Como Sobreviver Em Um Cruzeiro [COMPLETO]

Aquele do prólogo

Eu nunca acreditei em promoções de rádio, mas minha melhor amiga achava que se participasse de todas às promoções possíveis, um dia ela ganharia uma delas, e foi o que realmente aconteceu.

Eu gostava do mar; sempre achei um fenômeno natural maravilhoso, além de admirar todos os seus segredos que nenhum biólogo com PHD saberia desvendar através de seus computadores e estatísticas loucas.

Porém, nunca tinha estado dentro de um navio, lancha, jet–sky, ou coisa do tipo. Não sabia qual era a sensação, e segundo o google, muitas pessoas ficavam enjoadas por causa do balanço do mar. Eu esperava não ser uma delas, pois seriam dez dias dentro de um cruzeiro, com tudo pago, junto com as minhas amigas, sendo uma delas a sortuda a ter ganho uma promoção na rádio.

Estávamos voltando do treino de vôlei quando a rádio anunciou o vencedor pelos autofalantes do meu carro. Paula gritou a plenos pulmões, enquanto eu tentava controlar o carro pelas avenidas lotadas do Rio de Janeiro em pleno horário de pico, em direção ao bairro de Botafogo. Yumi olhava em direção ao aparelho de som com os olhos arregalados, como se não acreditasse ao ouvir o nome de Paula.

Não estava tão animada, afinal, último semestre da faculdade de Educação Física, e a final do campeonato de vôlei estava chegando, e não queria que nada tirasse meu foco, mas aparentemente, Paula já tinha feito todos os planos até então.

– Mas Paula, serão dez dias perdidos de treino e de TCC, não vou poder ir – tentei rebater minutos depois da notícia, onde já havíamos trocado o caminho, e estávamos indo em direção à rádio, em Copacabana.

– Acontece que temos dez dias antes da viagem para resolvermos isso, Moara – explicou, abaixando e subindo o vidro do carro ansiosa. – Você vai sim, afinal, quem além de você e Yumi iriam? Não tenho nenhum boy magia, não tenho mais melhores amigas, coisa que eu preciso pensar sobre – olhei feio para ela, que ignorou minha carranca, tomando um peteleco de Yumi –, então sim, você vai dar um jeito de terminar seu TCC ainda esta semana, e eu posso ajudar.

– Eu aceito – Yumi falou de pronto, mas olhei–a pelo retrovisor confusa, pois se me lembro muito bem, seus pais estavam fazendo uma semana sagrada budista e ela tinha que participar de todas as reuniões nos próximos quinze dias. – Bom, na verdade, vou falar com meus pais.

– E Paula, você não entende nada sobre Benefícios do Esporte na Primeira Infância para querer me ajudar – repeti o título do meu TCC para minha amiga. – E outra, precisamos ganhar a final do campeonato, as coisas não são bagunçadas assim, e você sabe mais do que ninguém que eu gosto de organizar todos os meus compromissos.

– Esse é o point of the match, Moara! – ela revirou os olhos, dessa vez batendo as mãos no painel do carro, voltando os olhos para Yumi no banco de trás. – Precisamos clarear nossa mente antes da final, relaxar nosso corpo. As últimas semanas foram completamente exaustas, e acho que merecemos essa folga. Na verdade, ainda não sei porque você insiste na faculdade, estamos a um passo de entrar para a seleção brasileira de voleibol e a única coisa que precisamos fazer é impressionar os olheiros.

– Justamente por isso faço a faculdade – entrei na rua da rádio, parando em frente à enorme construção que era a central onde tudo acontecia. – Minha carreira no vôlei é incerta e eu tenho um plano B, e você?

– Tenho meus pais – ela deu de ombros.

Se tinha algo que era incompreensível por mim, era a dependência de Paula com seus pais. Ela era um ano mais velha que eu, no auge dos 25, e ainda dependia deles para tudo. O bônus que ela tinha nisso tudo, era que René era herdeiro de uma multinacional prestadora de serviços para grandes empresas de telefonia fixa e móvel, e Luís era o sócio-majoritário. Com isso, ela jogava vôlei e tentava uma vaga na seleção feminina, e seu irmão mais novo de dezoito jogava no sub–20 do Fluminense, prestes a ser titular para jogar ao lado de Henrique Dourado devido ao seu ótimo futebol de anos de escolinha.