Gray Day

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" É o Nada, que está em nosso interior e que não somos capazes de encarar, que nos aniquilará." - Michel Aires de Souza .

Escrevo isso enquanto talvez esteja calmo, enquanto o mar do meu âmago não foi tomado pelas tortuosas tempestades do profundo vazio, e essa acídia que me toma todos os dias, hoje não se faz presente em mim .

Volto do meu trabalho mais uma vez entediado e desanimado, as pessoas dizem : "Trabalhe com o que você ama e você nunca trabalhará .", o que é uma profunda utopia, quando se trabalha com o que se gosta, o esforço passa a ser dobrado, por ser o que você é assíduo em fazer, você quer mostrar, mesmo que a si mesmo que você sabe aquilo, se cobra em dobro quando erra em algo que deveria ser óbvio na sua cabeça e e etc ...

Ainda no metrô, as coisas parecem turvas, vejo pessoas com seus livros ou fones de ouvido, tudo silencioso, o clima propício pra cochilar, mas hoje é diferente, minha mente se faz inquieta e presto atenção no trajeto apenas, saio da estação, coço meus olhos e me sinto menos "vivo", o vazio que já não sentia, acaba por voltar, e me pego em lembranças de um próprio eu póstumo, aquilo que eu desejei por muito tempo que estivesse morto, me pego esperando o trem numa mistura de melancolia e tristeza, rezando pro trem chegar logo e eu ir pra minha casa tomar banho e ir dormir . O trem demora e eu acendo um cigarro pra tentar saciar a minha ânsia, tragando a fumaça como quem queria ter trago menos coisas no peito todos esses anos, queimo meus dedos, inferno, o trem chegou e novamente não tem lugar pra sentar a não ser o chão frio, não me importo com isso, mas muitos reclamam .

As vezes nem mesmo você próprio conhece o que sente, as vezes nem a si próprio enfrenta, penso nisso metade do trajeto, a outra metade eu passo pensando em como parar de pensar nisso tudo, mas não adianta, os "demônios" que estavam presos e quietos, agora se debatem dentro da cela imunda e colocam seus braços e pernas para fora, e eu só queria parar de pensar nisso tudo, apesar disso estar acontecendo dentro de mim, me sinto calmo, não sinto medo de enfrentar isso tudo, tento contornar a situação com lembranças boas e pessoas pra se "agarrar" e sair desse meio, e tudo vai bem, como disse, hoje é um dia calmo, o "Nada" que um dia me aniquilará, hoje é apenas um artefato da minha cabeça .

Chego em casa e me deparo sozinho, mas isso não é um problema, tem sido assim há muito tempo, tomo um banho, me sento próximo da varanda, bebo algo e fumo um cigarro (o padrão de felicidade de muitos), enquanto finjo mais uma vez que não vivo, apenas existo .

Thirty days of a empty man .Onde histórias criam vida. Descubra agora