Foi mordido.
Era questão de tempo para se tornar igual a eles. Sim, ele sabia.
O olhar perplexo de sua amiga de infância, agora namorada, sobre si doía, como doía.
O sangue pingava de sua ferida, deixando uma leve trilha vermelha por onde passava.
- Não... Não... Não pode ser.
Doía, como doía.
O tom de desespero cada vez mais perceptível em sua voz denúnciava toda sua angústia.
- Não... É minha culpa... É minha culpa... Se eu não... Não...
A culpa caia sobre suas costas, se não tivesse com tanta fome eles não os teriam encontrado e ele não estaria mordido.
Levou sua mão ao rosto dela, a acariciando, como sempre fazia. Não a culpava. Nunca a culparia.
- Você sabe que não é sua culpa... Acalme-se.
O olhar dele sobre ela era acalentador, transparecia uma calma que não podia se ter nesse momento, mas ele tinha.
- Você foi mordido, porra! Como quer que eu me acalme?!
As lágrimas desceram ferozmente, como as gotas de chuva em uma dia de tempestade. O gosto amargo em sua boca o impedia de falar.
Doía, como doía.
- Você precisa continuar, estamos muito perto das "Torres", você tem que continuar.
O olhar perplexo dela deixava nítido sua descrença.
- Não vou te abandonar aqui!
Ele sorriu, um sorriso gentil que ocultava toda sua tristeza. Seu peito ardeu, outra vez o gosto amargo veio a sua boca.
Doía, como doía.
- Você tem que ir... É questão de tempo para que eu me torne igual a eles. Se você ficar, irá morrer.
Ele tossiu sangue, o vírus já estava se alastrando por seu corpo, tomando conta de seu ser. Restava pouco tempo, ele sabia.
- Lá fora está cheio deles... Não tem como chegar na caminhonete.
O olhar dela sobre si era tão cheio de sentimentos que ele não soube reconhecer todos eles. As lágrimas continuavam lá, descendo fria e lentamente.
- Vou abrir caminho para você. Vamos, meu tempo está acabando.
Enquanto andava, lembranças de anos atrás invadia sua mente, trazendo um misto de alegria e tristeza.
- Eu te amo, sabia?
Ela arregalou os olhos chorosos, então deu um pequeno sorriso.
- Sim, eu sabia. Você vive me dizendo isso.
Doía, como doía.
Parando de frente para a porta, ele segurou a maçaneta. Fechando os olhos ele suspirou. Porra, como doía.
- Eu vou chamar a atenção deles e quando der você corre o mais rápido que puder para a caminhonete, entendeu?
Ela balançou a cabeça em sinal de "sim". Quando ele ia abrir a porta, ela o impediu, o segurando pela camisa.
- O que foi?
Ela o abraçou, um abraço que dizia tantas coisas. Como um simples gesto podia significar tanto?
Doía, como doía.
- Eu também te amo minha pequena.
Ele a beijou uma última vez, sentido o gosto amargo das lágrimas.
Ele saiu, chamando a atenção de alguns canibais que estavam perto. Atirou, os matando logo em seguida.
- Podem vir, filhos da puta!
Se afastando da entrada, ele seguia matando todos que iam para cima de si, deixando uma trilha de corpos para trás.
As lágrimas desciam por seu rosto, deixando toda sua tristeza transparecer.
- Adeus, minha pequena.
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Fucking hell
Science FictionCanibais sedentos por sua carne correndo atrás de você? Ah, o velho apocalípse zumbi. Que maravilha, não acha? Essa História irá se passar por diversas visões de pessoas ao redor do mundo antes, durante e depois do apocalipse. Venha, vamos sobreviv...