SOMBRA DE MIM

146 0 0
                                    

            Tão glorioso é o pôr do sol como o nascer do mesmo. É um sinal de esperança, que se renova a cada dia, e que a cada ponto da cidade que estiver, é uma beleza diferente que é revelada. O sol é luz que nos traz a sombra que nos segue. Nossa única companheira de verdade.

            Se a minha vida depende de correr para sobreviver, até o fim deste conto, eu estarei morto.

            Corre, corre, mas corre para valer, quem sabe assim não terá uma chance? Porque fraco vocês. Digo a mim mesmo. Eu sei, isto não é muito animador, mas o que eu posso fazer, senão ser sincero comigo mesmo neste meu último momento?

             E ainda assim, eu o via atrás de mim, perseguindo-me, e fraco como sou não saberia como enfrenta-lo. Continuei correr pelas vagas ruas da cidade, que parece-me fantasma com o tardar da noite. Durante o dia, o vi me perseguir, mas com as centenas se movimentando ele não poderia agir. Dito feito, não o fez, até que caísse sobre nós o véu da escuridão e a claridade de um deserto de um lugar escasso de movimentação humana.

            – O que você quer? – Grito, quebrando o silêncio da grande cidade adormecida. Ninguém responde.

            Era de se esperar. Quando o assassino diria em voz alta: Matar você? Nunca. A sombra sai novamente sai por trás de um dos prédios e volto a correr, e não sei para onde ir. Estranhamente a cidade está estranhamente silenciosa e vazia. Eu ainda posso ouvir o eco da minha voz ressoar minhas últimas palavras: O que você quer? O que você quer? O que você quer?

            Quando volto o rosto para trás, vejo apenas algo de longe a caminhar, sem ao menos saber se é um homem, ou mulher, ou algum adolescente fazendo algum tipo brincadeira de mal gosto. Não consigo ver o rosto de longe, e me aproximar dele não seria muito correto e corajoso da minha parte. Alguns carros percorrem a vaga cidade de Belo Horizonte, mas não coragem de parar algum e pedir carona.

            Desculpem-me, meus caros leitores, nunca se sabe quem pode estar dentro do carro.

            Volto a parar para respirar, olho para cima, para respirar um pouco e ganhar um pouco de folego enquanto a sombra continua a caminhar lentamente a me perseguir. Olho para os arranhas céus, e penso que se eu entrar em algum desses ele não me veria, e daí, eu poderia fugir após ele ter passado por mim. Decido que é isto que eu farei. E então, vejo ele cruzar a rua novamente, e volto a correr até encontrar algum prédio aberto para que eu possa entrar.

            Fechado. Fechado. Fechado.

            É tudo isso que consigo ver e ler. Belo Horizonte até me parece uma cidade fantasma.  Em que diabos se meteram os guardas dessa cidade, os vigias e seguranças dos prédios?

            Um sinal no cruzamento se abre e vejo dezenas de outros carros se movimentarem, para lá e para cá. O estranho vira a esquina novamente e volta a caminhar em minha direção. O sinal no cruzamento se fecha e corro para atravessar. Viro uma rua, e encontro um prédio enorme aberto, e entro. Fecho a porta. Fico à espera de que ele passe por mim, para eu consiga voltar e pegar algum ônibus que me leve para longe daqui.

            Vejo a sombra dele apontar pela porta, e ele continua a caminha lentamente. Vejo-o passar. Esta é a primeira vez que consigo vê-lo de perto desde tão cedo, quando percebi sua presença me perseguindo pelas ruas movimentas assim que desci do ônibus pela Praça Sete.

            Havia um acidente, cerca da praça, numa daquelas ruas que sobem de encontro para um shopping e havia um grande considerável número de pessoas rodeando um corpo que estava de costas para o chão. Pareceu-me suicídio. Um grupo de jornalistas se encontravam no local e a repórter dizia:

SOMBRA DE MIMOnde histórias criam vida. Descubra agora