CAPÍTILO 01 - Erick Ferraz

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Erick acordou cedo e sem muitas expectativas de um dia melhor que o anterior foi para a cozinha preparar o café, a casa, com a varanda tomada pela luz que refletia no teto projetada de forma indireta pelo sol no piso, tinha apenas a cadelinha Ritinha ainda preguiçosa como única habitante, além dele, claro.

A cozinha estava uma verdadeira bagunça, quase um cenário de guerra, não muito diferente do quarto, novamente uma transa sem muitas pretensões, mais um cara que Erick pegou no aplicativo Grindr, ultimamente a vida se seguia assim, sem muitas novidades e sem nenhum, definitivamente, amor para chamar de seu. Novamente tudo ficava como antes, gavetas vazias, cabides sem as roupas de Caio que decidiu, do nada, colocar um fim na relação de cinco anos.

— Caio, sinto sua falta — disse para si mesmo enquanto servia-se do café forte que acabara de coar e caminhou para a varanda que possuía uma vista para a rua de traz de seu apartamento no quarto andar.

Caio era o último namorado de Erick em anos, decidiu que não queria saber de alguém tão cedo, mas sabemos como são essas promessas, não tinha bem quatro meses e já estava se sentindo solitário. Mandava mensagens insistentes para o Ex na esperança que mudasse de ideia e voltasse atrás da decisão, apenas recebia a indiferença como resposta ou uma mensagem breve e curta no WhatsApp;

"Qual seu problema, Erick, já conversamos sobre isso. Não tem mais "nós dois". Acabou, siga sua vida, desejo que seja feliz, não te amo mais. Você me força a dizer o que não quero, apesar de já o saber. Se cuida aí!"

Bebericou o café sentado na espreguiçadeira de bambu, Ritinha deitada ao lado, com as patas dianteiras esticadas olhava com os pelos tapando um pouco de seus olhos.

— Somos só nós dois novamente, minha querida — a Yorkshire apenas levantou uma das orelhinhas atenta e fechou-os incomodada pela luz do sol. — Estou mesmo sozinho, até você. — disse num meio sorriso recompensando a pequena cadelinha com um cafuné na cabeça.

Jogou o corpo para traz e pensava o que havia feito de errado para terminar assim novamente. Fazia pouco mais de 7 anos que se mudara para Belo Horizonte, a cidade lhe dava várias opções de lugares maravilhosos, de baladas de fazer perder o juízo. Mas em uma dessas baladas, sua primeira na cidade nova, conheceu Caio. Paixão à primeira vista? Bem não podemos dizer bem que foi isso que aconteceu.

— Ah, maldito Caio... — tentou afastar os pensamentos que lhe vinham na cabeça, em vão. — Vou te esquecer Caio.

Passava pouco mais das nove horas, Belo Horizonte é uma cidade quente, sempre desejara viver ali, a saída de casa foi conturbada. Os pais protetores não queriam que mudasse, mas sentia que precisava se libertar, precisava ser quem realmente era, estava cansado de ser algo artificial, fingir que era macho, pegador. Constantes conflitos consigo mesmo, poucos sabem o que é viver dentro de uma casca que o interior é muito maior, sentia-se como se algo o apertasse, o sufocasse. Assim como uma lagarta aprisionada em um casulo. Andando no quintal da casa dos pais em certa tarde, observando as Dálias amarelas no pequeno jardim, notou que um casulo estava velho e seco, de curiosidade o abriu, dentro uma borboleta formada, mas morta. A partir daquele dia disse para si mesmo que a pequena Barbacena não havia sido feita para ele, não queria terminar como a borboleta morta em sua própria construção.

Desde pequeno Erick sentia que era diferente das outras crianças, o corpo franzino, a vista fraca lhe obrigava a usar óculos de lentes grossas. Sofria bullying, pesadelo de quase toda criança veada. Sim. Sempre entendera que era veado. Assim, com o peso da palavra sobre seus ombros todos os dias na escola. Já estava com vinte anos, prestou vestibular para a UFMG em segredo, naquele ano devorou todos os livros, pouco saiu com os amigos e a recompensa veio em janeiro. Havia passado para cursar Arquitetura e Urbanismo em uma das melhores instituições do país, mas nem era isso que lhe importava. O fato de sair de casa era o que mais lhe agradava. Viver longe do pai autoritário e machista e da mãe, adorável, mas completamente submissa. Como seria se descobrissem que era gay, que gostava de macho? Que gostava de pau? Naquela época apenas de pensar nessa possibilidade um arrepio lhe percorria pela coluna. De certo levaria uma surra, seria colocado para fora de casa, ou quem sabe coisa muito pior...

Ali estava ele, sete anos depois, na varanda de seu apartamento financiado com o esforço de seu trabalho no grupo Arquitetus Future. Derrotado por um sentimento que o consumia havia semanas.

— Caio, chega, hoje me liberto — dizia consigo para se convencer que não valia a pena lutar por quem acreditava ser o amor de sua vida. — Chega! — sibilou quase inaudível acariciando o pelo de Ritinha e dando mais uma golada no café que estava mais frio que quente pelo passar do tempo.

*****

Espero que tenham gostado de conhecer Erick Ferraz. Um rapaz como eu, como você e como tantos outros milhares. Seus medos, seus sonhos, seus amores e suas decepções estarão aqui como um desabafo. Deixe sua estrelinha, convide seus amigos e venha!

Vizinho Safado e muito mais que um Romance, é o diário cru da realidade de muitos de nós. Apenas venha!

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Abraços

J. C. Farrid

VIZINHO SAFADOOnde histórias criam vida. Descubra agora