Passado

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Havia se passado exatamente uma semana que as aulas tinham recomeçado depois das férias de verão e eu já me sentia exausto. A minha turma não ajudava em nada, senão incomodar quem queria ficar na sua e naquela altura eu era um adolescente bastante problemático por sempre me envolver em lutas. Eu simplesmente odiava a ideia de ser rebaixado por pessoas cruéis que não sabiam o que estavam fazendo. Era como uma obrigação lutar e nunca me render.

Porém, aquela tarde de sábado podia recompensar todo esses problemas, dores de cabeça. Eu estava no único parque daquela pequena cidade, mas era o suficiente para distrair qualquer criança. Os pássaros cantarolavam, os esquilos rondavam pelo parque cheios de curiosidade e os cisnes se exibiam no lago. O sol ainda brilhava com eficácia e o vento refrescava os nossos corpos, mantendo um equilíbrio na temperatura corporal. Para muitos, o dia estava perfeito.

Na minha opinião, os dias eram sempre o mesmo porque nada realmente me incomodava, apenas a ausência de companhia, novamente a solidão. Por motivos que eu mesmo desconhecia ninguém parecia interessado num garoto de 11 anos como eu. A definição para isso talvez fosse ser um garoto comum com gostos musicais diferentes que preferia ficar em casa mesmo insistindo em sair dela, sozinho ou não para me obrigar a gostar.

E mesmo assim, enquanto jogava à bola sozinho, pude perceber que Julie Whelan,  também estava naquele parque não muito distante de mim, encostada a uma árvore enquanto lia um livro e escutava música pelos seus auscultadores. Ela era minha colega de turma e o meu oposto. Veja só.

Enquanto eu era um simples garoto com alguns problemas financeiros, ela era a imagem da beleza da escola, a menina popular e claro, filha de uma família estrangeira com alguma riqueza. Isso não deixaria de ser um rumo irritante que circulava a escola constantemente como se ainda houvesse alguém que não soubesse disso. Sério. Isso me irritava nela. Ela não fazia nada de mais além de ler os seus livros ou de escutar as suas músicas, mesmo em aula e recebia toda a atenção do mundo.

Hoje também não seria diferente pois por mais que Julie estivesse naquele parque comigo ela continuava isolada com seus livros e fones. Jamais havia passado pela minha cabeça admitir que queria roubar alguma atenção dela, mas parecia que isso não seria possível pois Julie não tirava os olhos de seu livro. Também, o que eu poderia demonstrar de tão fascinante com uma bola? Truques que qualquer garoto da minha idade sabia fazer? Era perca de tempo.

- Desisto. Eu nem estou divertindo aqui. É inutil... - Comentei baixo para mim mesmo, pousando a bola com o pé.

Estava decidido em pegar na minha bola e voltar para casa quando avistei nada mais nada menos do que o garoto mais irritante do mundo, Samuel.

Samuel era mais outro garoto com benefícios de seus pais que agia como se pudesse fazer tudo o que quisesse. Definitivamente não comigo por perto. Ele se aproximou de Julie com as mãos nos bolsos e com a sua típica postura "groovy", como se isso o tornasse mais legal ou coisa do género. Tudo nele me irritava. Ele era aquilo que eu definia como um garotinho mimado sem pensar duas vezes. Não pude evitar senão ficar estático encarando os dois, pois vindo de Samuel nada podia correr bem.

- Olá gata! - Exclamou Samuel, orgulhoso e com um sorriso confiante demais.

- Gata? Quem ele pensa que é...?! - Comentava novamente para mim mesmo baixinho. Ele simplesmente não conseguia falar baixo, porém Julie não dava sinais de atenção. Talvez ela estivesse concentrada demais no livro, talvez a música estivesse alta ou talvez ela estivesse simplesmente ignorando.

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2018 ⏰

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