Camila Cabello
Havana, Cuba.08 Maio de 2015
Conforme o tempo passa do lado de fora da minha janela, eu observo as marcas que as estações fazem no jardim da minha casa.
O dia está lindo lá fora. O sol brilha como nunca. As crianças brincam, correm e pulam, entusiasmadas com as festas e eventos de dia das mães.
Mas mesmo que seja algo realmente emocionante, pra quem não tem mais sua mãe presente essa é a pior época do ano. As decorações, as mensagens e propagandas só estão aqui pra me lembrar que eu perdi minha mãe pra sempre. E nada pode mudar isso.
E por favor, não me chame de melancólica. Eu já fui bem pior. Mas hoje em dia eu deixo minha fraqueza como exclusividade dessas datas. No restante dos dias do ano eu finjo que não há nada de errado comigo.
- Camila! - ouço a voz da minha avó atrás da porta, antes que seus passos delicados façam barulho no assoalho de madeira. Quando menos espero, ela está do meu lado olhando as crianças através da enorme janela do meu quarto. Ela suspira e acaricia meu cabelo - Você está bem? - pergunta baixinho. Eu fecho meus olhos e concordo com a cabeça - Mesmo?
- Eu já cansei de chorar, vó - abraço sua cintura de lado e ela ajeita o óculos para poder olhar nos meus olhos - Daqui a pouco o dia acaba, e a gente volta a rotina. Quem sabe uma hora eu acostume com a dor da saudade.
- Oh minha filha - ela beija minha testa, e sorri voltando a olhar para a janela - A gente pode sair para dar uma volta na praia... Tomar sorvete e andar de bicicleta.
Eu solto uma risada - A senhora não tá muito velha pra ficar perambulando por aí, não?
- Lave a boca para me chamar de velha - da um tapa leve na minha nuca e solta meu braço de sua cintura para ir em direção a porta - Bota um biquíni e desce pra fazer um lanche, tá bom?
- Meu pai não vai implicar?
- Ele vai - da de ombros, tocando na maçaneta - Mas eu ainda sou a mãe dele.
Ela pisca um dos olhos e fecha a porta me deixando sozinha no quarto.
Me levanto da cadeira e guardo meus cadernos que estavam na mesa. Troco de roupa em tempo recorde e tomo rumo do andar de baixo. Mas... Tem algo que me incomoda e me faz voltar até o quarto e abrir a gaveta de fotos da Polaroid.
No verso está escrito: Dia das mães de 2007.
Eu estou de bico emburrado, segurando bem firme um cobertor ao redor do meu corpo pequeno. Minha mãe ri espontânea e meu pai olha fixamente para ela, bobo por toda sua beleza. Pouco me lembro daquele dia, mas não posso esquecer da enorme jóia que meu pai deu pra minha mãe. O que me deixou bem brava, porque dizem por aí que filhas únicas tendem a serem as mais ciumentas. Me lembro também quando minha mãe me disse que na minha formatura ela me daria esse anel, e eu desfiz meu bico na hora.
Meus dedos passam pela foto com delicadeza e eu deixo um beijo no sorriso de minha mãe, respirando fundo antes de guardar a foto, dessa vez colada no espelho da penteadeira, e não na mesma gaveta de antes.
Minha vó me chama mais uma vez e eu deixo o quarto para trás, descendo as escadas como se minha vida dependesse disso.
No andar de baixo, porém, não é minha avó que me espera. É papai. Com um sorriso assustador acompanhado de uma sacola de uma marca famosa. Ele me oferece a sacola e eu nego, deixando o presente para depois.
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Relentless → camren
FanfictionApós se apaixonar pela filha de seu padrasto, Lauren precisa escolher entre um romance escondido cheio de incertezas ou a vida agitada e livre que sempre teve.