Capítulo único

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Ela está ao meu lado, imersa na leitura do livro em seu colo. O único movimento além dos olhos correndo concentrados pelas frases é o de seus lábios cor de morango sussurrando discretamente palavras inaudíveis.

Um vinco quase imperceptível surge entre as sobrancelhas e ela mordisca o lábio inferior, distraída. Ergue os olhos em minha direção e me flagra observando-lhe sem pudor, então sorri. Não me lembro de nada mais sublime. Perco-me durante alguns instantes antes de lhe corresponder, mas tenho certeza de que o delinear gentil de meus lábios é indigno de tamanha beleza.

Percebo que ela diz algo, mas sou incapaz de prestar atenção. Estou completamente enfeitiçado pela nossa proximidade, enamorando-me por cada centímetro de seu rosto. Posso ver claramente cada um de seus traços. As íris verdes e vívidas, cada fio acobreado de cabelo nos cílios e sobrancelhas, o nariz fino e delicado a inspirar e expirar ritmicamente o ar e aqueles lábios. Avermelhados, macios, ternos e dolorosamente atraentes. Seu perfume adocicado e inebriante recrudesce aquela situação já irremediável, encarrega-se de macular ainda mais minha mente com luxúria.

Estendo a mão para afagar-lhe a beleza. Deleito-me ao calor e maciez da tez pálida enquanto ela me priva de vislumbrar seus olhos por um momento, fechando-os ao apreço do toque. Então os abre novamente com um novo vigor e intensidade. Sinto seu toque em minha nuca, os dedos entremeiam meus fios de cabelo enquanto seu suspiro se encontra com o meu e entorpece os sentidos já débeis. Meus lábios anseiam pelos dela. Mas, antes que nosso anelo se concretize, ela se desfaz. Desvanece e escoa pelos meus dedos, dolorosamente intangível. Em desespero, palpo o vazio.

- Volte, Lily.... por favor - suplico num murmúrio baixo, mas só as vigas que sustentam o teto do meu quarto me encaram de volta.

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