados em várias direções, fazendo os papéis voarem sem parar para outros locais.

Sentia-se cansado, extremamente exausto. Por mais que nem houvesse saído de sua cama naquele dia, não tinha forças para querer colocar os pés no chão. Suas olheiras eram profundas, roxas e muito bem aparentes. Por mais que dormisse, nada adiantava. Parecia estar sempre acordado, com a mente ligada no 220.

No canto esquerdo do quarto, virado em sua direção, havia um grande espelho. Costumava ficar ali desde sempre. Quando ia se arrumar para alguma festa, sempre parava em frente à ele e ajeitava seus fios de cabelo, sorrindo para seu reflexo e soltando alguns elogios aleatórios.

E isso já fazia muito tempo.

Ash passou a odiar seu próprio reflexo. Não conseguia mais enxergar a si mesmo nem mesmo naquele espelho. Agora, com uma manta preta cobrindo aquele objeto, sentia-se ainda mais para baixo do que sempre. Nem ao menos conseguia ver sua própria aparência sem sentir vontade de chorar durante horas, quem sabe dias.

Não tinha mais controle sobre nada. Sua vida estava, definitivamente, completamente destruída. E nem ao menos sabia o porquê.

Em algum momento, quando completara seus 18 anos, tudo pareceu ser as mil maravilhas. Possuía uma namorada bonita e gentil, amigos que sempre estiveram lá ao seu lado, o acompanhando nas melhores festas, e uma família incrível.

Aos 20 anos, já na faculdade de direito, decidiu que iria morar sozinho. Comprou um apartamento em outra cidade, nada muito distante, podendo assim visitar seus pais em todos os fins de semana. Seu namoro infelizmente não havia durado por tanto tempo, mas não fora um término ruim. Continuavam amigos, ainda saindo juntos e visitando uns aos outros.

Aos 21, foi quando algumas coisas não deram certo. Sua faculdade passou a lhe incomodar, por muitas vezes fazendo-o refletir se era mesmo aquilo que desejava para o seu futuro. Por um lado, não estava se sentindo agradado com aquilo, mas pelo o outro, não queria ter de decepcionar seus pais.

Aos 22, ainda carregando aquela bagagem de indecisão em suas costas, sentia-se um pouco indisposto e exausto demais para algumas coisas. Passou a parar de visitar seus pais em todos os fins de semana, indo somente uma vez ao mês. Ainda os ligava quase sempre que podia, apenas para não quebrar o contato.

Aos 24, fora a gota d'água. A indecisão misturou-se com um sentimento de vazio em seu peito, sentia-se abandonado até mesmo quando estava cercado de pessoas. Não visitava seus pais já havia 3 meses e raramente tinha tempo para ligações e trocas de mensagens que dissessem como havia sido seus dias.

E essa era a sua vida. Agora, quase na casa dos 30, já com 27 anos, não enxergava mais o sentido em tudo aquilo. Trancou a faculdade já havia 2 anos, cortou o contato com seus amigos e desabou quando soube sobre a descoberta de um câncer maligno que sua mãe havia adquirido, o mesmo que acabou por levá-la à falência em menos de um ano.

Aquele era o momento em que parava e refletia sobre tudo o que já havia lhe acontecido. Aquele era, definitivamente, o momento em que mais precisava de alguém ao seu lado. Mas quem?

Fora então que percebera algo que talvez estivesse acontecendo há tempo demais e somente ele não houvesse descoberto ainda.

Enquanto passava as mãos ásperas sobre seu rosto, apalpava suas olheiras com as pontas de seus dedos e esfregava seus olhos, cansado demais até para chorar e colocar aquele sentimento para fora, percebeu, então, que não estava ali. Ele, Ash, o garoto sonhador e esperançoso de seus 18 anos, não estava ali. Sentia-se como uma casca vazia, apenas. Não conseguia encontrar o seu verdadeiro eu.

E percebeu que nunca teve tempo para si mesmo. Nunca possuiu um momento para conhecer-se, um momento para se cuidar e aproveitar de sua própria companhia. Sempre cercado de pessoas diversas, nunca de fato conseguiu enxergar o que havia dentro de si.

E talvez, só talvez, aquela fosse a chave pela qual tanto procurava. A solução para seus problemas e a calmaria que tanto desejava.

Mas, como encontraria à si mesmo em meio à tantos escombros?

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N/A

Eis que você ressurge das cinzas com um texto completamente aleatório sobre a vida.

Ficou uma porcaria, mas eu gosto de publicar cada coisinha que escrevi, porque é como guardar algo em sua memória. No futuro talvez eu volte aqui e releia isso, então não me importo de deixá-lo como mais um enfeite.

Irei começar a chamar essa "categoria" de enfeites em meu perfil de "broches", porque eu gosto deles.

Mas, enfim. Obrigada caso tenha lido até aqui.

i don't even know myselfOnde histórias criam vida. Descubra agora