A música

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 O dia amanheceu ainda mais cinzento do que costuma ser. Aquela música infernal ecoando dentro da minha mente, vívida, como se fosse real. Levantei-me pesando uma tonelada e fui para o lago. A neblina e a árvore de poucas folhas contribuíram para o aspecto lúgubre daquela manhã. A xícara em minhas mãos perdeu o cheiro forte de café quando deixei-a cair. A música era real. Ouvi-a mais alta a cada passo rumo às águas. Vinha da árvore no meio do lago, ela me chamava. Nadei rápido, molhando meu roupão de seda. O frio abraçou meu corpo, agulhas pontiagudas penetraram minha pele. Não pude conter aquela sensação. Foi mais forte que eu. Subi na árvore. Ávida para ouvir aquela melodia mais de perto. Seus sons transformaram-se em sussurros, comecei a chorar. As lágrimas levaram-me à cegueira, não dos olhos, mas da alma. Retirei a fita que amarrava meu roupão e prendi-a num galho torto da árvore. Os sussurros viraram gritos. Altos. Agudos. Trêmula, enrolei a fita no meu pescoço. Finalmente a música cessou.  

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