Lost In Japan || Shawn Mendes

Lets get lost tonight

‒ Então, você tem planos pra hoje? ‒ A voz do garoto soa morna através do celular no viva-voz,  e mesmo a um oceano de distância ainda me causa arrepios.

‒ Sim, pra falar a verdade minha agenda está completamente lotada hoje. ‒ Respondo soltando uma risadinha incontrolável desviando minha atenção do notebook, distraindo-me com o falso som de surpresa vindo do homem no outro lado da linha. ‒ Começando por ficar trancada no quarto do hotel rezando pra não ser massacrada amanhã pela equipe de consultoria da empresa que meu pai está tentando um contrato aqui.

‒ Que pena… porque meus planos pra hoje envolvem uma entrevista numa rádio daqui a pouco, e depois voar pra Toronto pra dar os últimos toques no álbum. ‒ Escuto a voz do garoto se distanciar denunciando que andava de um lado para o outro enquanto falava. ‒ Que horas são aí?

‒ Oito e alguma coisa… ‒ Falo lentamente, correndo o dedo pelo botão de contraste no arquivo aberto no Photoshop C6. ‒ E aí?

‒  Meio dia.  ‒ Ele murmura e sua voz volta a ficar constante. ‒ Voltei da academia e vou almoçar.

‒ Acabei de comer sushi. ‒ Ouço sua risada do outro lado da linha e puxo o ar começando a falar antes que ele pudesse abrir a boca para fazer algum comentário engraçadinho. ‒ Sei o que você vai dizer Mendes… “Ah, mas você odeia sushi Tessa, pipipopo”, realmente, não é a minha comida predileta mas eu tô no Japão, precisava provar o sushi daqui óbvio. E olha não é tão ruim, acho até que gostei.

‒ Eu te disse! Você não tinha gostado porque não comeu direito! ‒ O garoto brada do outro lado com um tom divertido que me aquece por dentro, quase consigo vislumbrar o sorriso que estampa seu rosto, imitando-o no meu próprio. ‒ Quando eu fui aí, me levaram num restaurante muito bom onde os caras cozinhavam na sua frente e a comida era ótima, a gente precisa ir nele Tessa.

‒ Eu definitivamente iria comer sushi contigo agora, se não estivéssemos a um oceano de distância. ‒ Respondo tentando soar descontraída como sempre porém incapaz de esconder a pitada de desânimo na minha voz.

Escuto seu suspiro profundo do outro lado da linha, cheio de uma melancolia que eu não conseguia entender, seguido por vários segundos de silêncio. Tanto tempo se passa que temo que o garoto tenha desligado no meio da conversa.

‒ Eu faria qualquer coisa pra ficar só algumas horas com você hoje. ‒ O tom divertido agora se foi, dando lugar a uma voz quase sussurrada banhada em sentimentalismo.

Meus dedos se fecham automaticamente ao redor do mouse, engolindo em seco repetidamente por conta da sensação de estar com areia entupindo minha garganta. Tento ao máximo manter o controle, respirando fundo algumas vezes antes de pegar o celular e tirar do alto falante, grudando-o na orelha. A sua respiração pesada do outro lado da linha soando como se estivesse bem ao meu lado.

‒ Por favor, não comece com isso agora. ‒ Digo apertando os olhos com força, agradecendo pelo Shawn não estar vendo meu desespero no momento, tendo apenas a ilusão inexpressiva dada pela minha voz.

‒ Não estou começando nada agora… ‒ O garoto murmura e, ao contrário do que havia imaginado, sua voz está branda e baixa. Quase como se temesse a minha reação, o que só tornavam as coisas mais difíceis na minha cabeça. ‒ Começamos mês passado pra ser sincero.

‒ O que? Eu não sei do que você tá falando. ‒ Respondo rapidamente, soando mais trêmula e insegura do que esperava. Não estava convencendo a ninguém com aquilo. Nem a mim mesma.

‒ Você sabe muito bem do que estou falando! ‒ A mansidão some dando lugar a uma tenacidade que fazia toda minha calma descer pelo ralo.

‒ Então esqueça! ‒ Grito perdendo o controle, sentindo o bolo na minha garganta ficar maior a cada respiração ruidosa do outro lado da linha.