Onde tudo começou

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Regina:

Fazia exatamente um mês que meu marido havia morrido. Eu não conseguia saber o que era pior, o fato de que nunca mais verei o homem que mais amei em minha vida ou ver minha filha chorar pela falta de seu pai e ouvir todos os dias a música que eles planejavam dançar em sua quinceañera. Ver a dor de Sofia aumentava mais ainda a minha, mas a coisa mais útil que eu poderia fazer por mim e minha filha era ir ao trabalho. Eu e meu marido viemos do nada, mas Robin tinha o sonho de ser médico e ter seu próprio hospital e sempre o apoiei. Sempre fomos nós, só nós. Começamos a namorar bem jovens, aos 14 anos e eu, aos 16 estava grávida de Sofia. Fui criada apenas por minha mãe que não aceitou o fato de eu estar grávida e me expulsou de casa. Desde então eu nunca a vi e passei a morar com Robin e foi quando nossa vida começou. Hoje temos tudo o que sonhamos, mas ele não está mais aqui para que aproveitemos nosso sonho juntos. Robin morreu de um mal súbito, em casa, enquanto dançávamos a música que dizíamos que era nossa. Desde então minha existência se tornou vazia, triste e doída, mas eu ainda precisava estar de pé, pela Sofia, pelo Robin, por nossos sonhos.

Então, pela manhã, após passar a noite olhando tudo o que meu marido escrevera sobre o futuro de nosso hospital, decidi que era hora de voltar ao trabalho, mas agora, sentada em sua cadeira. Eu precisava assumir tudo, é o que ele gostaria. Ele sempre foi a medicina e eu, as finanças, mas nunca me interessei de ir ao hospital. Eu fazia tudo de casa, em meu escritório, onde podia ser mãe e trabalhar ao mesmo tempo. Esse era o plano. Era.

Levantei-me da cama bem cedo, fiz minha higiene e tomei meu desjejum. Fui até o quarto de minha filha e acordei para ir à escola, nós precisávamos voltar para nossas vidas, Robin não gostaria de ver Sofia perdendo as aulas.

Depois de certa relutância, ela se levantou e fui me vestir. Fazia anos que eu não pisava naquele hospital, eu não fazia ideia do que usar. Coloquei apenas um vestido preto tubinho, fiz uma maquiagem leve e coloquei um par de salto alto preto nos pés, estava ótimo.

Peguei minha bolsa e antes de sair fui até o armário de Robin e cheirei uma de suas camisas, ainda tinha seu cheiro nelas e me fazia sentir perto dele. O pedi em silêncio para que tudo desse certo hoje, eu iria me apresentar a todos os médicos já que só os mais antigos me conheciam.

Peguei meu carro e dirigi até o hospital, aquela seria uma longa manhã.

Emma:

Era o fim do meu plantão quando fomos informados que a esposa de nosso antigo chefe, Robin, pediu para que todos os médicos se reunissem no auditório do hospital. A mulher era quase uma lenda: ninguém a via, ninguém sabia sua fisionomia, só se sabia que ela fazia parte do setor financeiro do hospital e que seu sobrenome estava no nome do hospital. Até sua filha, Sofia era mais vista que ela, mas a adolescente também só era vista em raros momentos, mas pelo menos ia às festas de fim de ano, isso nem a mulher misteriosa fazia. No fim, ninguém dava a mínima para o que ela falaria e sim queríamos saber quem ela era. Robin era um bom chefe, sempre nos incentivava e financiava as pesquisas dos setores, o meu, o da pediatria era um dos que mais havia estudos e viramos referência no assunto, era uma pena ele ter morrido tão jovem e do nada.

Olhei em meu relógio do celular e percebi que ainda tinha tempo de pegar um café na cafeteria do hospital antes da reunião com a nova chefa fantasma. No caminho para a cafeteria encontrei minha grande amiga, Ruby que também estava indo pegar um café. Ruby era da área da neuro, era a chefe do departamento.

-Ansiosa para ver a nova chefa fantasma?

Dizia a mulher de pele clara e cabelos castanhos enquanto pagava seu café.

I think i'm in love againWhere stories live. Discover now