O Dia Em Que Tudo mudou

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Nem sei por onde começar! Foi tudo muito rápido! 

Num momento tudo estava bem, um dia bonito de sol com muito calor e no momento seguinte esse dia transformou-se numa total escuridão cheia de chamas por todo o lado.

Este foi um dia que devia ser para esquecer, mas... é impossível esquecer quando tudo o que nos vem á memoria, quando saímos á rua, são as bolas de fogo a voarem pelo céu em direção ás nossas casas, fumo por todo o lado, fagulhas a iluminarem a escuridão, pessoas a gritarem, a correrem e a chorarem... 

No dia 15 de Outubro, um domingo, saí com a minha família e fomos a uma festa. Tudo estava bem, apesar do céu estar um pouco escuro devido aos incêndios do resto do país (pelo menos foi o que pensámos) mas todos ficaram impressionados com a paisagem que o azul do céu, o amarelo alaranjado do sol e o cinzento do fumo proporcionavam.

Chegamos a casa dos meus avós já quase ás 8 da noite e saímos eram umas 9 horas. Á saída ouvia-se um ruído parecido ao som do mar, mas ninguém ligou e fomos para casa. 

Quando cheguei comecei a falar com o meu melhor amigo do fogo se estar a aproximar das casas. De repente ficamos sem luz e vou a janela, quando olho vejo um enorme clarão vermelho do lado da casa dele e da casa dos meus avós. quando volto a olhar para o telemóvel tenho uma mensagem dele a dizer " O fogo está a chegar. Está tudo a trabalhar. Vou ajudar, está muito grave, xau."

Depois desta mensagem, vi o mundo a desmoronar-se a minha volta, não sabia o que fazer, a minha mãe viu a minha reação á mensagem e perguntou o que se passava, quase nao conseguia falar disse-lhe e ela mandou-me manter a calma, mas não consegui e comecei a entrar em panico e a chorar. Todos os meus amigos e família estavam "dentro do fogo", foi o sentimento mais horrível que senti.

Devido á falta de rede, quase que era impossível manter o contacto com os meus amigos e família mas ainda assim conseguimos por poucos segundos ter contacto uns com os outros. O meu melhor amigo em uma chamada disse " vamos todos morrer isto esta horrível", cada vez eu entrava mais em pânico.

Foi então que, se começa a ver e ouvir um vento muito forte carregado de de bolas de fogo, fagulhas,cinza, fumo... Era impossível ver se alguma coisa. os meus pais começaram a regar tudo o que puderam ao redor da casa . EU? Apenas entrei em pânico, sem saber o que fazer,completamente paralisada a observar aquela cena de terror que estava a diante dos meus olhos e que nunca pensei que fosse acontecer na nossa terra. Senti e ainda me sinto a pessoa mais inútil de todas.

Volto a olhar para o grande clarao que vinha do lado das casas dos meus amigos e dos meus avós, vejo uma bola de fogo a cair na terra á frente de minha casa e começou a alastrar o fogo por toda a terra como um rastilho de pólvora ate uns pinheiros e começou tudo a arder.

Todas as pessoas começaram a gritar e a proteçao civil começou a evacuar idosos e crianças.
Já não se conseguia ver nada por causa do fumo e a minha mãe pediu me para colocar 2 cobertores, a mala da minha irmã, com apenas 1 ano, no carro.
A casa encheu se de fumo, a minha irmã estava a dormir, por isso a minha mãe resolveu sair dali e ir para o ponto de evacuação.
O meu pai? Bem...o meu pai ficou com os vizinhos a tentarem combater o fogo perto das casas.
Quando chegamos ao ponto de evacuação encontrei todos os meus amigos, senti um alivio enorme.
Mas quando encontrei o meu melhor amigo vi que ele não era o mesmo, estava fora de si, não sabia nada dos pais que tinham ficado a apagar o fogo junto as  casas. Senti-me tão mal por vê-lo assim e não conseguir fazer nada nem sequer reagi, paralizei, mas... Não foi por mal, e espero que ele saiba disso. Porque não fui uma boa amiga só via as coisas a passarem á frente dos meus olhos e simplesmente chorava e não reagia.
Eram 5 da manhã, quando o meu pai chegou e voltamos para casa, quando chegamos ainda estava tudo a arder e mais uma vez, entrei em pânico. Então a minha mãe deixou o meu pai e voltamos á associação, mas ficamos dentro do carro, para tentar dormir mas não conseguimos.
Às 7 da manhã o meu pai liga para voltarmos para casa, pois já estava tudo calmo e não havia problema.
No caminho para casa e só pensava que quando chegasse não tinha casa, mas graças a Deus estava tudo bem.
A minha mãe foi tomar banho para ir trabalhar às 8 horas, e foi levar me a casa da minha avó, onde também tinha ardido mas felizmente estava toda a gente bem.
Esta foi a minha primeira direta e não podia ter sido a pior.
Desde esse dia ninguém é o mesmo, talvez tenhamos aprendido alguma coisa ou até crescemos mesmo. Mas não era preciso este terror acontecer para que todos crescermos, porque também nos traumatizou muito. Nunca tinha chorado tanto na minha vida ate chegar ao ponto de não ter mais lagrimas para chorar.
Voltamos às aulas no dia 17. Fomos e viemos de autocarro, passamos pelo caminho do costume mas com a diferença que o que era verde da cor da vida e da felicidade passou a ser preto da cor da morte e da tristeza. O cheiro do fumo passou a ser o cheiro natural do que antes cheirava a eucalipto e Pinheiro. Tudo passou de feliz a triste. Durante muito tempo foi difícil passar pelo que estava ardido. Mas hoje já se tornou uma rotina, a paisagem, o cheiro a fumo, a garganta seca e a tristeza.
Agora só queria acabar com um grande OBRIGADA para todas as pessoas que nos acolheram e ajudaram na associação. OBRIGADA a todos os meus colegas de turma que estiveram toda a noite em contato connosco e que no dia seguinte foram á escola. OBRIGADA a todos os meus amigos que me apoiaram quando cheguei á associação. OBRIGADA á minha família que se disponibilizou a vir buscar-me e á minha irmã. O MAIOR OBRIGADA para os meus pais que cuidaram toda a noite de mim.
OBRIGADA aos bombeiro que fizeram o que poderam. OBRIGADA a todos por todas as ajudas. Mas principalmente um OBRIGADA a Deus que apesar de tudo salvou as nossas casas do fogo.
UM GRANDE OBRIGADA!!









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⏰ Last updated: May 24, 2018 ⏰

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Um Dia De TerrorWhere stories live. Discover now