Ele tem aquele olhar sonhador de James Dean

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"You got that James Dean daydream look in your eye
And I got that red lip, classic thing that you like..."

Style, Taylor Swift.

É meia-noite.

As luzes incandescentes dos postes frontais do prédio me iluminam a medida que caminho para dentro, há um pouco de movimentação na rua, o que é natural para os fins de semana na cidade, e mesmo com a chegada iminente de uma tempestade naquela madrugada, aquilo não parece empecilho para os clubes com filas gigantescas e restaurantes lotados.

Subo as escadas até meu apartamento, enquanto verifico as mensagens enviadas por Kim Taehyung, meu colega de quarto, avisando que não voltaria para casa naquela noite, a Omega Chi,  fraternidade do Namjoon, ofereceria uma festa de boas-vindas para os calouros, e provavelmente era a oportunidade perfeita para Taehyung conseguir alguns beijos de uma aluna recém-chegada e em estado completo estado de êxtase. 

Assim que caminho para dentro do apartamento fechando a porta atrás de mim, sou recebida pelo ar quentinho da casa e chuto para longe os chinelos de Kim que estão largados por cima dos meus. Ligo a tevê para ouvir alguma voz pela casa, e preparo um chá de camomila enquanto troco as roupas que estou usando por pijamas confortáveis. 

Era um consenso quase universal entre os meus amigos  que eu odiava as malditas festas de fraternidade, aquele tipo de ambiente, as bebedeiras excessivas dos garotos e o comportamento idiota que só o álcool na corrente sanguínea era capaz de causar, talvez odiasse em dobro porque Jimin, meu ex-namorado, amava tudo aquilo.

Park Jimin era o típico problema, o clichê adolescente dos filmes de Hollywood, uma mistura perigosa de ídolo dos anos 90, James Dean e jaquetas de couro. 

Mostrava aquele sorriso cretino sempre que necessário, exibindo o dente frontal quebrado, provavelmente resultado de sair no soco com outros garotos por aí, um aviso claro e gritante para se manter distante. 

Lembro daquela primeira noite em que esteve aqui, cruzando a rua do prédio com seu Mustang 66 Azul, os faróis baixos, trazendo um Taehyung completamente bêbado escada à cima, e me ajudando a colocá-lo no chuveiro. Ele parecia inofensivo àquela altura: eram só lábios bonitos e uma camiseta branca que lhe caía perfeitamente bem, não tinha porque me preocupar, mas acho que foi naquele milésimo de segundo, quando ele sorriu, que fui fisgada.

Duas semanas depois já estávamos aos beijos no seu carro por algum lugar daquela cidade. Acabei viciada em seu cheiro bom de lavanda, cigarros com essência de cereja e lábios com sabor de whisky barato. Seus óculos grunge e a maneira que deslizava as mãos pela cabeleira ruiva. Aquele "Je ne sais quoi" misturado a uma aura selvagem, despreocupada e sagaz, uma lista completamente sacana de adjetivos que no meio daquela aparência bonita eram capazes de te virar do avesso, e por um ano e meio eu havia feito parte de toda aquela bagunça.

Jimin tinha um oceano obscuro de segredos que era capaz de te afogar, não conseguia se desvencilhar daquela necessidade de liberdade e por muitas vezes, sumia durante dias: sem telefonemas, mensagens ou bilhetes largados ao pé da porta. Entrava em seu carro e sumia pela rodovia principal, aparecendo sempre em noites de tempestade como aquela, como Karma e a certeza de que tudo aquilo que um dia vai, na mesma intensidade volta.

Sempre surgia durante as madrugadas frias, molhado até os ossos e sem nenhuma cerimônia, me fazia dele. Eu decorava suas formas, curvas e mapeava seu corpo inteiro, temendo que aquela fosse a última vez e sentia que em cada um dos seus retornos, alguma parte dele acabava ficando - onde quer que fosse -, porque cada beijo tinha sabor de despedida.

E numa dessas noites de tempestade, a chuva não cumpriu o seu papel de trazê-lo de volta, e tive a opção de afogá-lo em minhas mágoas, de apagá-lo de vez da minha vida como todo amor ruim que machuca. Talvez no fim das contas eu ainda eu ainda esperasse por ele, pelo seu carro cruzando a rua com faróis baixos, com motor barulhento e o som de suas botas encharcadas no piso da sala, agarrada a minha fé de boa menina de que ele sempre voltaria pra mim.

E ele sempre volta.

Para, @Kykai96 . Obrigada por ser tão gentil! 

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Ídolos grunge e uma breve analogia sobre nós.Onde histórias criam vida. Descubra agora