Capítulo 2 - A inscrição e o Blazer Preto

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No dia seguinte, às 7 da matina, Aura, Susan, Madison e Mary estavam no velho carro azul de quatro portas da familia Weiss, cujo motor barulhento que as vezes parece a ponto de explodir.
No banco de trás, Aura e Susan dormiam apoiadas uma na outra, seguradas pelos cintos de segurança. Aura havia chegado dormindo em pé enquanto Madison ainda se arrumava e Mary abriu o carro para que ela cochilasse no banco de trás. Susan ainda estava dormindo quando Madison tinha terminado de se arrumar, então Mary apenas vestiu um moletom nela, com sua carteira no bolso e a arrastou para o carro com ajuda da filha, que ficou na frente para lhe fazer companhia enquanto dirigia.
A rádio tocava sucessos dos anos 80 e Mary dançava animada. Madison programava o GPS e monitorava as napeiras no banco traseiro.
- Elas dormem como pedras, né? - Disse Madison, sorrindo.
- Pois é, sua tia deve dormir umas 20 horas por dia, não sei como fazia para ir nos shows da banda dela. - Mary observou, mudando a marcha.
- Será que foi por isso que eles brigaram com ela? Mas ela não tem culpa de ser uma dorminhoca! - Madison defendeu a tia, com os braços cruzados, brava.
- Isso é verdade. Ela adora dormir. - Observou Mary, comendo metade de um bolinho.
Madison olhou pela janela e apertou uma mão com a outra.
- Espero conseguir a bolsa... -Sussurrou, insegura.
- Não se preocupe com isso, meu bem... lembre de dar seu melhor e o orgulho que vai sentir de si mesma vai valer mais que isso. - Aconselhou Mary, abrindo um grande sorriso (e ignorando a estrada).
- T-Tudo bem! - Madison bateu palmas, feliz.
Aura e Susan começaram a roncar.
- Eeeeeu heeeeein... quem se casar com essas duas vai ter sérios problemas pra dormir à noite. - Observou Madison, assustada.
- E pra ouvir o som do carro! - Mary soltou uma gargalhada e aumentou o som.
Durante as duas horas de viagem, Susan acordou, depois Aura, as quatro conversaram sobre trivialidades e quando menos esperavam, chegaram ao destino.
A grande cidade de Touvelle abriga uma infinidade de lojas e serviços, além de ser um lugar ótimo para jovens adultos que sonham em começar próprio negocio ou uma carreira artística, por fornecer oportunidades de crescimento e investimento para projetos independentes.
A luz do sol encontrava brechas entre os altos prédios para iluminar o asfalto das ruas.
Ao estacionarem o carro, mãe e filha foram até a galeria juntas. Aura ficou parada ao lado do carro olhando para o teatro, estática. Susan pôs a mão no ombro da garota.
- Quer que eu vá com você? - Perguntou, de forma gentil.
- N-não precisa! - Aura deu um sorriso nervoso. - Eu consigo!
- Ok, então vou ficar aqui caso precise de ajuda. - Susan disse, se encostando no carro.
Aura concordou com a cabeça e foi até a fila, tremendo, mas se arrastando até lá apesar do medo. Ao se aproximar, ela notou que a fila começou a se desmanchar. Algumas pessoas saíram andando devagar e outras correndo. Ela apertou o passo e viu um pequeno grupo que ficou envolta da mesa do senhor que anotava as inscrições:
- Mas no jornal não disseram nada disso! - Esbravejou o homem de jaqueta de couro preta.
- Como assim pagas!? - Questinou a mulher magra de nariz fino, com um olhar ameaçador.
- B-Bem, sinto muito o transtorno, mas a taxa havia sido passada... - O senhor tentava explicar, apreensivo.
Aura se aproximou de uma uma jovem com um clarinete.
- O-O que... qual o problema? - Aura balbuciou, tensa.
- Ah, parece que a inscrição é paga. 120 libras. - Explicou a moça, ajeitando seus óculos escuros. - Bom, eu vou voltar a tocar na esquina que ganho mais. Boa sorte aí.
Aura sentiu seu coração apertar e o estômago embrulhar. Todo o dinheiro que ela tinha, havia gasto na câmera profissional. Ela andou de volta até o carro, anestesiada e antes que pudesse cair, abraçou Susan.
- O que foi? - Susan perguntou, preocupada.
A jovem ouvia apenas um zumbido nos ouvidos. Algumas lágrimas escaparam de seus olhos, mas de repente, uma ideia iluminou sua mente, fazendo com que ela desse um salto, como se tivesse voltado sido reanimada.
- Participa comigo!? - Perguntou a ruiva, com a voz um pouco embargada, mas firme.
- Hã? - Susan estava um pouco confusa, mas aliviada pela jovem parecer melhor.
- Olha, a inscrição é paga e são 120 libras, você me empresta o dinheiro, participa comigo e com certeza a gente se destaca na audição. - Explicou Aura, com um brilho ardente no olhar e um sorriso convicto.
- 120 é tudo que eu tenho, Aura. - Susan explicou, receosa.
- M-Mas... eu pago você depois! Por favor só diz que aceita! - Aura insistiu, um pouco insegura.
Susan se sentou em uma mureta ali perto, pensativa, enquanto Aura a observava.
- Eu não sei, Aura... - Susan disse, olhando para as nuvens e suspirando.
- Eu... - Aura se aproximou de Susan, com a cabeça baixa. -Não quero que faça nada obrigada... mas... isso seria realmente importante para mim. - Falou baixo, apertando seus dedos.
- Senta aqui. - Susan pediu, sorrindo carinhosamente.
Aura se sentou perto de Susan, abraçando suas pernas.
- Há quanto tempo você pratica? - A loira perguntou, brincando com seus cabelos.
- Todos os dias há dois anos e foco bastante nisso. - Aura contou, confiante. - E estou disposta a treinar o quanto você achar que for preciso! - Completou, determinada, embora estivesse balançando punhos por conta da ansiedade.
"Que fofinha essa determinação." Pensou a loira, sorrindo.
- Hm... - Susan olhou para a para o teatro e pareceu triste. - Pra ser sincera com você, eu estava pensando em dar um tempo da música...
Aura sentiu uma grande adrenalina e antes que Susan pudesse continuar, ela disparou suas palavras:
- M-Mas não pode parar assim! Tenho certeza que sua banda vai continuar tocando sem você, não é justo você parar por causa deles! Mesmo que não toque comigo, não pode desistir de tocar pra você mesma, você é minha inspiração! - A ruiva discursou, ficando extremamente tímida ao terminar e perceber o que havia dito.
Susan se levantou e riu, colocando as mãos nos bolsos.
- As coisas acontecem de formas tão inesperadas... Eu estava na dúvida, mas você me ganhou na parte da inspiração, vamos lá pagar esse negócio. - A loira virou para Aura, sorrindo, e piscando para ela.
- S-Sério!? - Aura estava com estrelas nos olhos. - Mas vai participar comigo? - Perguntou, um pouco sem jeito.
- Vou, mas depois eu quero o dinheiro de volta. - Susan informou, pegando a carteira.
- Muito obrigada!!! - Aura gritou, podendo ser ouvida até da esquina e começou a pular no lugar.
Susan riu. As duas foram até o prédio e fizeram a inscrição.
- E cheguem na hora, depois que as portas fecharem ninguém mais entra! - Advertiu o senhor grisalho que anotou a inscrição, apontando a caneta que segurava para as duas.
- Sim, senhor! - Aura ainda estava saltitante.
- Agora, eu preciso de um baixo. -  Susan olhou envolta com a mão na testa, viu Mary e Madison saindo da galeria e correu até elas. - Mary, me empresta dinheiro pra comprar um baixo, por favor? - Pediu, com as mãos juntas, fazendo uma carinha de anjo que com certeza não era santo.
- Hã? Mas... quem está te pagando sou eu, aí eu não pagaria sua dívida pra mim? - Mary estava confusa. - E sem falar que o dinheiro que eu tenho é para eu pagar uma massagem nos pés enquanto vocês tomam um sorvete.
- Sorvete de baunilha... - Susan recuou, olhando triste para Aura.
- Eu pago depois! Pago a massagem e a gasolina! So vou precisar fazer... talvez umas horas extras, mas eu pago! - Aura exclamou, sorrindo de nervoso e gestulando rápido com as mãos.
- Você? - Mary ficou mais confusa do que já estava.
- Nós vamos participar da audição juntas e precisamos do baixo para nos prepararmos. - Susan explicou, calma.
- Oh, Tudo bem, então... Mas, precisa me pagar logo, olha que eu cobro, hein? - A mulher parecia um pouco hesitante. - Eu não consigo viver sem as massagens da senhora Ling...
- Sim, senhora! Muito Obrigada!
Aura pegou o dinheiro e abraçou Mary, que ficou surpresa. A ruiva levou Susan para a loja de instrumentos, a conduzindo pelo pulso, com um sorriso enorme e o rosto corado. A loira apenas a observava, rindo, contagiada por sua empolgação. "Não sei se isso vai dar certo... mas com certeza vai ser divertido!" Pensou, sorrindo.

Nos bosques de AbbotOnde histórias criam vida. Descubra agora