3° Seção

128 26 161
                                    

A cúpula estava em morto silêncio. Todos haviam descido, estando em seus respectivos andares. No meio, o humano andava de um lado para o outro. Andava, ao ponto do ser sentado irritar-se, gritando: "Ora, mas por favor! Sente-se! ", e ele: "Não consigo! Minha mulher vai se sentar naquela cadeira, e talvez me trucidar! "

O espírito levantou-se, obrigando-o a sentar-se. Disse-lhe: "Não irá ser somente ela. Serão 3 almas", e ele: "Sim, tenho dois filhos. Eu...não sei. Fiz o que pude para criá-los, e ser um bom pai, mas a opinião deles pode ser diferente. Agora eu percebo que talvez eles estivessem sofrendo. Talvez se cortassem na banheira, e pensavam em se matar, enquanto eu estava lendo o jornal. Enquanto agia pior que um cego!"

Ao escutar isso o espírito se sentou em sua cadeira acolchoada branca, olhando o palco do júri.

"A verdade, é que todos cometemos erros. Pequenos, ou grandes. Ferimos pessoas com palavras, e as salvamos. Deixamos de fazer coisas, e o fato de não fazer, pode às vezes ser melhor. Não tem como julgar alguém por algo, sendo que o próprio destino é sacana"

Meio em transe, o que era humano perguntou:

" O destino é uma pessoa também? Porque, se for, então ele me deu um soco no estômago!".

Em gargalhadas caiu o ser belamente horripilante ao seu lado, mostrando um sorriso lindo. Simplesmente belo, e gracioso.

"Deveria sorrir mais'', o antes vivo disse, admirando tal belo sorriso. " Você mesmo disse que sorrisos são raros, então, deveria praticar mais.".

Envergonhado, ele voltou a fechar o semblante.

"Não se pode sorrir atoa, tolo humano. Sorrisos são bons, mas só quando são verdadeiros".

E ele, perguntou: "Creio que tens razão. Oh! Eu acabei de falar de forma formal. Acho que isso tudo está me fazendo ficar lokão".

Novamente, o ser à esquerda riu, agora de maneira descrente.

"Sabe, você de alguma forma me faz muito bem. Sei que quer me comer com os olhos, e jogar minhas entranhas para os demônios do baixo piso do inferno, mas... Eu não sei".

E ele, em resposta "Agora, assemelha-se à vosso pai. Não sabe, e não quer dizer nada. Sentimentos foram feitos para serem usados, então diga logo o que te aflige, e pare de fazer graça".

O homem levantou-se, e ficou à frente do alto palanque do juiz principal.

"Eu penso... Será que meu cachorro, está bem? Será... Que há alguma possibilidade daquele mundo cruel, não maltratá-lo de novo?".

O espírito surpreendeu-se, ao ponto de quase abrir a boca em descrença, mas não o fez. Ao invés disso, perguntou: "Está preocupado com o seu cachorro?"

O humano concordou, passando a mão por sua barriga, já que agora lembrava-se do ocorrido. De como morreu, e porquê.

"Não deixamos ele vir conosco. Era somente um final de semana, e a Velha doida dos gatos disse que cuidaria dele. Ele já tinha sofrido tanto...".

"Talvez ele quisesse ter ido.'' O humano olhou para o espírito. "O sentimento de ser abandonado, às vezes é igual ao de estar morto".

Isso, o humano teria que concordar. Havia ele mesmo que sem saber abandonado sua filha antes que nascesse. Não havia dado uma chance a ela, ou ao destino que possibilitasse um final feliz aquilo. E foi exatamente o fato de não ter abandonado a moça da primeira seção que possibilitou que ela levasse a vida adiante, até uma parte em que não conseguia mais aguentar. Ele abandonou sua mãe, assim como seu pai havia o abandonado. Sim, na verdade, tudo no fundo sempre tem a ver com abandono. Quem você deixa para trás, para conseguir ir para à frente.

Julgamento dos Terráqueos Onde histórias criam vida. Descubra agora