Capítulo 3

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  De dentro do trem, eu apreciava a paisagem. As árvores tinham uma cor triste, típico de final de outono. Eu estava sentado, com meus fones de ouvido quando uma garota de cabelos azuis se aproximou, ela perguntou se podia sentar ao meu lado e eu apenas concordei. Era ela ligeiramente bonita, com bochechas rosadas, pele esbranquiçada e usava umas roupas pretas com desenhos roxos. Em suas pernas reparei uns machucados que talvez fossem cicatrizes de algo já passado e por cima, uma meia arrastão. Achei que não seria conveniente ficar de cara fechada e de fones, então os removi dos ouvidos. Nessa mesma hora, ela olhou para o meu rosto, seus lindos olhos azuis tocantes me arrepiaram e acho que ela percebeu, porque logo ficou mais corada e deu uma risadinha de canto de boca.  Qual seria o nome dela? E por que ela quis se sentar bem ao meu lado? O trem não estava totalmente cheio e haviam lugares vazios, mas eu não me incomodava de apreciar sua beleza por canto de olho.
  Aquela caixa estava meio pesada no meu colo, mas não tinha espaço o suficiente para colocá-la dentro da mochila e eu não queria ter que mudar de lugar e ficar afastado daquela garota. Foi quando ela veio conversar:
  --- Oi, como você se chama?
  --- Oi, eu sou o Heitor e você?
  --- Ah, belo nome. Eu sou a Scarlett, desculpe perguntar, mas eu reparei que está usando uma camiseta do Red Hot Chili Peppers e eu nunca encontrei fãs deles por ai. Curte o som deles?
  Caraca, ela era mesmo maravilhosa, que garota além da Anna curtia esses sons? Uau, ela estava mesmo interessada em falar comigo. 
--- Ah, isto aqui. É uma blusa com um design meio antigo, mas ela não deixa de ser maravilhosa e confortável. E aliás, eu curto sim, os caras mandam bem pra caramba.
  --- Nossa, que legal! Heitor, posso te pedir um favor?
  Cara, como assim? Ela mal me conhece, mas eu não poderia negar e nem acentir o que ela dizesse, fiquei no limite.
  --- Ãhn...talvez, mas o que é? 
  --- É que eu desço na próxima estação e você parece uma pessoa de ótimos gostos musicais, talvez pudéssemos conversar, sei lá. Posso anotar seu número?
  --- Ah, claro que pode, você também parece ser uma garota interessante.
    Passei meu número para ela e trocamos alguns olhares antes dela descer, parecia até mesmo histórias de um livro de romance, mas enfim, eu espero que ela me chame.
   Logo ouço o sinal da estação que eu devo descer, guardo a caixa na mochila e sigo caminhando com meus fones de ouvido, acho que passarei em algum parque por aqui. Olho em volta e localizo um mapa central, procuro por algum tipo de parque ou praça onde eu possa relaxar e abrir essa caixa estranha sem ser interrompido. Perfeito!!
  O parque ao qual vim caminhando é bem grande, vários lagos e consigo ver umas trilhas, quase sem movimento.
  Me sento ao pé de uma árvore, relaxo os braços as pernas, coloco a música no último volume, está tocando Sweater Weather do The Neighbourhood, super relaxante. E é ao som daquelas notas fascinantes que eu vejo uma etiqueta escolar no caderno, nela dizia :
  ~ Scarlett Dawmor ~
   MAS O QUÊÊÊ? NÃO É POSSÍVEL. A garota que eu acabei de conhecer se chama Scarlett, deve ser só uma coincidência, não podem ser a mesma pessoa. Na capa do caderno havia um belo desenho, de fundo uma galáxia roxa e de frente uma garota de cabelos azuis estava abraçando uma pessoa que parecia ter um infinito dentro de si. Cabelos azuis. Scarlett. Isso não era possível. 
  Logo que abri o caderno, meu coração acelerou e eu fiquei um pouco tonto. Na primeira folha, havia uma foto minha entrando no funeral da Anna e a data do dia que a foto foi tirada. Aquilo não era possível. 
  Ou era?

O garoto da noite Onde histórias criam vida. Descubra agora