monèt;

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poderia decifrar seu olhar interessado por cada mínima palavra redigida naquele texto sem nexo. nunca poderia compreender seu interesse tamanho por matérias monótonas, mas conseguia ser como você, assim como a biologia, adoraria me aventurar por cada mínimo processo do seu corpo esbelto, e por fim, descobrir qual a matéria estelar que constitui a minha inspiração.

acredito, jungkook, que finge não notar minhas enormes lumes acastanhadas fitando cada pedaço de sua epiderme. seus fios, levemente negros, assim como seus olhos tão incolores. sei que tens autoestima baixa, e por isso, não gosta que citem demasiadamente a beleza que carrega consigo. eu não tenho tamanha capacidade de dar-te minha arte pura, pois nem os mais belos traços de rembrandt delineariam a venusta harmonia de seu rosto, tampouco chopin faria-te uma melodia tão doce quanto o peso dos seus dedos sobre o rosto, que agora leva seus olhos tão curiosos até o chão. tens vergonha do meu amor?

poderia nos definir, em suas palavras, como a metáfase. a divisão alela de genes. ou mais precisamente como a anáfase, onde os mesmos estão tão afastados, que ocupam polos diferentes dentro da mesma célula.

eu sei, jeon, também doeu cada mínimo olhar violento que recebemos juntos. também tive a costela tão deslocada que mal poderia levantar da cama, e mesmo assim, explicito meu amor por você. eu te compreendo, você não quer se machucar.

e eu não quero que você se machuque.

mas pra isso, irá doer mais ainda em minh'alma a frieza com que finge não se importar. o modo lúcido e gélido das suas palavras. você nunca namoraria um garoto, não é? jeon jungkook, sua reputação é boa demais pra seguir em frente sem nem ao menos lembrar-se do sabor adocicado dos meus beijos? vale mais a pena um abraço falsificado do que o meu amor puritano?

eu espero que a sua resposta seja sim. outrora, tratarei de fazer o mesmo.

a anatomia do seu corpo mostra o quão avermelhado se encontram os locais dos inúmeros socos, mas ainda sim, apostaria em selar seu pescoço, colorir cada mínima célula com tons arroxeados e fazer-te esquecer o mundo cruel que te impediu de ver que, seu corpo, tem o encaixe perfeito no meu.

biologia, o corpo. linguagens, o uso indevido dos pronomes possessivos. tu não és mais meu, tu és do mundo.

seu corpo não me adentra mais, não me faz mais o seu garoto.

agora, enquanto você se despede gentilmente dos seus amigos e me olha com um olhar decadente, termino minha última obra. tal qual nem monèt decifraria. tu não és o meu jeon, não o covarde que me abandonou pela vergonha. tu, a arte angelical e que levaria a coragem com maestria, habita até o meu papel imaculado. meus dígitos estão longe o suficiente dos seus, mas carregam a caneta.

logo, células diferentes. indiferentes. se tens medo da opinião alheia, temerei meus próprios sentimentos.

espero que quando sinta o amargo do café, não venha buscar meu doce mel. logo, não serei mais teu.

afinal, a arte que faz o artista é a dor. a dor nas palavras.

e você, me viu doer e fez-me como o pó de magma. todo o calor de seus braços, se transformaram no alasca.

e eu, o garoto que você prometeu nunca abandonar, observa-te com paixão. amar-te-ei pela eternidade, mas a eternidade pra ti, não passou de mentiras superficiais.

metáfase; arte.Where stories live. Discover now