Será que ela vai gostar?
- Julion? Julion!
- Ah! Oi! O que foi?
- Você que tá voando aí! Anda logo e me ajuda com isso. - Ela aponta para o seu dever de casa.
Alguns minutos depois
- Então você soma os quadrados dos catetos e tira a raiz quadrada, okay?
- Ah! Agora eu entendi, obrigadinha! Se quiser posso até te ajudar com sua namorada.
- Ma- mas do que você... tá falando???
- Você ficou a tarde inteira fazendo um monte de rabiscos em papéis coloridos, coisa que você não usa. Daí eu peguei um - já que você não estava no nosso mundo mesmo - e li sua tentativa de expor seus sentimentos pra Casey. E devo falar que fiquei impressionada! "E por fim, lembra-te que estarei aqui te esperando... para terminarmos aquilo".
Julion fica corado:
- Co - com - coooomo você pode fazer isso! Era pessoal demais pra alguém além dela ler!
Eles se olham por mais um tempo enquanto ela se aproxima lentamente e fala em seu ouvido:
- Posso fazê-lo ser bem mais homem, maninho.
- Ihhhhhhhhhh, não, não, não, não! Eu consigo fazer isso sozinho! Muito obrigado e tchau!
Duas horas depois;
Mais que merda que tá acontecendo? Eu já não consigo mais escrever como antigamente... será que estou com algum bloqueio por excesso de trabalho? Aff, a vida de escritor é dureza mesmo... e pensar que só comecei isso há dois anos e já me considero um "escritor". Talvez... não, só dessa vez eu pedirei ajuda dela, o resto eu tenho que fazer sozinho! Se não posso escrever uma carta para minha futura esposa, como poderia escrever um livro? Enfim, vamos nessa!
- Meli-onee-chan!!!
- Finalmente seu cabeça oca! Pronto. Estou aqui.
- Preciso da sua ajuda.
- Eu sei, vamos acabar com isso!
- Er, na verdade, precisamos começar "isso".
Horas a fio, a noite já estava até mesmo aconchegante após uma boa chuva de inverno. Manaus não era lá a cidade mais confortável do mundo para se dormir - considerando o calor - e eu estava cansado, porém satisfeito. Quem diria que uma garotinha de 13 anos poderia me ajudar a escrever a melhor carta de amor que eu já vi? Hehe, agora sim posso dormir tranquilo.
- Boa noite Meli. Abraça-a fortemente como apenas um irmão mais velho poderia fazer, quase como uma despedida.
- Eu sei que você pretende se mudar Julion.
- Desde quando!?
- Faz três meses, vi você e a mamãe discutindo sobre isso. Você já tem 19 anos e está começando a fazer seu nome como escritor. Também sei - ainda mais agora - o quanto ama a Casey.
Ele permanece em silêncio:
- Só me promete uma coisa.
- O quê?
- Vem me visitar?
- Com que frequência?
- O tempo todo!
Ambos caem na gargalhada. Meli já estava com muito sono assim como seu irmão e por fim, decidem dormir. Cada um em seu próprio quarto, cada um em seu próprio mundo, o mundo da imaginação que só as crianças e pessoas que não deixaram a infância fugir de si compreendem. Julion estava feliz, finalmente poderia dizer que cresceu e se tornou o homem que um dia seu pai lhe ensinou a ser, pai esse que já não estava mais entre a família.
- Obrigado por tudo. Benção, pai.