Capítulo 1 - One Shot

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Olá, não te vi aí. Entre. Muito prazer, meu nome é Chaos. Há bilhões de anos, observo o universo, desde que surgí. Hoje estou na Terra, e este planeta recente roubou meu coração. Observo as belezas naturais dos pontos mais altos e gelados. Afinal, minha posição existencial me permite viver como um ser humano, um animal, de qualquer forma ou gênero existente ou não. Com um porém específico para essa raça: eu não possuo um dos olhos. Então, se algum dia vir um caolho te seguindo, desconfie. Afinal, trata-se de mim, o deus Chaos — a desordem, o azar, o problema, o seu pesadelo. Qual é? Você está lendo a história de um caolho que originou o seu universo. Me respeitem.

Poxa, onde estão meus modos? Podemos sair e tomar um café — você na sua casa e eu em um lugar chique em Paris, ou talvez na sua casa mesmo. Você quem decide. Se não se sentir à vontade comigo nesta forma distorcida, proponho que me imagine como a pessoa mais linda que você já conheceu ou imaginou. Conseguiu? Agora coloque um tapa-olho no olho esquerdo. Já fez? Ótimo!

Esse sou eu, aí na sua frente. Por que estou aqui? Ora essa, por que não estaria? Adoro falar das coisas lindas que já vi neste universo para as pessoas normais, mundanas e limitadas como vocês. Eu sou um deus; me deixe me achar grande.

Percebeu? Nem pareço ser tudo de errado neste mundo, né? Sou amigável, egocêntrico, mas amigável. Adoraria saber mais sobre vocês, mas, infelizmente, eu não ligo. Pode até me interromper, mas eu não ligo mesmo. Não que eu seja frio ou algo assim, mas é como se apegar a uma coisa que vai morrer logo, enquanto eu vou viver. A vida do homem bicentenário seria muito mais fácil se ele não se apegasse a coisas que o deixariam. Eu, por exemplo, deveria me apegar a bens materiais bem mais que vocês — ouro vai ficar comigo, fotos, fortuna. E com vocês... Por que não cultivam o amor? Isso prende as almas de vocês. Sim, se você amou alguém de verdade, depois da morte, se unem para trazer vida e paz em forma de energia cósmica. Legal, né? Mas bens materiais, não. Bens materiais são como se eu me apegasse a você, um estranho que vai morrer em menos de 60 anos. E, diga-se de passagem, para mim, são minutos. Vou ver você morrer antes mesmo de confiar em você.

ESPERA! NÃO FECHA A PÁGINA! Olha, não é fácil ter empatia quando se é conhecido como tudo de ruim, e aqui na Terra eu tenho até seguidores da minha filosofia — que lei é para pau no c*. Beijos, anarquistas. Eu estou tentando há anos fazer contato com humanos, mas sempre estrago tudo: Princesa Diana, Bruce Lee, Presidente Lincoln — pessoas que me inspiraram. Eles morreram, e um caos ainda maior se instalou com o tempo. Odeio me apegar a coisas que mudam, como a Floresta Amazônica. Eu me lembro dos índios de lá, gentis e pacíficos. Pisquei os olhos e já tinha caminhoneiros por todos os cantos lutando por justiça. Por que as pessoas ainda votam nesses políticos? Nem eu, o cúmulo do caos e da desordem, acho necessária essa baderna. Olha esses idosos aí, roubando feito loucos. Morrem com um sopro meu. Eu sou o agente, o deus da desordem, o caos em pessoa. Olho para essa situação e penso: como meros humanos fazem meu trabalho sem esforço?

Estou parecendo desconexo, né? Mas pensa bem: eu sou a desordem há bilhões de anos. Às vezes, a gente cansa; outras, a gente odeia que façam nosso trabalho. Minha cabeça funciona como meus poderes: aqui dentro é uma guerra constante, desordem. Eu nem mesmo entendo o que está acontecendo. Tem café aí? Se puder me dar um pouco, estou aceitando...

Admiro sua coragem de estar aqui até agora. Achei que tinham medo de eu afetar a vida de vocês. Leram Percy Jackson, né? Não fecharam o livro quando o Percy mandou, seus rebeldes. Os deuses vomitariam ao ler esses livros. Eles acham vocês, humanos, asquerosos. Eu, nem tanto. Acho vocês maravilhosos. Eros, meu gêmeo, meu "flash reverso", já ama vocês mais que tudo. Por isso vocês ainda estão vivos. Cansei dele. Estou tipo aquele tal de Lúcifer daquela série: "Ihhh, cansei do inferno, vou para a Califórnia". Mas que péssima escolha de lugar, admito. Hollywood faz a cabeça de muita gente. Se eu fosse ele, iria para uns lugares muito loucos, como a Síria ou a Índia. Melhor ainda, Coreia do Norte! Nossa, ia ser muito legal. Vai dizer que não posso assistir filmes da cultura de vocês, nem séries? Por favor. Eu já vi até a versão do Snyder da Liga da Justiça — era maravilhosa, mas vocês nunca verão. Também vi outros filmes inúteis por aí, como o do Hulk e o do Lanterna Verde. Tudo baboseira de vocês. Nem precisam de coisas assim. Vocês deveriam ler menos e fazer mais guerras, morrer mais. É assim que a vida fica divertida. Mas o tratado de não intervenção divina não pode ser quebrado. Vocês podem fazer o que quiserem. Se não, a vida de todo mundo estaria em risco, graças a mim, não a vocês. Agora só causo caos em escalas pequenas. Estou começando a odiar esse lugar.

Aceito uma água. Seria falta de educação ir aí pegar, então, anda, anda, por favor. Voltou? Ótimo. Voltando a mim: acho que uma anarquia em alguns países seria muito bom. Em meses, todo mundo estaria morto e seria um lugar para recomeçar, balanceando a população mundial. Ou o plano do Thanos — por favor, mata metade da população mundial e tudo está resolvido. Pra que ética? Tudo que importa não são números, dinheiro, engenharia, física? Bem, é só isso que vejo sendo exigido. Se fosse amor mútuo e drogas, vocês estariam mais felizes — mortos, mas felizes. Essas discussões de Humanas vs Exatas estão em baixa? Agora é o quê? Gasolina vs diesel? Direita vs esquerda? Veganos vs pessoas normais? Ricos vs pobres? Batman vs Superman? Capitão América vs Homem de Ferro? DC vs Marvel? "Li quadrinhos" vs "só vi os filmes"? Negros vs brancos? Como estão as discussões atuais? Bazinga! Nem ligo. Só sei que logo, logo, todos vocês vão morrer, e virão mais pessoas estúpidas como vocês para discutir besteiras: Notebook vs computador, headphone vs fone convencional, nerds vs hipsters.

Opa, me desculpe, ofendi você? Não? Que droga. Era a minha intenção. Não preciso da sua empatia. Não fecha a história, por favor. A retardada da autora está há dias tentando me desenhar para sua graphic novel, mas adivinha? Ela desistiu também! Aeeeee! Essa coisa desiste de tudo que começa. Já leu alguma coisa recente dela que foi até o fim? Não tem nada. Talvez essa aqui tenha um final. Um final de merda, com eu provavelmente sendo ignorado, esquecido ou apagado. Odeio ela. Desistiu de mim. Imagina uma graphic novel só minha, eu contando para vocês sem terem que me imaginar! Bastaria esticar a mão que me veriam. Olhos no meu olho direito. Nem queira saber o que tem debaixo desse tapa-olho. Só vem merda para quem vê. Quer ver? Queira ver... Vamos... Não, né? Acredito em você.

Eu mostraria se fosse possível, mas a autora não vai descrever o horror do meu olho ruim.

Espera

volte

não

Chaos - Conversa com um deusWhere stories live. Discover now