CAPITULO 1 - The Start

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*Camila POV*

Mais uma vez acordei em meio a roupas jogadas e uma garrafa de whisky ao meu lado, a dor era simplesmente algo que eu não poderia conter, era apenas meu jeito de lidar com as coisas. Drogas e bebida. Minha cabeça girava um pouco e eu olhei ao redor, bebidas espalhadas por todo canto, heroína, cocaína e maconha estavam em um canto da pequena mesa de centro do lugar em que eu moro. A partir do momento que me levantei por completo, senti meu estômago dar uma revirada e então corri para o banheiro. Mal deu tempo de chegar e eu já estava ajoelhada no vaso sanitário, vomitando. Já havia virado rotina.
Minha dor? Familia. Vivos? Não. Quanto tempo? Um ano. Quantos anos tenho? 21. Como me envolvi em drogas? Mecanismo de defesa contra dor. Consegui escapar dela? Apenas aliviar. Para sempre terá um buraco em minha alma. Simplesmente vazia e quebrada.
Desde pequena, minha família sempre foi o meu porto seguro, as pessoas com quem eu pude contar para absolutamente tudo, então sim, a dor era profunda e me assombrava cada dia. Por saber que eu era a culpada. Por ter sobrevivido. Por ter me deixado levar. Minha família sempre confiou muito em mim e na carreira que eu queria seguir, mas bastou uma briga. Uma briga.
Não consigo me lembrar a última vez que comi, talvez semana passada, não me importo com isso. Eu moro em um grande e espaçoso tipo de trailer, não tenho vizinhos graças a deus, aqui é meu espaço e somente meu, dispenso formalidades com outras pessoas, apenas quando necessário.
Eu estava completamente fodida. Me olhei no espelho quando consegui me colocar apropriadamente de pé e eu juro que estou parecendo algo pior que o mais feio animal. Olheiras misturadas com o lápis de olho antigo borrado, se fazem presentes abaixo de meus olhos, meu cabelo completamente despenteado e minha boca ressecada apesar de tamanha bebida alcoólica que ingeri na noite passada ou em esses 7 meses em geral. Patético. Apenas patético. Eu me tornei quem eu jurei que não seria.
Coloquei alguma roupa qualquer e saí para ir "trabalhar". Durante esses 7 meses eu me envolvi com um bando de traficantes e se não bastasse isso, aprendi a trabalhar para eles, assim descontaria o meu trabalho em drogas, o que valia a pena no final do dia. Acontecia que de vez em quando, havia conflitos entre máfias inimigas à nossa, o que era bom porque eu aprendia a me defender cada vez melhor. Davi era o meu segundo pai, depois do acidente, depois de ter me envolvido com ele e com as drogas.
Enfim, Davi me acolheu como parte da мудрость, minha família desde então. Múltiplos juramentos, cortes por minhas costas e um longo gole da bebida mais forte que tinham. Isso foi o que me custou para entrar para a família dos мудрость ou Mudrost' e hoje a mais aclamado imagem feminina lá dentro. Mudrost' tem seu significado por "sabedoria", qualquer movimento, fala ou pista deixado para trás, nos utilizamos contra o nosso rival. Estratégia. Tática. Praticidade. Foi o que aprendi enquanto estive lá.
O caminho até onde nossa gangue se mantém em esconderijo é curto, apenas três quadras de onde moro. Com uma calça preta de couro, uma bota de salto preta e uma jaqueta de couro, fui até onde me encontraria com a gangue, hoje vamos ter treino pesado e eu provavelmente não irei aguentar até o final, consequências das bebidas e drogas. Enfim, pagaria o preço. Cheguei em frente a grande fábrica "abandonada" e assoviei por um pequeno cano que havia ali, a nossa canção que servia de código: Era - The mass, a musica que fundia nossos pensamentos.
O portão se abriu segundos depois e todos meus irmãos diante da minha figura, se curvaram. E não, eu nunca cansaria de sentir esse poder passando pelas minhas veias, é algo no mínimo excitante. Cumprimentei cada um deles e por último o Mestre Davi ou Дэвид, ele estava com um brilho diferente nos olhos então resolvi deixá-lo quieto hoje, conhecia bem ele. Fui para um compartimento da fábrica onde minha roupa estava em um cabide, pendurado a um espelho.
Como sempre minhas roupas tanto de treino quanto de luta externa eram impecáveis e eles faziam conta de enaltecer a única imagem feminina que se fazia presente entre eles, e eu particularmente não reclamo, mas não demonstro minha satisfação em ser empoderada. Hoje a roupa do treino era azul marinha, um cropped/top colado e a parte debaixo é uma calcinha que mais parece um short pequeno e por cima um velcro transparente, nos pés uma sandália que cruzava por toda minha canela até meu joelho.
Quando voltei todos viraram seus rostos para prestar atenção na grandiosa figura que viam, a incrível Карла Эстрабао ou Karla Estrabao. Voltei minha atenção ao Mestre Дэвид e a música começou a tocar, então com movimentos de dança misturados com defesa pessoal, eu comecei a travar uma luta com um de meus irmãos, é assim continuaria por até o fim daquela manhã.

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