Enquanto caminhava em direção aos muros da Aprendiz, a escola que frequento desde pequena, nem passou pela minha cabeça que os meus planos poderiam desmoronar em um passe de mágica. Na minha mente sonhadora, eu terminaria o ano com um boletim brilhantemente azul e digno de um destaque no mural dos alunos. Quem me dera que tudo tivesse funcionado, pra variar.
Assim que cheguei aos portões do colégio, recebi o bom dia do inspetor que sempre ficava na portaria e me encaminhei para o pátio principal, lugar onde todos os alunos esperavam a hora de entrar em seus respectivos prédios. Sempre fui de ficar conversando com Letícia - minha melhor amiga - até a hora de entrar, mas logo no primeiro dia, eu não conseguia achá-la em lugar nenhum.
Estava procurando por suas mechas azuladas quando tropecei em meus próprios pés e acabei frente a frente com o canteiro de margaridas do pátio, o único lugar do extenso corredor que continha um pouco de natureza. Sentindo o olhar de todos os alunos queimar as minhas costas, sacudi as folhas da calça jeans que estava usando e alisei a blusa do uniforme, com medo de que tivesse sujado de terra.
Foi aí que eu o vi, o garoto responsável pela maioria dos escândalos da escola - e por uma parte das minhas memórias. Ele tinha olhos castanhos profundos e brilhantes, cabelo escuro, pele branquinha e o rosto contornado por bochechas coradas ornadas de covinhas convidativas.
Quando ele retirou uma margarida do meu ombro e a colocou atrás de minha orelha, não pude deixar de ruborizar e me sentir um pouquinho encabulada. Afastei o rubor, sentindo o meu estômago se revirar.
Aparentemente, minha paixão da pré-adolescência estava de volta.
