O Bosque

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Havia um bosque próximo a pequena vila localizada em um vale no sopé de um grande monte. Desde pequena, Lyla sabia que não devia se aproximar dele...

O tal bosque era amaldiçoado.

Ao menos era o que a esparsa comunidade local dizia, uma vez que nenhum dos viajantes de terras distantes — que se hospedavam na vila por alguns dias antes de partir para o bosque — retornavam.

A velha senhora dona da hospedaria dizia haver duendes lá, que amarravam e carregavam as pessoas até um buraco que levava ao mundo deles. Já o boticário dizia se tratar de demônios que se disfarçavam de fadas que hipnotizavam e devoravam aqueles tolos o suficiente para adentrarem seus domínios. Diversas outras lendas permeavam o vilarejo sobre o que acontecia naquele local, ainda assim pessoas continuavam indo até lá para desaparecer completamente e nunca mais serem vistas.

— Por que deixam as pessoas irem até lá se sabem que elas não voltarão mais? — Perguntava uma curiosa Lyla de 7 anos de idade, quase sempre recebendo reprimendas por tocar em assuntos que não diziam respeito a crianças. Até que um dia ela se atreveu a perguntar para o alquimista que vivia quase sempre isolado em uma cabana não muito longe do tal bosque, enquanto ele vendia suas peles no mercado local. O homem de avançada idade a fitou com olhos gentis antes de responde-la da mesma maneira:

— Porque eles assim escolheram – começou ele enquanto se agachava para ficar da altura dela, – quem somos nós para dizer-lhes que estão errados? — Finalizou, antes de sair do mercado sob os olhares mal humorados das pessoas que realizavam suas trocas e compras. O alquimista não era bem visto na região, não apenas por suas práticas pouco religiosas, mas também por morar tão perto de um lugar amaldiçoado e parecer feliz com isso. O fato é que aquela tinha sido a melhor – senão a única – resposta que Lyla tivera sobre o bosque até então, e quando falou sobre ela à sua mãe levou tantas palmadas na bunda que jamais tocara no assunto com ninguém novamente.

Ao menos não até completar 12 anos e ter sua casa destruída por um incêndio. Seu pai era o ferreiro local e em um fatídico dia, por um simples descuido, torrou a casa completamente após o fogo se espalhar pelo telhado de palha.

Assim como três outras casas próximas.

Aquilo fora o suficiente para que todos no vilarejo o odiassem e começassem a dizer que se ele ainda tivesse alguma dignidade que fosse deveria ir ao bosque e não retornar mais.

Levando sua família junto.

As pessoas eram assim naquela vila, todos os que não eram bem vistos pela comunidade local eram por vezes incentivados a visitar o local amaldiçoado.

Todos menos o padre, que insistia que Deus jamais o perdoaria se ele fosse até o local. Dizendo que tal prática pagã o levaria direto ao inferno, um lugar que Lyla pensava não ter como ser muito pior que o vilarejo estava sendo para eles naquele momento. Eles não tinham lugar para morar e dependiam da ajuda dos poucos que ainda tinham alguma consideração por eles, bem como do trabalho de seu pai que agora prestava seus serviços à igreja em troca de abrigo e certa proteção.

Um dia Lyla avistou um desses viajantes que vêm de longe para o vilarejo com o objetivo de desaparecer no bosque andando pelo mercado tentando perguntar algo às pessoas que passavam, que o ignoravam completamente. Ele a avistou próxima a uma barraca de pêssegos e seus olhos se encheram de esperança, talvez por ela não encara-lo de maneira hostil ou fingir que ele não estava ali.

— Ola, mocinha! — saudou ele com um sotaque carregado de alguma terra distante. Ele falava com uma cadência diferente de tudo o que ela já ouvira até então, como se cantasse cada palavra. — Sou Bob, o bardo e estou a seu completo dispor — apresentou-se ele com uma exagerada reverência. Ele usava roupas engraçadas, calças verdes muito justas com suspensórios dourados e um robe de um vermelho fosco, sem brilho. Ele não possuía muitos dentes mas era notável que um deles era de ouro, reluzindo enquanto ele sorria. — Pergunto me se, caso o acaso esteja a meu favor, a senhorita poderia me informar onde encontro o bosque do alquimista? — indagou ele, tentando disfarçar uma súplica que estava nítida em seus grandes olhos castanhos.

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