Capítulo Único

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Fic feita para o desafio #inkdisney do Inkspired!

Música tema: Mother knows best (sua mãe sabe mais) do filme Enrolados da Disney


Quando Shino nasceu, teve festa. A família Aburame era discreta e silenciosa, mas, depois de anos de tentativas frustradas de uma gravidez que conseguisse ir até o final, seu nascimento trouxe não só felicidade, mas alívio, paz e realização. Talvez isso justificasse a superproteção que os pais logo lhe deram, a educação rígida, o contato seleto que lhe permitiam com as pessoas da pequena vila, o medo da mãe toda vez que o pequeno e precioso filho sugeria algo que feria a frágil bolha onde o tinha colocado. E digo frágil porque, apesar de toda a preocupação que sempre teve ao protegê-lo, quando planejou o educar e ensinar tudo o que sabia ela havia se esquecido de que livros despertavam a curiosidade e que o mundo desconhecido pelo filho logo o seduziria.

Em silêncio, dentro do vagão do trem que o levaria até a cidade mais próxima onde poderia pegar seu voo para a capital, Shino ainda podia ouvir as palavras da mãe em sua mente:

Sua mãe sabe mais, ouça o que eu digo, é um mundo assustador!

Assustador? E por que seria? Assustador para ele era manter-se alienado do mundo como todos naquela pequena cidade do interior faziam! Certo, amava a criação de abelhas que sua família possuía, tinha aprendido o ofício e o fazia com gosto, cuidado e carinho, mas queria mais, muito mais, queria tudo o que o mundo pudesse lhe oferecer! Era ambicioso, os livros que enchiam suas prateleiras abriram sua mente para futuros magníficos, para lugares que nunca tinha pensado em ir e que depois se viu pesquisando a fundo na internet. Queria o mundo, e não havia mãos que pudessem impedi-lo de dar o primeiro passo. Nem mãos, nem choro, nem ameaças, nem a promessa de que seria deserdado.

A mãe não fazia por mal, entendia; ainda que se recentisse, sabia sim que a mãe só não conseguia ainda vê-lo longe de casa, de seus cuidados. Mas ele já tinha vinte e dois anos! Quantas oportunidades já não havia perdido? Quantos sonhos já não havia enterrado pela mãe e seus medos? A avó paterna o compreendia, e era só graças a ela que ele possuía dinheiro para a viagem e um estágio num centro de pesquisas biológicas.

Estava ansioso, embora quem o visse não pudesse dizer nada sobre sua expressão. Os óculos escuros e a gola alta escondiam-lhe o rosto, e ele mantinha-se observando a paisagem; o modo como ela aos poucos mudava o encantava, como se reforçasse que a escolha feita era a certa, a única que lhe cabia.

Nunca tinha entrado em um avião em toda a sua vida, nunca nem ao menos tinha pisado num aeroporto! A quantidade de pessoas que corriam, as vozes altas e os atendentes anunciando os voos, o caos, até mesmo isso lhe era novo. Sentia-se deslocado, mas não era angústia que tal constatação lhe trazia, era curiosidade, vontade de entender aquele mundo de que tinha sido mantido à parte por tanto tempo. Lembrava-se do assombro da mãe quando citou o avião, as passagens já compradas e o comprovante impresso em suas mãos que ela arrancou com desespero. Para ela, avião era:

... cheio de perigos, acredite, por favor!

Afivelou o cinto ao se sentar. O comissário se aproximou para pedir que deixasse a mala de mão nos compartimentos adequados sobre os assentos, e Shino concordou, fingindo não ter olhado ao redor para ver como as outras pessoas agiam para então as imitar. Guardou a mala, sentou-se, leu mais de uma vez as instruções de voo, as recomendações, ficou atento a cada detalhe. Seu coração batia forte, seu corpo formigava, as borboletas no estômago pareciam acordar de um longo sono e, bem, elas choraram um pouco na decolagem enquanto ele se agarrava, discretamente, ao apoio do assento e fechava os olhos.

Os fones no seu ouvido reproduziam sons da natureza, aquilo que sempre lhe tinha acalmado. O canto dos pássaros e do bater das asas eram coisas que lhe traziam boas lembranças; em sua mente, conseguia ver o céu azul sem muito esforço, as nuvens movendo-se com tanta preguiça que o faziam sorrir enquanto cuidava das abelhas, a grama verde brilhava, e o cheiro da terra úmida logo após a chuva era quase um calmante natural que, naquele avião, Shino esforçava-se para buscar na memória.

Quando o ninho já não satisfazOnde histórias criam vida. Descubra agora