ESPOSA

971 127 4
                                    


Íris já não aguenta mais, já ligou diversas vezes para Ninna, mas ela não atende. Andando de um lado para o outro no apartamento, ela pensa no pior: sua esposa desistiu delas mais uma vez. Deitada no tapete da sala tenta novamente e seu coração dá um salto quando escuta a voz de sua amada.

– Desculpa, Morango.

– O que está fazendo que ainda não chegou aqui?

– Eu não vou mais.

– Como assim, Chanty? Não faz assim, meu amor, você não pode fazer isso com a gente – Íris sente o gosto das lágrimas chegando em sua boca.

Ninna também está chorando, mas não volta atrás.

– Eu não posso ir, Morango, se eu sair de casa, meu pai que já está com as malas prontas disse que também sai. Minha mãe está no hospital e fico imaginando como ela ficará quando chegar em casa e ver que sua família foi destruída.

Íris desliga o celular e se entrega ao pranto, mas por pouco tempo. Se levanta, pega as chaves de seu carro e segue para casa de Ninna. Quem abre a porta é Brad que quase volta a fechá-la em sua cara.

– Pode ir embora daqui, Íris! Eu não vou permitir uma pouca vergonha dessa, você e a Ninna não vão morar juntas. Daqui ela não sai!

– Você não manda nela, ela já é uma adulta.

– Mas ainda não se formou e muito menos trabalha.

– Ela é minha mulher e vai vir comigo sim!

– Olha como você fala, garota, ela não é sua mulher porcaria nenhuma. Eu não coloquei uma filha no mundo para ser mulher de outra mulher.

– Problema é seu se seus planos não deram certos, nem tudo o que queremos da vida, ela nos dá.

– Morango, por favor vá embora – fala Ninna do alto da escada.

– Só se você vier comigo.

– Eu já disse que ela não vai.

– E eu já disse que você não manda mais nela, pois além de ser adulta é minha mulher.

– Para de falar que ela é sua mulher!

– Esposa fica melhor para você?

– Morango!

– Que palhaçada é essa agora?

– É, tio Brad, nós nos casamos e se quiser nos ver separadas vai ter enfrentar a sua vergonha e ficar de frente a um juiz.

– Eu não acredito que você fez uma merda dessa, Ninna! – Brad olha para a filha e depois volta olhar para Íris – Vocês vão ter que anular esta porcaria.

– Eu só assino o divórcio na frente de um juiz, com você ao lado da sua filha. Quero ver a sua cara quando o juiz perguntar o motivo da separação e eu disser que é o preconceito do meu sogro. Imagina só a manchete: "barraco de família no tribunal. Quando todos achavam que não existisse mais preconceito, que todos homossexuais tivessem os mesmos direitos que qualquer outra pessoa, um casal se separa por conta da insatisfação do pai ao saber que a filha havia se casado com uma mulher". Já vou avisando, só assino se você estiver sentado ao lado da Ninna como seu advogado. E só para você saber levarei dois advogados para te triturar: minha mãe e meu padrinho.

– Vá embora da minha casa, agora!

– Esta casa não é só sua, – Blade entra em casa falando – a Íris é minha prima e esposa da Ninna, então ela pode entrar e sair quando quiser.

Deixe-me te amar e lhe darei minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora