Pesadelos de Fogo

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"Amei você...amo você, e sei que isso não basta, nunca bastará".

Anne

O ar ardente parecia queimar sua pele mesmo com o suor frio escorrendo por seu rosto, o cheiro de madeira e carne queimando inundava seus pulmões a medida que sua respiração se intensificava, seus pés descalços já estavam enlameados de tanto correr na mata, mas ela não podia parar, sua vida dependia disso. Seu vestido de seda, outrora exuberante e do mais fino requinte, agora não passava de um farrapo sujo, rasgado pelos galhos secos da mata densa.

- Socorro, ajude-me!- Exclamou em total desespero uma sombra em chamas a sua frente.

Ela não parou, se o fizesse, talvez fosse a próxima a queimar, já que tudo ao seu redor ardia em chamas, dás árvores às pessoas. As simples casas de madeira e palha seca, que anteriormente davam vida a pequena vila, agora tornaram-se o combustível perfeito para alastrar o fogo. Soldados vestidos de negro, carregando tochas e espadas vermelhas de sangue se encarregaram de semear tal terror. Por um segundo sua curiosidade a fez olhar para trás, e a visão que teve poderia facilmente se comparar ao inferno das histórias antigas, um antro de pura agonia e dor, que graças ao seu esforço incessante ficava cada vez mais distante, mas o medo ainda a dominava.

- Anne, acorde! - Uma voz estridente feminina ecoou fazendo esta visão infernal desaparecer na escuridão.

Quem grita é Merida, a velha criada pessoal de Lady Aryanne Wolflyn, a quem chamava furiosamente. A senhora Merida Corne servia à corte de Brunnes há quase cinco décadas, uma vida inteira de um trabalho árduo e honrado, que se demonstrava menos agradável, desde o dia em que o Duque Wolflyn designou seus cuidados à sua filha.

- Tem ao menos idéia do quão irresponsável está sendo neste momento, Lady Wolflyn ?. - Gritou novamente em seu tom severo enquanto via a jovem se levantar lentamente.

Anne não respondeu, a velha havia puxado-a de seu sonho aterrorizante, mas a memória das chamas e dos gritos de agonia ainda estavam ecoando no fundo de seus pensamentos. A Lady se levantava lentamente, buscando recobrar os sentidos, sua camisola colava em seu corpo devido ao suor, e um arrepio agudo lhe atravessou a espinha quando os pés desnudos atingiram o chão de pedra escura e fria.

- Certamente os séculos de sua vida infeliz já a enrijeceram, senhora Corne. - Anne responde em voz baixa encarando a criada nos olhos. - Mas ainda assim, faço um apelo para que busque o vestígio de empatia que resta em você, e pare de gritar.

- Peço perdão se minha voz incomoda o sono da bela senhorita. - Cone respondeu baixo com seu cinismo debochado. - Mas lhe asseguro que não é a minha empatia que necessita, pode guardar seu apelo para seu pai, talvez evite a surra que ele lhe dará por se atrasar hoje.

Só então Anne percebeu o quão grave era sua situação, a expressão firme de Merida a fez recordar que hoje o herdeiro do trono de Brunnes, o jovem príncipe Harrys, estava a completar seu vigésimo ano de vida. Era um dia importante, o Rei Aric havia convocado todos os lordes do reino, e todos os monarcas dos reinos aliados, durante toda a semana carruagens e mais carruagens chegavam ao castelo, os largos corredores da fortaleza até pareciam estreitos com tantas pessoas circulando, os salões lotados também se enchiam de vida com a música e com o banquete sem fim, que mantinham todos reunidos e ansiosos para a anúncio que Aric fará hoje. Para a corte o vigésimo ano marca a maioridade, Harrys é finalmente considerado um homem.

Laços de Sangue. [ EDITANDO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora