Samantha

391 1 0
                                    

        Samantha acordou com os berros da irmã.

        Emma tinha apenas doze anos, e já tinha perdido sua inocência. Emma não sorria mais, vivia mais um dia só por viver, tinha começado a ter pesadelos desde que fomos para o abrigo.

        Com o final da Terceira Guerra Mundial, milhares foram mortos ou ficaram desabrigados. As sedes da APS,  Abrigo Para Sobreviventes, foram espalhadas por todo o mundo, a regra era clara: quando a população que abrigava a sede chegasse a 2.000 pessoas parariam de aceitar as pessoas. Funcionou no começo, mas não tinham guardas o suficientes para conter a multidão.

        Cada sede tinha dois andares, grandes o bastante para caber 1.000 pessoas por andar. Mas sem o controle o número de pessoas passaram de 3.000. Samantha e Emma conseguiram ficar no segundo andar, que era menos movimentado. Já seus irmãos, Christian, Noah e Brandon, ficaram no primeiro andar.

        Naquele dia cinzento, Samantha e seus irmãos irão ser transferidos para uma das Torres.

        As Torres de Vigias ficavam na Muralha. Na sede da APS rumores eram falados sobre a Muralha, falavam que ela tinha 100 metros de alrura, e era tão larga que se você estivesse no meio dela você não veria o começo nem o fim, e que os melhores soldados vinham de lá. Samantha estava ansiosa para vê lá.  Emma no entanto, não mostrava nenhuma emoção, Samantha estava começando a ficar preocupada com a irmã.

        A Muralha separava o mundo, os Rebeldes, que ficavam para lá da muralha, e os Sobreviventes, que podiam ir até a Muralha mas nunca ultrapassa-la, a menos que você seja um soldado.

        Todos que vão para a Muralha tem que trabalhar, menos as crianças. Samantha tinha 15 anos, e ficou surpresa ao saber que iria ter que trabalhar, seus irmãos, Christian com 17 e Noah com 16, seriam treinados para ficar na Muralha.

        Samantha desceu de sua beliche para acordar a sua irmã. Emma gritava e se debatía,  Samantha era a única que conseguia acalmar Emma.

        No começo, Samanta ficava assustada com os gritos da irmã, mas depois de um tempo, se acostumou.

        Samantha se ajoelhou e abraçou a irmã, tomando cuidado para não levar um tapa. De imediato Emma se acalmou. Samantha não sabia o porque de Emma se acalmar, mas isso não importava,  quando via os olhos azuis de Emma se abrindo, ainda que por segundos, via a inocência no olhar da irmã. Mas só por segundos.

        - Pode me soltar agora Samantha.

        Samantha, memos não querendo soltou a irmã.

        - Os pesadelos estão ficando mais frequentes Emma.

        - Eu sei - disse Emma com um tom ríspido. -Partiremos hoje Samantha, vá se trocar, não quero chegar atrasada.

        Quem visse aquela cena, pensaria que Emma era a irmã mais velha.

        - Você poderia ser mais agradecida, irmã.

        Emma apenas a olhou e deu seu famoso sorriso cínico.

        Samantha deixou sua irmã se arrumar e voltou para sua beliche.

        O quarto não era de luxo, mas também não chegava a ser o pior. O chão de carvalho estava impecável, já as pessoas que andavam por ali, pareciam que nunca tinham visto um banho. Elas dividiam o quarto com mais 18 pessoas.

        Samantha pegou sua toalha e saiu do dormitório, o corredor era estreito, suficiente para duas pessoas passarem, as paredes com a tinta descascando, e o piso rangendo sobre o seu pé,  davam um aspecto mais velho a casa, embora a mesma tenha apenas dois anos.

        Entrando no banheiro Samantha se despiu, ignorando os olhares das mulheres dirigiam a ela, depositou três reais, um absurdo, pensou Samantha,  três reais por um banho.

        Tinha apenas quatro minutos de água quente. Terminando de se banhar, vestiu uma regata cinza e uma jaqueta do exército,  que distribuíam, colocou sua melhor calça de montaria. Não tinham carros para todos andarem, então iriam somente as crianças. Samantha ficou surpresa ao saber que agora, para ser maior de idade tinha que ter pelos menos 15 anos.

        Emma a estava esperando no primeiro andar, gostava do jeito independente da irmã. Emma nunca precisou de muita ajuda, o que era bom, Samantha não fazia ideia de como cuidar de uma criança. 

        O apito sou forte através do pátio, dando o aviso para quem for partir hoje. Emma a encarou surpresa.

        - Pensei que iríamos tomar café antes. - disse Emma.

        - Não importa, nosso dinheiro acabou Emma, espero que Christian tenha um pouco ainda.

        Emma olhou em volta, até achar a cabeleira ruiva de Noah. Eles já a esperavam no porão, com um pouco de comida para as duas.

        - Obrigada, Chris. - Samantha sorriu, com a boca cheia, a dando um ar de crianca. Chris riu e logo depois se virou para ajudar Emma  e Brandon, - que com seus 7 anos, já era do tamanho de Emma - a subirem no cavalo. Quando souberam que seus irmãos não iriam com eles a cavalo, Christian logo tratou de persuadir o gerente da sede a deixar os irmãos a ir com eles.

        Christian e Noah já estavam montados quando Samantha terminou seu lanche. Subiu em seu cavalo, um lindo cavalo preto, forte, Samantha já estava ansiosa mais uma vez.

       

Questão de SobrevivênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora