es-ta-tís-ti-ca
eu vou ser
estatística
eu já sou
es-ta-tís-ti-ca
dandara
matheusa
joão donati
ágatha lios
thadeu nascimento
luana barbosa
adailton ramos
kaique augusto
alemax machado
alessandra alves
são apenas nomes
números
porcentagens
lâmpadas fluorescentes
bilhetes de ódio encontrados em bocas mortas.
assassinadas.
eu posso não estar na lista
mas um pedaço de mim sim
porque eu não estava com eles
eu não senti as mesmas dores
mas uma parte de mim morreu
e essa parte se chama futuro
e continua morrendo
porque a lista de nomes cresce cada vez mais
e eu não posso me sentir seguro
porque meu nome também é só mais um nome
assim como os outros.
porque nós não somos mais jogados em celas
mas nosso futuro agora é roubado de outra forma
velada. silenciosa.
as vezes gritada. mas ninguém quer ouvir.
porque nós não existimos, afinal
somos a curva errada
e é por isso
que não posso dizer quem eu vou ser
porque tudo o que eu quero
é não ser estatística
não quero pensar em oscar wilde e saber como ele se sentiu
sozinho, numa cela
condenado simplesmente por existir
alan turing
felipa de souza
brandon teena
...
eu poderia começar outra lista
sem fim
es-ta-tís-ti-ca
nós não passamos disso.
nós.
eu gostaria de ser qualquer bom exemplo de moral e bons costumes
mas a verdade é que não nasci pra isso.
e que eu seja o mal exemplo
mas que eu seja livre
e que eu seja estatística
porque é de estatísticas que as revoluções começam
porque a história de toda a sociedade
até hoje
é a história dos revoltados.
dos imorais.
dos errados.
das estatísticas.
dos condenados ao inferno.
e o céu nunca me pareceu realmente um bom lugar.
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Alma infectada
PoetryQuem eu sou? Quem eu quero ser? Quem eu vou ser? Eu nunca sou só eu. Eu sou uma fusão medíocre e detestável de tudo o que eu gosto. Eu sou nós. Eu sou todas aquelas pessoas que minha família olha torto na rua. Eu sou estatística. ͼ Três poemas sobre...