Eles estavam perto.
A moça e o rapaz estavam próximos.
Abraçados.
Ele tinha os braços ao redor da cintura dela, e a moça tinha os seus ao redor de seus ombros.
Os dois se olhavam e riam.
O culto havia acabado há pouco tempo e os dois não conseguiam se desgrudar.
Não tinha nada de ilícito no ato deles.
Pareciam apenas duas crianças felizes por estarem juntas.
O rapaz a apertou um pouco mais perto, respirando fundo.
Ele não sabia dizer quando ela tinha se tornado tão importante.
Mas havia, e agora ele não conseguia abrir mão.
A moça estava o olhando nos olhos, e o rapaz não sabia como fugir daquele olhar. Era intenso e revelava tudo o que ela sentia.
Ele torcia pra que o seu não revelasse como ele se sentia bobo perto dela.
Como se sentia pouco para aquela mulher tão linda que insistia em olhá-lo como se ele fosse o começo e o fim de tudo.
As estrelas e a lua iluminavam os dois, bem como as luzes e as conversas na igreja ali perto.
Havia um grande movimento de pessoas ao redor deles, mas era como se não existisse nada, nem ninguém para eles.
A moça sorriu, de repente, um sorriso tímido que fez o coração do rapaz bater mais forte.
Verdade seja dita, o coração dele não estava funcionando muito bem com aquela proximidade deles. Era como se a cada batida este quisesse estar mais perto, até que ambos fossem um só.
Então a moça aproximou a boca do ouvido do rapaz, o que piorou um pouco mais as batidas descompassadas do seu coração.
- Feche os olhos... Ela murmurou
A voz tão baixa, tão íntima.
Realmente, o mundo pareceu ter parado, e só eles existiam.
- Por que? O rapaz sussurrou de volta, a bochecha próxima a dela.
A menina riu.
- Só fecha! Não vou abusar de você... Prometo!
Ele riu, balançando a cabeça, mas obedeceu.
Fechou lentamente os olhos.
E então as mãos da menina começaram a explorar o seu rosto.
Ela se permitiu fechar os olhos também e memorizar aquilo.
Ele tinha cílios grandes e macios.
A pele dele era quente, o queixo pronunciado e ele tinha muitas marquinhas de espinhas, que ela amou tocar e sentir cada uma.
Ela passou os dedos delicadamente pelo nariz dele, sentindo sua respiração acelerada e se perguntou se aquilo o afetava como à ela.
Se ele se sentia tão perdido, ou com tanto medo como ela.
Mas se mesmo com esse medo, e se sentindo tão perdido assim, ele ainda não trocaria aquele momento por nada no mundo, como ela não faria.
Seus dedos continuaram avaliando, agora subindo até às orelhas dele.
Ele era um lutador, não era suposto pra aquela parte específica do seu corpo parecer tão bonita, mas pra ela parecia.
A menina tocou o lóbulo, descendo e subindo e o rapaz soltou uma respiração mais pesada.
Então ela deixou de mexer naquela parte, voltando pro queixo.
Ela amava como mandíbula dele era fácil de sentir.
A forma pronunciada que evidenciava que ele era forte e muito homem.
Seus dedos se perderam naquele espaço, descendo um pouco pro pescoço.
Os dedos tocando aquela parte do rapaz o fizeram quase sem perceber aperta-lá mais perto.
Ele queria gritar pra ela nunca mais parar o que estava fazendo.
Nenhuma mulher, nenhuma, nunca tinha o feito se sentir mais amado.
Não era nada sexual, ou indecente como ele estava acostumado.
Era carinho.
E Deus, como ela sabia ser carinhosa. Como ela sabia demonstrar amor com simples toques, gestos, ou palavras.
Ele nunca antes quis pedir a ninguém pra ficar na vida dele.
Estava acostumado com as pessoas indo e vindo.
Mas ela?
Deus, ela, ele queria pedir desesperadamente pra não deixá-lo.
"Fica". Quis sussurrar, mas se manteve quieto, porque as mãos da moça haviam chegado com sua exploração em sua boca.
Os dedos dela eram suaves, e tinham cheiro de avelã.
Talvez algum creme que ela estivesse usando.
Mas de qualquer forma, ele quis beija-los.
O rapaz queria beija-la como nunca quis nada na vida...
"Ela é especial" se esforçou a lembrar.
"Ela quer algo especial"...
Então ao invés de beija-la, ele beijou de leve seus dedos e a escutou rir.
Será que ela tinha os olhos abertos? E ele tinha a cara mais idiota de apaixonado do mundo? Se perguntava.
Mas não, a moça tinha os olhos firmemente fechados, e imaginava se o rapaz já havia aberto os seus.
Ela estava insegura.
Ela não era normal.
Não era como as outras meninas...
Ela não sabia ser muito doce ou suave.
Todo mundo sempre dizia à ela que deveria ser mais delicada.
Mas aquilo que estava fazendo não era por causa da opinião dos outros ao seu respeito, e sim porque ela sempre imaginou fazer isso.
Explorar alguém, alguém que ela amasse. Pra guardar não a imagem na mente, mas a sensação de tocar alguém.
E ela o amava... Talvez desde sempre.
Seus dedos continuaram o carinho, e quando acabou, quando a moça se sentiu satisfeita, apertou seus dedos devagar no ombro do rapaz e encostou a testa na dele.
- Você está com os olhos abertos? Murmurou, sua respiração batendo nos lábios dele de tão perto que estavam.
- Não. Você está? Foi a resposta do rapaz.
A moça apenas negou com a cabeça, fazendo ele sentir a negação.
O rapaz abriu um sorriso de leve.
- Estamos fazendo uma cena, não é? Todo mundo deve estar olhando pra gente!
Ela riu.
- Não me importo... disse, dando de ombros, mesmo que ele não pudesse ver.
O moço apenas balançou a cabeça.
- O que eu faço com você Princesa? Hum? Me fala?
A menina pensou em muitas respostas espirituosas, muitas engraçadas, mas respondeu com tudo aquilo que tinha no seu coração.
Toda a insegurança e seu medo se juntaram pra dizer as duas palavras que disse:
- Me ame.
O rapaz abriu os olhos tão rápido que provavelmente não enxergou por alguns momentos, mas quando o fez, seu coração quebrou um pouco.
A moça mordia a boca e tinha uma expressão tão hesitante no rosto. Os olhos fechados tão forte, como se ela não quisesse ver a sua reação.
E ele não sabia o que fazer.
Ele a amava, mas não era bom o suficiente pra ela.
Ele não podia dizer isso... porque ele não sabia como fazer isso direito.
Ela era diferente. Diferente das outras garotas com quem ele se envolveu.
Ela era tão importante, e ele não sabia colocar isso em palavras.
Então, ele ficou a encarando, até a moça suspirar.
- Não... Não deveria ter dito isso né? Eu... Eu estraguei. Desculpa...
O momento se perdeu pra ela. Seu olhos abriram, as mãos se distanciaram do rapaz, assim como o resto do corpo.
Ela não conseguia encara-lo.
Estava envergonhada.
Pedir pra alguém te amar, e essa pessoa não responder era o cúmulo da humilhação.
Se sua mãe a visse agora, a deserdaria.
Ela virou um pouco as costas pro rapaz, torcendo pra que com isso pudesse esconder sua dor.
Ele não disse nada.
Não fez nada.
Apenas a olhou, e escutou brevemente ela tentar brincar.
Mas ele sabia que a machucou.
Ele quis dizer tantas coisas, mas não disse.
De repente o mundo voltou a ser real. As pessoas, os amigos os cercaram, e começaram a comentar sobre outras coisas e ela não voltou mais a olhá-lo.
Nem uma única vez.
Não ficou próxima dele também.
E o rapaz foi se sentindo como se uma parte dele estivesse se perdendo.
Como ele poderia dizer que era todo errado pra ela? Como?
No fim da noite, depois de comerem pizza com todo mundo, ele a estava levando no ponto de ônibus .
Era um silêncio tão grande entre os dois que nem parecia que há poucos momentos eles estiveram tão próximos.
Ele procurava algo pra dizer, talvez se ele dissesse: Não é você Morena, você sabe que o problema sou eu, tudo ficaria bem.
Mas ele sabia que não.
Ela realmente era diferente.
Já a tinham machucado bastante.
Se ele tinha um passado, ela tinha também.
E o dela a feria.
A fazia sentir inferior a todo mundo.
Marcada.
Como se todo mundo olhasse e pudesse ver toda aquela fissura na alma que o passado deixou nela.
Talvez ela não devesse ter ficado tão perto do moço, talvez tocar nele o tivesse feito perceber que ela não era boa o suficiente...
Talvez...
O rapaz parou de caminhar, a fazendo parar com ele, mas a menina mal havia percebido que eles tinham chegado no ponto.
- Eu... Eu não sei o que falar pra você baby...
A moça deu de ombros.
- Você não precisa falar nada, foi um pedido estupido...
Sua resposta veio baixinho, e ela ainda não havia levantando o olhar pra ele.
O rapaz se aproximou, pegando na mão que a moça examinava.
Ele já tinha visto aquilo em filmes, mas nunca tinha feito antes.
Levantar o rosto dela não foi tão fácil quanto nos filmes, a menina era forte e tudo o que ela mais queria era o esconderijo que seu cabelo estava criando.
Mas, de algum jeito, o rapaz conseguiu levantar o rosto dela pra encarar o seu.
Os olhos dela eram bonitos.
Não como aqueles verdes, ou azuis, mas eram bonitos.
Especiais, de um jeito só dela.
Ele tocou seu queixo devagar, explorando.
Não queria a deixar assustada, mesmo assim, ela ainda deu uns passinhos pra trás.
- Você não... você não precisa fazer isso. Resmungou, passando os braços ao seu redor, na defensiva.
Ele negou com a cabeça, se aproximando novamente.
- Não preciso, mas eu quero...
- Eu.. eu não acho que...
Ele estava tão perto, e tinha um cheiro tão bom, e ela o amava tanto, que chegava a doer.
Não foi difícil.
O rapaz não precisou roubar nada, pedir nada, porque ela se deu por inteiro.
Foi um beijo suave. Só um toque de leve nos lábios dela, que quase desmontou os dois.
Ele sabia que poderia beija-lá de verdade. Ela não só deixaria, como retribuiria.
Mas ele não queria isso.
Suas mãos desceram até os braços dela, enquanto a boca dos dois continuava se tocando e ele a atraiu pra si.
Passando os braços dela ao redor do seu pescoço e apertando os seus em sua cintura.
- Você... De um jeito muito louco menina, me fez te amar de uma maneira que eu não sei como faz pra parar! Disse, seus lábios se movendo nos dela.
A moça tremeu um pouquinho. Aquilo era tão bom!
Se aquele simples toque com ele era tão mágico, como seria quando ele realmente a beijasse?
"Paraíso"... A palavra ecoou na sua mente, a fazendo sorrir.
O que ele sentiu, e sorriu junto.
- Você vai me matar, sabia? Disse, se separando um pouco dela pra poder encarar seus olhos.
A menina sorria, um sorriso bobo, tímido, que o deixava fora do sério.
- Você disse que me ama...
Ele riu.
- Bem observado, mocinha, e você não me respondeu!
A moça revirou os olhos, tocando o queixo dele.
- Você sabe que eu amo você, sempre soube.
E ali, bem naquela pequena frase, o moço estava perdido.
Era diferente saber, e OUVIR ela dizer.
Ouvi-la dizer aquilo o deixou perdido, o coração parecia ter perdido total noção de suas funções, e ele só conseguia a encarar.
- Que foi? A moça perguntou, depois de perceber a intensidade com que ele a olhava.
O rapaz mexeu de leve nos cabelos dela, balançando a cabeça.
- O que eu vou fazer com você? Disse, desolado.
Ele sabia que ela não iria embora nunca, e Deus o ajudasse, ele faria de tudo pra mantê-la o mais feliz possível. Mesmo que não fosse bom o suficiente pra ela.
- Me ame. Brincou a moça, mordendo de leve o queixo do rapaz, o fazendo rir.
Sim, pensou a moça, aquilo era Deus lhe mostrando um pedacinho do paraíso.