Japão, Novembro de 2014. Eu chego primeiro no ponto de encontro, usando jaqueta e lentes de contato porque a ocasião é especial. Marcamos de nos encontrar às quatro e meia, mas eu cheguei quatro horas. Se eu continuasse em casa teria um ataque de nervos. A tarde está linda, o céu está claro e a iluminação indireta do sol na folhagem de outono deixa o parque ainda mais lindo. Eu me sento em um banco e espero, dez minutos que parecem horas, verificando meu celular constantemente com medo que ele não apareça. Mas ele aparece. Todo lindo de suéter e cachecol. Sorriso largo no rosto quando me vê e acelera o passo em minha direção. Nesta hora me levanto num pulo, rosto vermelho não pelo frio, e penso em correr para dá-lhe um abraço bem apertado, mas me restrinjo. Guardo as mãos nos bolsos e simplesmente digo "Yo!". Ele então me saúda com uma deitada de cabeça, um sorrisão e fala "Gokigen yo, T-chan!". Este gesto é tão simples, e ao mesmo tempo tão típico de Ian que utilizo toda a minha força de vontade para não o agarrar naquela mesma hora; ao mesmo tempo meu rosto atinge um novo tom de vermelho. Desvio o meu olhar e digo a ele para irmos. Não preciso nem olhar para saber que ele está com aquele (lindo) sorriso triunfante por saber que eu sou completamente afetado por suas ações.
Andamos pelo parque em direção ao mirante. Tudo é tão belo, o vento frio carregando folhas vermelhas e amarelas enquanto caminhamos lado a lado por entre elas. Subitamente sinto um calor em minhas mãos geladas, Ian segura minha mão e entrelaça seus dedos aos meus. Meu susto foi visível e seu rosto ficou aparente o medo de ter cruzado os limites. Ele tenta então puxar sua mão de minha, mas eu não o permito. Seguro sua mão firmemente e senti ele relaxar ao meu lado, chegamos ao mirante ainda de mãos dadas. Escolhemos o lugar e eu deixo que ele se sentar primeiro, para sentar bem ao lado dele, seu ombro apoiado no meu e sua mão sobre a minha. Assistimos o pôr-do-sol em silêncio, simplesmente aproveitando o fato de estarmos juntos, desfrutando cada segundo de nossa proximidade. Certa a altura paro de ver a paisagem, e somente admiro o rosto ao meu lado e a luz do sol naqueles cachos de seu cabelo. Ao perceber que o observo, ele sorri, e rouba-me um beijo. Um simples toque de lábios, mas suficiente para me deixar completamente vermelho, mesmo à luz carmesim do poente. Ele ri alto, uma gargalhada vívida, e aperta minha bochecha; tenta falar algo incompreensível com a falta de fôlego da risada. Aproveito então esta oportunidade para executar minha vingança, volto-me para ele e roubo-lhe um beijo. Quando me inclino para encerrar o beijo, sinto suas mãos em minha camisa, segurando a borda do gorro e puxando-me de volta para o beijo. Um beijo de verdade. Derreto-me em seus lábios, sinto-me afogando neste beijo e consigo sentir que Ian está tão perdido em nosso contato quanto eu. Este pensamento deixou-me com um feliz calor na barriga ao mesmo tempo que me fisgou o coração. Não foi até alguém dar uma pigarreada propositalmente alta por trás de nós que lembramos onde estamos. Constrangidos, mas não envergonhados, assistimos o anoitecer dominar o céu, mãos unidas e sorriso no rosto. Caminhamos nosso retorno, ora de mãos unidas, ora soltas para enfatizar com gestos as conversas completamente aleatórias que temos. Pedimos nossa janta em um takeout restaurant e comemos enquanto andávamos em direção a sua casa.
Já na porta de seu apartamento eu consigo a coragem de pedir para entrar com ele, mas sou negado. Meu estômago afunda e sei que devo estar com uma expressão devastada, porque devo ter feito algo errado. Tudo pareia ter dado tão certo, onde eu errei? O que fiz para deixá-lo desconfortável ou pior, para fazê-lo desgostar de mim? O encarando, mas completamente perdido em meus pensamentos, ele descansa uma mão em meu ombro e sussurra em meu ouvido palavras somente para mim. E dá-me um beijo na bochecha. Tão inocente, tão fofo, tão Ian que meu cérebro derrete e sou incapaz de responder qualquer coisa quando ele me deseja boa noite enquanto entra pela porta. Eu ainda estou encarando a porta com o rosto completamente vermelho, mal sabia que ele também estava do outro lado, sentado no chão, costas na parede, com o rosto vermelho como pimentão.