00:00. O relógio marcava.
Eu estava deitada no meu quarto esperando aquele momento no qual, finalmente, o sono chega.
Apenas esperava.
Olhei ao redor. A escuridão pairava pelo quarto. Você já sentiu que tinha alguém te observando no escuro de seu quarto? Eu senti aquilo. Eu senti alguém naquela escuridão me olhando. Pode ser apenas coisa da minha cabeça, pois não é á toa que eu sou tão medrosa, mas também, por um lado, esses momentos são bem reais.
Me sentei.
Senti os ombros pesarem e fiquei observando o nada.
Meu coração acelerou, consegui sentir na minha garganta prestes a sair pela boca.
Um rangido assustador fez minha espinha congelar. Aquela ideia de alguma coisa estar ali, na escuridão, se concretizou naquele mesmo instante.
Algo estava abrindo a porta do guarda-roupa. Algo que vinha me buscar, ou pelo menos era isso que eu pensava.
O rangido continuou até eu escutar algo pisando no piso de madeira. Pisou, e parou.
O silêncio tomou conta dando mais ênfase para aquela atmosfera de terror.
Arregalei os olhos, assustada, e respirei fundo.
Escutei outro passo. Estava se aproximando.
Meu corpo não queria viver aquele momento. Eu não queria.
Outro passo. E mais outro.
Escutei a respiração daquilo. Era pesada e lenta. Assustadora e medonha. De arrancar o seu coração pela boca.
O que aquilo queria? Me levar? Retirar meus órgãos e comê-los? Me amaldiçoar? Me matar? Ou simplesmente me assombrar para que meu medo só aumente?
Eu não sabia ao certo o que aquela coisa queria, mas estava ao meu lado. Eu sentia. Estava sentada ao meu lado. Em minha cama.
Minha respiração começou a ficar ofegante.
Uma luz alaranjada, meio vermelha, fraca, começou a sair do guarda-roupa. Era fraca, mas forte o bastante para iluminar um pouco o quarto.
Eu não queria olhar para o lado. Não queria. Mas algo queria que eu olhasse. Algo muito obscuro dentro de mim, e que, eu creio, que está em todos nós.
Vi os pés daquela coisa. Eram pés humanos. E estavam sujos de terra. Terra.
Minha cabeça se virava bem lentamente para o lado. Para o lado onde aquela coisa estava. Ao meu lado.
Quando eu ia finalmente ver o que era aquilo... algo... alguém
tapou
os
meus
olhos.
Ouvi um gemido de raiva, ou dor. Provavelmente da coisa que saiu do guarda-roupa.
Aquela mão ainda tapava os meus olhos e, levemente, me empurrou para que eu deitasse.
Deitei e adormeci.
Me livrei.
Graças aos meus olhos tapados.
Graças a quem os tapou.
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Olhos Tapados
Short StoryÉ na escuridão que as coisas mais assustadoras se escodem... e é tapando os olhos que podemos nos livrar de ver-las. E Elisa conseguiu se livrar. CONTO DE TERROR. Copyright © 2018 by Reiko Almeida. Plágio é crime!