Prólogo

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Uma era antes da humanidade, talvez, muitos milhares antes da humanidade, quando os oceanos eram em outro lugar e os seres de inteligência eram diferentes dos seres humanos, embora bípedes também, houve paz e harmonia entre as espécies consideradas inteligentes. A Terra chegou a ser considerada um lugar onde outras espécies resolviam suas contendas por ser um lugar onde não havia disputas injustas. Muitas guerras acabaram em conversas agradáveis, discussões acaloradas acabavam em amizades. Acasalamentos inter-raciais não eram julgados errados.

Não havia porque ter contendas entre todos. Os anos passavam e seguiam sem grandes prejuízos e parecia que sempre seria assim. Afinal, quando um morria, todos sentiam e um funeral de despedida era feito com grande respeito. Era um pedaço de si mesmos que perdiam. A morte era um até breve. Não que soubessem o que aconteceria quando alguém morria. Apenas sabiam que encontrariam quem partia assim como sabiam que o ódio trazia mais ódio, que a raiva podia ser extravasada nas bolhas de escoamento onde iam para brigar e bater.

A mudança não veio de supetão. Com a ida e vinda de vários tipos de seres de outros lugares, a corrupção foi se instalando aos poucos. Ideias foram introduzidas aos poucos. Não veem que é necessário um líder? Que tal terem um rei? Que tal terem guerreiros dignos? Que tal deixarem as fêmeas cuidarem dos assuntos que são de mulheres? Para que tanto conhecimento? Para que tantos sábios? Por que vocês precisam compartilhar tudo isso uns com os outros? Ninguém parecia dar ouvidos até que um deles deu ouvidos e achou que deveria dominar tudo, que deveria ser rei e que compartilhar conhecimento era algo perigoso.

Aos poucos, o reino se degradou. Os mendigos começaram a existir, a riqueza deixou de vir. Os estrangeiros deixaram de ir ao planeta porque não era mais seguro por serem pilhados. A prosperidade partiu e como havia necessidade por tudo, começaram a brigar entre si, esquecendo no passado recente a perfeita harmonia na qual viviam e que o conhecimento compartilhado era melhor do que guardar apenas para si.

Não houve uma guerra. Não houve um grande cataclismo. Não houve escassez de comida. Apenas brigaram até não sobrar uma alma sobre o planeta. Tudo que eram virou pó.

A exceção foi um pergaminho largado em uma caverna escrito por uma fêmea desta sociedade outrora pacífica. Talvez, a última de sua espécie. As fêmeas foram esquecidas pelos machos e sua capacidade para guardar os saberes orientados da alma ficaram naquele pergaminho esquecido por eras e eras. Nem ela morreu de fome ou de forma violenta. A solidão a consumiu de dentro para fora. Não havia mais com quem conversar, não havia com quem dispor de seu saber. Nem seu ventre poderia dar ao planeta outro ser. Para que?

Em silêncio, o vento levou seus restos mortais e nunca se soube desta civilização que se foi em um silêncio profundo como se nunca tivesse existido.

*****

Era uma vez uma menina de cabelos extensos e escuros. Alguns fios dourados insistia em atrapalhar a consistência escura do que deveria ser eternamente negro. Ela Não gostava daqueles fios extras e tentava escondê-los com tinturas especiais, que pareciam nunca fazer efeito. Aquela era sua marca única e, talvez, fosse melhor deixar assim. Um dia, quem sabe, aprenderia a gostar daqueles invasores.

Saiu da frente do espelho e se vestiu para começar mais um dia. Tomou um banho relaxante e quente. Seguiu direto para a cozinha e tomou um desjejum breve. Seguiria para o escritório cheio de homens e se prepararia para mais uma missão dentro de uma caverna. A suspeita era de terem encontrado um artefato raro e a empresa tinha pressa para continuar a explodir a pedreira. Seguiu pelas ruas da cidade com os passos firmes de quem sabia o que queria. Gostava de ser tão certa de si e de sua própria vida.

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⏰ Last updated: Sep 26, 2022 ⏰

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