Fim
A dor física não mais importa, a dor que me traz benefício também não. Os meses perdidos em mim, consequências de anos torturados.
A dor de dentro, não que seja adimissível, machuca mais do que deveria. Mais do que o último nível de dor.
As pioras só pioram.
A pobreza atinge minh'alma. E estou sozinho.
A fé se faz presente em algum lugar, mas a importância de se importar... perdeu-se.
Não há refúgios.
É o momento de sentir a dor. O tipo de momento que preferiria ter com menos frequência com a qual venho a ter.
Não queria ter.
Queria voltar a viver, quando pude sentir a felicidade que consumia, espalhava em mim e me fazia sentir viva. Bem. Quase totalmente. Ao menos maior parte do tempo.
Até mesmo as dores se tornavam felizes, proveitosas para o bem, inibidoras de ódio. Era o tempo bom pós purgatório.
Nove meses. E a dor nasceu de novo. De forma mais completa, profunda, desesperadora e instalada para ficar. Por vezes adormece, mas a consciência de que acordará atormenta.
Por outras vezes ainda, esqueço. Ou finjo esquecer? Não me conheço tão bem. Tenho medo, medo que alguém conheça. Medo... Não é a palavra certa a usar... Me conhecer afinal, se tornou apenas desnecessário.
Ao caminhar dos dias a desesperança toma conta, se faz de boa, mas caleja.
As lágrimas são vãs, porém carregadas de coisas sem explicações. O seu peso é muito maior.
O peso de ser quem tornei é grande.
O fim. Este seria o melhor remédio.
Deitar e não acordar nessa ou em outra vida. Apenas a paz na alma. A paz que preciso e sempre encontro nos lugares mais errados, inapropriados e sujos.
Tal definição que se parece com meu interior.
Eu não sou digna de convivência. Aceitar o lixo que sou levou certa arrogância e tempo.
Mas para que negar o inevitável?
O que se fez dentro de si, lá ficará.
Cresce dentro. A fundo, sem piedades ou questionamentos.
Esse círculo trágico me cansa.
Já me cansou o suficiente.
Estou à deriva dos acontecimentos, pois até para a solução sou inútil.
Aos olhos dos outros a única coisa que escuto e escutarei é "doente", "precisa de tratamento". Mas como se curar de ser quem você é? Não há nada terreno que mude isto.
Os dias passam.
Os anos voam.
Eu afundo.
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Emaranhados
Poetry"Contos-poesia, poesias-poemas, emaranhados da alma para quem não tem mente pequena."