Paris era a mesma de sempre naquela noite.
A cidade luz cortava a imensidão negra da noite com sua artificialidade dourada intensa, as lâmpadas que adornavam a famigerada Torre Eiffel superando o brilho das estrelas em intensidade e encanto, os faróis dos carros fluindo pelas ruas seculares como sangue novo por um coração antigo e cheio de histórias para contar. Era uma cidade para os amantes, para a literatura, para suspirar com a arte que parecia estampar cada esquina em seus aspectos mais banais, e também uma cidade para o futuro, para o capitalismo e para o novo, com suas torres de metal que cortavam céus.
Mas nada daquilo impressionava Jo Ha Seul.
Inclinada por sobre o parapeito de ferro forjado, fitando o movimento de carros e pessoas que iluminavam a capital francesa e davam vida à cidade dez andares abaixo de seus pés, Jo Ha Seul sentia o ar fresco noturno jogar seus cabelos negros em todas as direções com um olhar distante e pensativo, sem tomar muita consciência da beleza atemporal que lhe rodeava. As obras de arte arquitetônicas, a atmosfera de romance clássico, o clichê imortal de "cidade do amor" que parecia permear o ar, nada daquilo sequer fazia cócegas no coração estático da garota.
Para Jo Ha Seul, o maior encanto de Paris residia no fato de que ficava bem longe de sua casa.
A sensação de ter se ver livre das amarras de ouro e coleiras de diamante que lhe restringiam o tempo todo em Seul era surreal; naquele instante, no terraço de um hotel barato, os pés descalços contra o piso gelado, sem o peso das jóias, dos cílios postiços e dos olhares atentos, Ha Seul sentia como se estivesse em um lapso de tempo, em uma vida e um corpo diferente. Não era a filha de um dos homens mais ricos e poderosos da Coreia, não era uma boneca viva com um sorriso vazio congelado no rosto enquanto repetia as mesmas saudações, não perfeita ou sequer adequada- era apenas ela, em sua essência mais pura, aproveitando o ar fresco de Paris em Abril, sem obrigações a não ser respirar.
— Ha Seul?
A familiar voz de mel aquecido arrancou a menina de seus pensamentos desconexos. Suspirou ao encontrar Jung Yoo Noh fitando-a, as luzes da cidade jogando reflexos de ouro em seus cabelos castanhos e criando um jogo de sombras digno de um Caravaggio em suas feições esculpidas, os mais suave dos sorrisos lhe retorcendo os lábios cor de rosa. O blazer azul escuro que ele vestia anteriormente se fora, bem como a gravata, os dois primeiros botões de sua camisa abertos e as mangas enroladas até os cotovelos, os cabelos revirados em uma bagunça, uma das mãos carregando uma garrafa de vinho aberta e a outra segurando uma câmera fotográfica, a lente apontada para a garota.
Ha Seul não pode segurar uma risada, momentos depois um clique e um flash intenso disparando.
— Eu fiquei bonita? — questionou ela, observando o garoto se aproximar. Se ela estava se sentindo bem antes, agora a alma dela era calma pura; Yoo Noh, apenas com sua presença, tinha um efeito pacífico curioso sobre os nervos constantemente em ebulição, sua voz, seu toque e seu olhar sempre servindo para confortá-la e fazê-la sentir segura, e também para fazê-la sentir livre.
Jung Yoo Noh, aliás, era a única pessoa que poderia propor as coisas mais irresponsáveis e estúpidas do mundo, com o sorriso mais orgulhoso no rosto, e Ha Seul jogaria todo o seu famoso bom senso pela janela e concordaria em acompanhá-lo no mesmo instante, sem um segundo pensamento.
— Você parece com alguém que fugiu de um jantar chato, apenas com a roupa do corpo, o celular e um cartão de crédito, e que não se arrepende de nada. — disse ele, parando ao lado dela, as covinhas marcadas na bochecha quando o sorriso dele se tornou ainda maior.
— Linda, então.
— Muito mais bonita do que Paris.
Ha Seul revirou os olhos para a resposta melosa, mas provavelmente não conseguia esconder a maneira como se sentia suave e aquecida com as palavras dele. Era quase constrangedor de tão óbvio, mas Yoo Noh a tocava em um nível tão profundo que não havia como disfarçar; cada palavra dele, cada momento que seus olhos se encontravam e cada sorriso puro e celestial que ele dirigia à ela a fazia sentir como se brilhasse um pouco mais forte, como se fosse mais real — aquele menino de ideias inconsequentes e frases clichês enxergava além da calma superficial e das expressões plásticas que Ha Seul vestia em seu dia a dia, e lhe dava em troca muito mais do que atitudes ensaiadas e presentes caros.
Porque Ha Seul estava sempre presa, o tempo todo, e até Yoo Noh, não havia escape; ela sequer percebia que havia uma prisão. Ela se vestia como deveria se vestir, falava como esperavam que ela falasse, andava com quem seus pais lhe diziam para andar e vivia sua vida através de ordens e expectativas alheias, e isso a sufocava e pressionava até a exaustão ou a loucura; em casa, ela estava sempre ansiosa, sempre preocupada e muito raramente satisfeita, quem dirá contente— mas há pouco mais de três meses, um menino de beleza estarrecedora e personalidade caótica entrou em sua vida como um sopro de ar fresco em um dia sufocante de verão, e ele a fazia ver e sentir um mundo com cores que ela sequer imaginava que existiam.
E, que a verdade fosse dita, Jo Ha Seul também tinha seu efeito sobre Jung Yoo Noh.
Casualmente, ele ofereceu a garrafa de vinho para ela, que bebeu direto do gargalo, um gole grande e pouquíssimo elegante, o sabor e a ardência do álcool barato rolando suavemente em sua língua.
— Quando eu acordei essa manhã, eu nunca imaginaria que estaria em Paris bebendo vinho barato com você. — murmurou Ha Seul, os olhos perdidos na imensidão negra do céu. — Meus pais vão me matar, eu sou uma vergonha. Eu vou ser a causa da desgraça e queda da família Jo.
Yoo Noh soltou uma risada leve com o exagero da garota, e, com uma casualidade surpreendente, ele segurou uma das mãos dela e levou-a aos seus lábios, deixando um beijinho delicado lá.
— Se nós cairmos, vamos cair juntos. — foi a vez de Ha Seul rir; em casa, ela nunca ria, porque não era apropriado para uma dama, mas Yoo Noh poderia simplesmente existir e conseguia arrancar dela mais risadas do que ela já havia dado em toda a sua vida. — Vamos ser lendas, e irão escrever livros sobre nós.
— Sim. — concordou ela. — Vamos mostrar que somos melhores do que eles pensam.
Em resposta, ela apenas apertou de leve a mão dele, deixando sua cabeça repousar contra o ombro dele enquanto fitavam a cidade em silêncio, uma declaração calada e única de não havia outro lugar ou outra pessoa no mundo melhor para ela do que Paris e Jung Yoo Noh; e, mesmo que houvesse, ela não queria.
Ha Seul era ela mesma naquela noite.
{ ♥ }
hey guyss, nossa, faz séculos que eu não posto nada, né? bom, essa é mais uma das 7468464 oneshots que eu tenho escritas, e eu postei mais para manter uma certa atividade no perfil do que para mostrar o meu trabalho (que, sinceramente, não está dos melhores aqui). Espero que eu tenha conseguido matar um pouquinho a minha ausência com um loona x nct bem fofinho (e muitos outros estão por vir, mas shhh).
qual couple loona x nct vocês acham que ficaria muito bonitinho?
enfim, foi isso.
beijinhos <3
YOU ARE READING
If we go down❞⋞ jyn + jhs
Fanfictionse nós cairmos, cairemos juntos. [loona x nct][01/??]