Eu não podia acreditar em meus olhos. Minhas mãos ainda tremiam enquanto eu segurava com força o papel. Respirando de forma entrecortada, eu me apoio no portão de madeira branca enfiando os dedos na superfície dura e gelada, para ter certeza que aquilo era verdade.
— Ariana? Está tudo bem, minha filha? - Perguntou Reinaldo, um doce senhor de 50 anos, que trabalhava para os correios e sempre entregava a correspondência da pequena chácara da família Gomes.
— Sim, estou sim, eu só... Estou surpresa. - Respondo em um sussurro. E então a minha máscara caí e a realidade me inunda como uma felicidade fora do normal. Eu grito extasiada e pulo com o papel na mão, percebendo que meu sonho de conhecer outros pais realmente ia se tornar realidade. Eu pulo no senhor Roberto e o abraço feliz. Ele ri e dá tapinhas nas minhas costas.
— Está tudo bem criança? - Perguntou ele com um leve sorriso nos lábios levemente ressecados. O senhor muito querido pela minha família, retira levemente o boné de sua cabeça com escassos cabelos brancos, coçando levemente a careca como ele sempre fazia quando se sentia tímido.
— Sim! - Gritei — Mais do que bem, eu passei seu Reinado, eu vou fazer um ano de intercâmbio!
Minha visão já estava turva pelas lágrimas, mas mesmo assim ele dá um tapinha no meu ombro, me felicitando. Eu sorrio e volto correndo pela trilha de pedras no chão, por entre a grama verde e entro na casa de pedra onde eu moro.
Minha família não é rica, mas também não é pobre. Nós vivemos em uma pequena fazenda com alguns alqueires de terra, o suficiente para abrigar a grande horta que é o sustento da minha família. E é aqui, em meio a natureza e amor, que eu cresci, ajudando minha mãe e meus avôs com a plantação que era distribuídas para os supermercados pelo meu tio Marcos.
Sou orgulhosa da minha família e os amo por completo. Somos unidos e fortes, respeitadores das tradições dos Gomes, e o apoio e alicerce um dos outros.
A única coisa difícil de viver aqui, é que é longe da cidade, onde fica a minha escola, e onde eu passo a tarde toda na biblioteca estudando como uma louca. Minha tia, Patrícia é a única da família que não mora na fazenda.
Ela é o orgulho dos Gomes, por ser a primeira mulher a se formar na universidade. Ela fez letras na USP de São Paulo e trabalha na cidade como redatora de um jornal. Graças a ela, eu tinha material o suficiente para estudar, e também foi ela que me inscreveu no concurso para o intercâmbio.
A noite foi de festa, todos comemoraram comigo a grande novidade, e minha mãe já começou a pensar nos preparativos, afinal, eu teria que ir à capital para pegar o primeiro vôo da minha história.
Quando a noite chega, eu me sento no balanço pendurado na varanda da nossa casa. Meus olhos se fixam no céu estrelado, e eu deixo um suspiro escapar pelos meu lábios.
— Ele estaria muito orgulhoso de você, minha petúnia. - Diz mamãe se sentando ao meu lado e envolvendo meus ombros com seus braços quentes, me puxando para seu colo macio. Nós nos juntamos em silêncio cúmplice enquanto olhávamos para o céu.
Meu pai, o senhor Fernando Ambrosio, era um homem turrão, segundo a minha mãe, mas extremamente generoso. Ela disse que eu tenho o seus olhos oliva e sua pele naturalmente bronzeada, já que ele tinha descendência italiana, mas eu tenho o formato de seu rosto e seus longos cabelos lisos e negros.
Ele morreu a muito tempo. Meus pais eram casados a quatro anos e moravam em uma das cidades próximas, quando minha mãe engravidou de mim, a pequena princesa da família seria o presente de cinco anos de casamento, se a minha chegada não tivesse acarretado em algo realmente trágico.
Meu pai trabalhava duro, ajudando na entrega das hortaliças de meus avós, já que ele largou toda a sua antiga vida para trás ao se casar com a minha mãe. Sua família preconceituosa não aceitava o fato do filho mais novo se casar com uma cabocla brasileira e não com uma puro sangue italiano, por isso o deserdou antes mesmo dele subir ao altar com a minha mãe a tiracolo.
Quando a minha mãe entrou em trabalho de parto, ele estava em outra cidade, e conseguiu ser avisado através do dono do mercadinho que recebeu a ligação do hospital. Afoito, ele pegou o pequeno caminhão e dirigiu com pressa até a cidade onde morava com a minha mãe, porém, no meio do caminho, ele foi atingido na lateral por uma carreta. Ele não foi socorrido a tempo, já que o outro motorista fugiu, e morreu momentos depois naquela estrada. Mamãe nunca mais teve coragem de viajar, ou de abrir seu coração.
Ela demorou um bom tempo para se recuperar da morte do papai, e ainda acho que ela não o fez por completo. No entanto, dona Elsa sempre diz que eu fui a luz da sua vida, que não a deixou cair na escuridão, quando o amor da sua vida fora brutalmente retirado dela. E aqui estamos nós, 16 anos e alguns dias depois, olhando para o céu, em uma silenciosa homenagem ao homem que tanto me ensinou sem nem mesmo ter me visto uma única vez.
— Acho que a minha garotinha vai abrir as asas e voar. - Diz mamãe emocionada, enquanto me aperta em seus braços e beija minha testa. Eu sinto as lágrimas em meu rosto e me afasto a olhando e limpando as gotas que escorriam de seus lindos olhos negros. Era muito fácil perceber porque o papai a amara tanto.
— Acho que sim, mamãe. Mas eu sempre vou voltar pra senhora. - Digo baixinho me aninhando em seus braços com o rosto em seu pescoço. Meu lugar favorito no mundo.
— Eu liguei para a titia, ela disse que já organizou tudo para a sua chegada. Você parte amanhã, vai ficar um tempo com ela na capital para poder tirar todos os documentos necessários e fazer os cursos preparatórios do programa de intercâmbio. - Diz ela com calma, enquanto alisa meu cabelo. — Se comporte direitinho como você sempre fez, e faça as pessoas terem orgulho da linda Ariana Ambrosio.
Eu me afasto e olho para a mamãe com uma careta.
— Ambrosio? Mas esse não é meu ultimo sobrenome. - falo com dúvida. Já que meu pai morreu no acidente de carro, quem me registrou foi meu avô, que “acidentalmente” colocou o seu sobrenome como o último no meu documento. Minha mãe nunca engoliu muito isso.
— Sim, isso mesmo. Sua tia me explicou que no exterior, eles ignoram o seu nome do meio, então ela vai dar um jeito de você usar o sobrenome do seu pai lá fora.
— Mas eu prefiro o sobrenome da sua família mamãe! Os Ambrosio nunca ligaram pra gente, e ainda abandonaram o papai, como eu posso ter orgulho desse nome? - falo já irritada, cruzando os braços embaixo dos meus seios.
Escuto o suspiro da minha mãe, e sua mão macia vira meu queixo para que eu encontre seus olhos negros e brilhantes.
— A família do seu pai pode não ser das melhores, mas ele foi o homem mais íntegro que eu já conheci. Tenha orgulho desse nome, não por causa da família dele, mas sim pelo seu pai. Isso é importante pra mim, minha menina, seja conhecida lá fora como Ariana Ambrosio e honre o sobrenome do seu pai. Tenho certeza que isso o deixaria feliz.
Sabendo o quão importante isso é para ela eu apenas concordo com a cabeça e recebo mais um abraço. Eu suspiro ao perceber que na minha nova vida, eu também terei um novo nome.-
Aí está o primeiro capítulo dessa história! Espero que vocês gostem dela e a acompanhem até o final ❤
Essa é só um estímulo visual para ajudar vocês a verem a Arianna (embora ela não seja bem assim até na minha mente). Se você tem alguém melhor em mente, me avisem ❤
Já amo você, querido leitor(a)
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Beijinhos de luz
Tia Su
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Aconteceu na Irlanda
RomanceEu podia sentir o hálito quente dele em meu rosto. Seus olhos queimavam nos meus, e parecia que ele era capaz de não só me ver por fora, mas desvendar o mais profundo da minha alma. Ele me via, e seu olhar me queimava de dentro para fora, trazendo u...