Mentiras

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Da tua poltrona

Tu regias o mundo

O teu tamanho

Era a medida de todas as coisas


MB  

Silenciei o celular no primeiro toque. Hoje eu não precisava de despertador pra acordar.

Tá, era umas 10 horas. Faltei da aula, beleza. Hoje eu podia. Hoje meus velhos voltavam pra casa, a qualquer momento eles estariam aqui. O tempo do meu velho é apertado. Não queria vê-lo só no Colégio.

Era normal que eles ficassem fora por muito tempo. Senhora Borowski sempre estava em algum spa, e meu pai, homem de negócios, só tinha tempo pra mim se fosse pra pedir algo. Mas hoje ia ser diferente. Quem sabe hoje — hoje, por favor — eu pudesse ver meu velho e abraçar minha mãe?

Me levantei rapidamente e vesti qualquer camiseta e bermuda apresentáveis. As roupas combinavam com o tempo lá fora. O sol entrava fresco pela janela. O clima tava ótimo.

Chequei o celular uma vez. Havia uma mensagem da minha musa, me desejando bom dia. Hoje nós veríamos depois da reunião d'Os Lagostins. K1 era meu ponto de apoio, a pessoa com quem eu mais contava. Eu me sentia só, mas com ela não.

E quando não estávamos juntos, eu compensava com outras coisas.

Álcool. Drogas ilícitas. Chocolate. Festas, porque odeio ficar sozinho por tanto tempo nessa casa. Sei lá.

Respondi a mensagem, não esperando uma resposta. Ela estava em aula. Abri o grupo d'Os Lagostins e mandei uma outra mensagem.

Os Lagostosos

MB: tem alguem aí?

Esperei alguns segundos pela resposta.

Samanthinha Lagostosa: Oi, tô aqui

MB: ué

MB: n foi na aula hj? tava esperando o felipinho responder

Samanthinha Lagostosa: Preferi estender o fim de semana

MB: ah kkk samanthinha, como vc tá?

Samantha enviou uma foto

Ela estava deitada debaixo das cobertas, a cara amarrada, os olhos quase fechados de sono, o cabelo bagunçado. E ainda assim Samanthinha era linda, eu precisava admitir.

A foto vinha com legenda.

"MB meu anjo, nunca te pedi nada, me deixa dormir"


xxx


11:30. Eu estava começando a ficar ansioso. Mais ansioso. Minha perna subia e descia, os dedos tamborilavam na mesa da varanda.

A aula já tinha terminado, no Grupo e no Cora. A chegada dos meus pais em casa estava prevista para 12h. A reunião da banda tinha sido combinada para depois da chegada deles, para que eu pudesse lhes falar.

O celular vibrou, anunciando uma nova mensagem. Estendi a mão, ansioso, desbloqueei a tela. Baixei os olhos para a notificação. Uma mensagem do meu amor.

Depois das OitoWhere stories live. Discover now