A noite dali de cima era mais fria e silenciosa. Essa foi a primeira constatação de Tony ao fitar a cidade de cima do arranha-céu que era a Torre Stark. A noite era solitária também. Na verdade, ao contrário do que sempre fazia, aquela era uma solidão voluntária. Sem festas, sem badalação. A cidade quedava silenciosa e triste, e os noticiários ainda gritavam sobre o acidente em Stamford. Ainda se falava de política, super-humanos, registros e Stark Stark Stark.
Mirou o celular, vendo a foto de Maria Hill aparecer e desaparecer a cada ligação iniciada e encerrada. Ele já sabia. Sabia do incidente na S.H.I.E.L.D. e de forma alguma queria falar com aquela bruxa escrota que agora era, bizarramente, sua aliada.
Não era uma escolha. Gostaria que todos entendessem que não era mais um capricho do playboy genial. Não havia como fechar os olhos e não enxergar aquela cratera que fedia a pele e ossos carbonizados. Ele daria tudo para poder esquecer, daria tudo para voltar a ter esperança, acreditar que até ali fizera a coisa certa.
A foto mudou, agora era a foto de Pepper que aparecia sem parar. O que ela poderia querer? A ex-namorada não falava com ele há certo tempo. O final do relacionamento não foi muito feliz, embora ainda trabalhassem juntos. Tony a amava. Havia muito respeito e carinho entre os dois, e ele sabia que a velha amiga devia estar preocupada, mas não era com Pepper que ele estava preocupado agora. Deuses, ele não estava pensando nela! Não era ela quem ocupava sua cabeça desde o momento que o registro de super-humanos foi aprovado. Sabia que Pepper entenderia. Não tivera tempo de falar com ela. Aliás, o seu contato era escasso com todos os amigos, desde que tudo aconteceu. Todavia, naquela noite, Tony não queria conversar. Sentia-se vulnerável demais para isso.
Tony sentia uma vontade absurda de beber, mas resistia bravamente, afogando-se em soda limonada e água tônica. Talvez se voasse um pouco, saísse a esmo pela cidade... Não. Todas as vezes que vestia aquela bendita armadura, ele lembrava da cratera de Stamford. Ele lembrava-se daquele grupo de adolescentes inconsequentes que perdeu a vida. Ele lembrava que, pelo bem ou pelo mal, ele envolveu mais um jovem naquela loucura. Quantos mais? SpeedBall... Peter Parker? Johnny Storm?
"Deuses, não permitam..." Tony riu de leve, voltando para dentro do prédio e recostando-se ao balcão do bar da sala escurecida. Mais soda limonada.
— Desde quando está aí? — Indagou, colocando o copo e as latas sobre o balcão e cruzando os braços, sempre cruzava os braços para ele. Não que se sentisse intimidado, não era isso, era ironia, uma espécie de deboche.
— Tempo suficiente para perceber que está levando a sério os 12 passos.
— Estou me mantendo sóbrio pro caso de um inimigo aparecer. Me responda, Capitão, devo vestir minha armadura?
Steve Rogers se moveu na penumbra. Tony Stark percebeu que ele mancava.
— Steve...
— Eu estou bem, foi de raspão.
— Deixe-me cuidar disso. — Stark precipitou-se até o outro. — Venha. — Com comando de voz, ele abriu as paredes do prédio como se fossem portas, e os dois adentraram um apartamento moderno e luxuoso, que ninguém pensaria ter ali.
Rogers o seguiu até uma sala, Stark rapidamente pediu que ele se deitasse sobre uma maca, que saiu da parede.
O serviço foi rápido, séptico e silencioso. Dez minutos depois, Rogers estava sentado com um curativo na perna. Ele procurou a roupa com os olhos, o bendito uniforme. Sentia-se mais forte com ele, era o Capitão-América, não Steve, não um simples rapaz do Brooklin, como sentia-se agora, de cuecas, diante do homem que ele não sabia mais quem era. Não sabia? Era tão difícil vê-lo de forma diferente do que sempre viu.
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In Your bright heart
FanfictionSteve sorriu com o canto dos lábios. Sentado na maca, sua boca parava sobre o círculo reluzente azul no peito de Stark. Lembrou-se dos momentos, das piadinhas: "Me dê seu coração", "É seu". E eles riam, e Tony colocava o mecanismo novamente no lugar...