Prólogo

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[...,] E assim, andando a passos pesados, sentindo cada vez mais dores ao redor da minha cintura, cujo espartilho minha mãe apertara tantas e tantas vezes, nos despedimos nos bastidores. Ao mesmo tempo em que ela corria de volta para a primeira fileira da platéia,me olhava de uma maneira um tanto quanto indecifrável. Eu jamais poderia dizer se ela estava orgulhosa, apreensiva ou com raiva. Talvez uma mistura de sensações. Tentando dar o meu melhor sorriso, com a clássica pose de mão na cintura, eu tentava responder as perguntas do homem ao microfone, ao mesmo tempo em que eu suava. Eu já havia passado por todas as etapas, faltavam apenas duas finalistas depois de mim, contando comigo éramos três na disputa pelo prêmio. O país todo nos assistia. Só mais um pouco e eu finalmente conseguiria a tão sonhada tiara,a  faixa  e o dinheiro, de miss Estados Unidos. Exatamente como minha mãe queria. Ela morreria se eu não conseguisse. Depois disso, eu estava um passo para concorrer ao Miss Universo.
- E então,senhorita, conte-nos, porque acha que merece ganhar o concurso?
- Eu....
Não havia mais como responder, mesmo se eu quisesse. Tudo ao meu redor foi ficando borrado, eu não conseguia mais distinguir formas e cores, mas eu sabia que a expressão facial da minha mãe estava se transformando em puro desgosto e ressentimento, mesmo sem eu precisar ver. O cenário foi apagando, e eu já não me lembrava mais de nada. Acordei em uma maca de hospital. O médico nos disse que eu desmaiei porque não havia me alimentando direito, e o fato de estar usando uma cinta muito apertada e de tamanho inferior ao meu verdadeiro manequim, impediu que houvesse circulação sanguínea adequada ao meu cérebro. Perguntei se eu havia ganhado. A enfermeira apenas disse "você se saiu muito bem, o terceiro lugar não é tão ruim", e se retirou. A garota do Texas levou a coroa. Minha mãe murmurou apenas "descanse" entre dentes e após eu levar alta, caminhamos em silêncio até em casa.
Eu não aguentava mais aquela ausência de vozes. Estava morrendo de medo, eu sabia do que minha mãe era capaz quando era contrariada, principalmente meu pai. Chegamos diante da nossa cerca e eu já estava suando de agonia:
- Mamãe, me deixe explicar, a culpa não foi minha...
- Calada, Cassidy. Calada. Quando chegarmos em casa, o seu pai irá cuidar de você.
"Essa não", meu coração parecia que iria sair pela boca. Eu não podia me encontrar com meu pai, não depois daquele dia. Eu precisava fugir. Senão eu iria ser violada. Mais uma vez.

Nascida Pra BrilharOnde histórias criam vida. Descubra agora