Minha rotina é comum, acordar pela manhã, escovar meus dentes, pentear meus cabelos, trocar de roupa, tomar café da manhã, tudo que uma pessoa "normal" faz.
Infelizmente hoje terei que sair, meu leite acabou e não tenho ninguém para ir comprar para mim. Minha mudez, me proporcionou uma crise do pânico severa, tanto que, não consigo olhar para fora da janela do meu apartamento sem que o medo de cair me faça dar dez passos para trás, com cuidado, pois eu não iria querer tropeçar e quebrar acidentalmente um osso. Me olho no espelho, tudo está em ordem, minha aparência aceitável para os padrões que a sociedade impõe para as mulheres, meu fone de ouvido posicionado e ligado a meu celular com uma música bem baixa, para que eu consiga pelo menos ouvir e ver, é uma das desculpas que eu arrumo para que as pessoas não falem comigo, acredite ou não, eu não sou completamente excluída.
Pego as chaves do meu carro, tenho medo de andar com ele, mas andar de ônibus é pior ainda, tem o risco de eu ser assaltada, de eu ser estrupada, de eu passar mal no meio da rua e ninguém me ajudar, de eu ser atropelada, fora que o motorista pode estar bêbado e bater em um caminhão, ou outro ônibus. Tudo pode acontecer, e isso me dá medo.
Entro no meu confortável carro econômico e incrivelmente seguro, coloco os cintos e verifico se não tem a possibilidade de que ele solte em um acidente provável. Ajeito os espelhos e antes de sair da enorme garagem do meu apartamento, suspiro cheia de medo me perguntando várias e várias vezes o por que de ter saído de casa.
As pessoas costumam reclamar comigo pela velocidade que costumo dirigir, o que fez com que eu colocasse uma placa na parte de trás do meu carro, avisando a todos os meus problemas. Isso me deixa muito desconfortável, então sempre que chego a algum lugar, retiro o recado e guardo no porta malas, por que eu não iria querer fazer todo o meu ritual de travar a porta e conferir três vezes se ela realmente está trancada.
No supermercado sempre levo uma calculadora segura, para que eu possa calcular meus gastos e não passar vergonha na hora de passar no caixa, mesmo sabendo que eu tenho um bom dinheiro e que posso comprar quatro vezes aquilo.
Ao pagar meu leite e algumas verduras orgânicas, pois eu não estou a fim de pegar uma intoxicação alimentar por comer veneno acidentalmente e não ter ninguém lá para me socorrer, e se conseguir chegar a um hospital próximo, não vou conseguir explicar o que aconteceu.
Com a placa novamente no carro dirijo até meu apartamento, torcendo para alguém não vir falar comigo.
Cumprimento o porteiro com uma leve inclinada na cabeça e um sorriso.
Agora é hora de enfrentar mais um dos meus desafios, o elevador, um dos milhares de motivos que a princípio me causou medo e fez eu pensar várias e várias vezes sobre a possibilidade de morar sozinha, se ele parar eu não vou poder avisar a ninguém o que aconteceu, e ficarei esperando até que alguém avise que o elevador parou, isso se o cabo não arrebentar e não consegui conseguir sair viva daquele lugar apertado.
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Não fale comigo
Non-FictionAs pessoas que não me conhecem acham que eu sou mau educada, até insensível quando, por alguma razão, elas vem pedir conselhos ou desabafar comigo e eu não respondo. O fato é que as pessoas não fazem ideia do que eu passo. Morar em Nova York é difíc...