o dia em que a morte se apaixonou pela vida

221 42 34
                                    

Com suas asas negras, compridas e pesadas a Morte vagava pela grama e pelas flores, pelos animais e todo ser que vivia naquele lindo jardim. Neste jardim viviam anjos, mas a Morte nunca se aproximou, apenas observou de longe, tão ocupada com sua tarefa de retirar a vida, nunca teve tempo para apreciá-la. O Sol lançava raios de sol que atravessavam as árvores da floresta, onde um pequeno passarinho usufruía de seus últimos momentos deitado, antes da Morte encostar sua mão sobre ele em um ato de conforto e misericórdia, o mesmo aconteceu com um lobo e uma lebre, que foram levados por ela. Continuando seu dia, a Morte voou pela floresta para terminar seu trabalho, quando viu os anjos, longe de onde geralmente ficavam, e sempre juntos. Um anjo em especial chamou sua atenção, ele estava de costa e suas asas eram tão douradas quanto o Sol que as iluminava, encantada a Morte se aproximou dele e ergueu a mão para tocá-lo, mas travou no segundo seguinte, sabendo o que aconteceria se o fizesse. De repente, todos os outros anjos voaram para longe, com medo da Morte, mas aquele em especial ficou e se virou para encará-la. Os olhos do anjo eram verdes e sua pele branca bronzeada tinha sardas pelo rosto, nenhuma das criaturas se comunicou, apenas se encararam, e o logo o anjo também voou para longe.

Encarando suas mãos, e com um sentimento ainda desconhecido, a Morte seguiu o anjo que voava graciosamente pelas árvores, parando em um campo aberto onde seus irmãos se encontravam. A criatura negra parou antes de sair da mata e encarou de longe o anjo, que retribuiu o olhar. Tentando se aproximar, uma das mãos da Morte encostou em uma belíssima flor vermelha que dava vida ao campo, mas que agora encontrava-se escura e seca pelo toque repentino. Escondendo suas mãos junto ao peito e com um olhar triste, deu outra encarada no anjo, que já havia ido com os outros. Triste e envergonhada, a Morte se escondeu deles até o sol se pôr, e voltou quando a lua iluminava o campo onde as criaturas celestiais dormiam.
Com movimentos nada grosseiros, a Morte se aproximou do lindo anjo que dormia e examinou cada detalhe de seu rosto, ainda triste, ela se deitou perto dele e zelou seu sono.

Com o passar do tempo, o anjo se acostumou com a presença daquela criatura obscura, que sempre estava lá quando ele voava junto de seus irmãos. Ou até mesmo quando ele saciava sua sede num riacho, onde tinha rochas grandes e a Morte se sentava, o observando de perto, desviando o olhar sempre que era encarada. Ela também estava lá quando o anjo dormia na floresta, e a chuva vinha, mas ele não sentia os gelados pingos pois as grandes e bonitas asas negras da Morte o protegiam. Quando a lua cheia ficava bonita no topo da montanha onde o anjo a observava, ela estava lá, o admirando na noite cheia de vaga-lumes.
No inverno, quando a neve caia, a Morte o acompanhava lado a lado, deixando suas pegadas na neve fofa, ambos sendo observados pelos outros anjos do campo.

Então o inverno passou, o tempo passou, e de repente não havia mais ninguém com eles, apenas as duas criaturas mais belas da floresta que eram tão opostas que se atraíram. Um tão cheio de luz, outro cheio de escuridão. E quando as belas asas douradas do anjo se fecharam e seus pés encostaram no chão, a Morte soube o que teria de ser feito. O anjo aproximou sua mão do corpo do outro, mas a criatura se afastou, o olhando com tristeza, negando o destino. Mas já estava na hora, nada dura para sempre, nem o anjo durava. Então a mão do anjo encostou a mão da Morte, e entrelaçou forte seus dedos como se sua vida toda dependesse disso, e de fato dependia.

O olhar de agradecimento do anjo foi direto para os olhos da Morte, que soltou sua mão e o abraçou com toda sua força, sentindo as macias penas douradas pela primeira vez em tanto tempo. Os olhos do anjo ainda piscaram uma última vez antes de fecharem para sempre, seu corpo caiu no colo da Morte que encarava os braços com tristeza. A noite já reinava quando a cabeça do anjo foi colocada na grama macia e suas asas foram acariciadas uma última vez, antes da Morte se levantar e voltar para o seu tão difícil trabalho.

a vida da morte ;; destiel Onde histórias criam vida. Descubra agora