"Não se esqueça
O coração não pode morrer
Não se esqueça
Que os sonhos são desmentidos pela realidade"
– Ominous (The GazettE)
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Tic... Tac...
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Tic... Tac...
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A batida do relógio contava cada segundo a menos da vida, da minha vida, enquanto a cama parecia confortável demais para se levantar, ainda assim, já estava na hora de acordar para mais um dia mesmo com todo o peso do sono que a insônia me trazia. Apoiei-me com os braços para me levantar ㅡ Já se passaram dois anos desde que tudo aconteceu ㅡ já sentado, alcancei a cadeira de rodas ao lado da cama e me sentei.
Já se passaram dois anos desde que a minha rotina é igual, cinza, repetitiva e entediante, eu entrava na cozinha, cumprimentava meu pai ㅡ desde dois anos atrás, até o fim de sua vida, aquele olhar melancólico nunca deixou o seu rosto ㅡ um homem de bom coração, mas agora ele está ferido demais para olhar para o seu único filho, ele segue sua vida repetitiva assim como eu, e quando está em casa fica sempre em seu quarto remoendo lembranças dos velhos tempos que nunca irão voltar.
A comida tem um gosto qualquer, as pessoas da escola são todas iguais, seguindo suas vidas sem olhar para trás, os professores? Eles estão, mas ao mesmo tempo não estão lá, afinal, quem liga para um aluno silencioso que faz suas lições sem participar?
Enquanto o professor tagarelava sobre o mundo, o lado de fora tinha o céu acinzentado, pronto para se despejar na terra, estava úmido, o tempo passava devagar, passava... E quando percebia não me lembrava de mais nada do que havia acontecido, apenas prosseguia ali, encarando a janela não tão distante, esperando pela primeira gota de chuva... Quando o relógio me chamou a atenção, eram 17h59min.
Tudo era igual, por mais que eu tentasse mudar, eu apenas me afogava cada vez mais nesse mar, que com suas ondas me guiavam para onde bem queriam, era o que me forçava a levantar da cama e ir para a escola, e de lá para casa, pode parecer algo bom, até que você se lembra de que não sabe como nadar ㅡ a porta de casa finalmente se abriu, revelando o breu daquele lar ㅡ já dentro de casa, observei que meu pai não havia chego ainda.
Já estava escuro do lado de fora, a chuva que eu tanto esperei durante a tarde ainda não havia parado, muito pelo contrário, ela caia cada vez mais forte, fazendo ruídos altos, como e a mãe natureza estivesse esbravejando toda a sua raiva sob a cidade.
As luzes da sala de estar se acenderam, tudo estava exatamente igual, com exceção da mesa de centro, que se encontrava bagunçada por vários papéis, pela primeira vez em tempos, algo dentro daquela casa me chamou a atenção, a solução para meus problemas com a insônia, levei as pílulas que ele havia esquecido dali, esta noite eu pularia a hora do jantar.
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Ikigai
Teen Fiction"Tudo era igual, por mais que eu tentasse mudar, eu apenas me afogava cada vez mais nesse mar, que com suas ondas me guiavam para onde bem queriam" Entre a terra firme da realidade e a beira de um penhasco de um sonho sem fim, você pularia? 09.07.18...