Naquela noite os grilos cantavam incessantemente, pareciam fazer festa alí. Me despertaram aos poucos. Ainda sem entender bem oque havia acontecido, sem lembrar temporariamente, levanto a cabeça, olho ao redor, vejo o espantalho, os túmulos e a cabana. Um pânico terrível vem. Uma sensação de angústia adentra-me. E Em segundos, meus pensamentos vem a mil e lembro-me de tudo. Levanto da grama, e só consigo correr.
* * *
21: 16. olho a hora no celular. E ainda extremamente assustada, suspiro e bebo um copo de água. "O que aconteceu comigo?""Como posso ter dormido tanto?". Penso em várias possibilidades do que poderia ter causado a sonolência tão de repente. Não tomo os remédios faz um bom tempo. E desde então, nunca mais caí em tamanho sono, como costumamente acontecia. Mas o que mais me intriga é aquela mulher...e o que ela fazia. Parecia um ritual, e aqueles órgãos talvez uma oferenda. "Que nojo!". Perguntas vão e vêm, porém desisto de tentar entender. Noutro dia mais calma tentarei descobrir tudo. Preciso agora tentar relaxar, e tomar uma ducha.
Ligo o chuveiro, ouço a água cair no chão e fecho os olhos. Tomo um banho, e vou para o quarto me trocar. Visto uma calça moletom cinza e uma camisa de manga longa rosa. Lógo após, pego um livro guardado na mochila e começo a ler deitada na cama, esperando o sono chegar. Folheio as páginas meio entediada. Bocejo um pouco, mas nada além disso acontece, continuo muito bem acordada. Fico assim por algumas horas.
Em uma certa ocasião decido pegar mais um copo de água, bem cheio. Ouço subitamente ruídos esquisitos vindo do teto. Penso que sejam ratazanas. Olho para cima e tento ver alguma coisa. Neste momento meu pé esquerdo afunda no chão de madeira velha, provocando um enorme estalo. Eu quase grito e faço força para tentar tirá-lo do buraco. Meu coração acelera e começo a soar frio quando sinto uma asquerosa mão gelada com garras me puxar para baixo. Grito muito alto. Tento chutar a mão, e o barulho no teto aumenta, como se várias mãos batessem na casa. A sensação era a de que a qualquer momento está fosse desabar. Ela treme cada vez mais. Meus olhos enchem de lágrimas e continuo gritando. A mão me suga para mais baixo, e faço ao máximo de esforço para subir. Olho para baixo. E pelo buraco avisto as garras pretas, e mais embaixo dois pontos vermelhos, fortes como as luzes de um raio lazer.
Como se nada tivesse acontecido, tudo, exatamente tudo, volta ao normal. Choro continuamente e olho para o teto, e depois para o chão, este ainda tinha um buraco, no entanto, nada havia dentro dele. Coloco as mãos na cabeça muito confusa. Me sinto estranha, e não tenho nenhuma reação de imediato. Os soluços aumentam, e quase que num impulso corro para o quarto.
Pego as malas, arrumo todas as minhas roupas. Tremendo ainda, eu coloco um casaco jeans. Decido que agora mesmo sairei desse lugar. Meus pais irão estranhar eu chegar hoje, ainda mais a esta hora da noite, já que disse que chegaria no sábado. Mas aqui não fico mais nem um segundo! Apago as velas.
Abro a porta da cabana velha, um vento extremamente frio chega até mim, e meus cabelos balançam. Em seguida fecho a porta. Vou até o carro, coloco as malas no bagageiro, e aliviada entro nele. Dou a partida e começo a dirigir. Penso em várias coisas, desde os meus pais, até o de quão arrependida estou de ter vindo para cá. Ainda não consigo entender como os meus avós moravam aqui, tão isolados de todos, pois eram tão apegados a família. Adoraria ficar isolada de todos também, mas não mais neste lugar, não neste.
"Droga, drogaaa!". Dou vários socos no volante quando lembro que esqueci uma bolsa em uma das gavetas na cômoda do quarto. Na bolsa está a porcaria da chave de casa, e estão também os meus documentos mais importantes. Pelo menos só andei alguns poucos metros. A casa de madeira está bem alí atrás, bem visível ainda. Desço do carro, e tremendo de frio, vou quase correndo em direção ao casebre.
Eu abro a porta e ela é empurrada pela força da brisa, isso causa um leve rangido. Entro e tento não tropeçar, pois está muito escuro, apesar de algumas janelas deixar a luz da lua entrar no local. E estranho bastante, já que tenho certeza que as deixei fechada. Vou para a cozinha e procuro uma das velas, visto que deixei a lanterna no carro. Passo a mão pela mesa para ver se encontro. Após encontrar pego um isqueiro e acendo-a. Ainda tropeçando em algumas cadeiras antigas vou em direção ao quarto. Assim que chego nele uma fumaça misteriosa aparece, e se alastra rapidamente pelo pequeno cômodo. Em alguns segundos me pergunto se veio pela janela ou pela porta que deixei aberta, mas de qualquer modo isso não interessa. Coloco a vela perto da cama e para minha surpresa alí está a bolsa, e não na cômoda como eu esperava. Pego rapidamente, como se alí fosse minha vida em forma de um objeto, e de fato era.
A porta do quarto fecha bruscamente. Sem entender o que houve, tento abrí-lá. Para minha felicidade, eu consegui empurrá-lá, e por pouco achei que estivesse conseguido abrir ela, mas foi um engano, ela não abria de jeito nenhum, foi um falso alarme. "Mas oque diabos está emperrando-a?". Forço mais uma vez, mas é em vão. E começo a sentir outra vez a angústia, e ela aumenta ainda mais.
Sinto um nó enorme na garganta, me sinto tensa, e um medo intenso chega no peito. Alí na janela, a asquerosa criatura acena pra mim: de pele pálida, chifres enormes em formas circulares, um largo sorriso maquiavélico que revelam os dentes pretos, e um par de olhos...os olhos que eu jamais esquecerei, vermelhos, como se fossem pequenas amostras do fogo do inferno, e ao redor dos olhos era preto.
Naquele momento eu não paro de gritar, o pavor é tão grande. Sinto o fundo da minha calça umidecer. As garras imundas batem uma por uma na base da janela, ao mesmo tempo que pousa os cotovelos na mesma. O Sorriso é sempre cínico, e por um segundo me recordo do espantalho. A criatura somente fica parada me observando, como se apreciasse sua presa, prestes a devorar. Meu coração bate tão de pressa que por um momento penso que vou desmaiar, mas nada disso acontece, continuo alí, sendo torturada por aquele olhar. O cinismo chega a me enojar de tal maneira que meu estômago embrulha.
Minha face fica cadavérica. Chuto a porta e empurro ela de todos os modos, e jogo todo meu corpo contra ela. Perco as contas de quantas vezes faço isso. O demônio some, e o que me deixa na dúvida se fico mais tranquila ou mais apavorada. Pego uma cadeira, jogo na porta, e está começa a rachar, mas não o suficiente para arrombá-lá.
A música demoníaca volta a tocar. E por um minuto eu paro cansada chorando. A vela se apaga com um vento vindo da janela. E num gesto de oração começo a recitar todos os versículos da bíblia que posso lembrar. Tudo fica extremamente silencioso. Não paro de soluçar e implorar para que tudo parasse. Sinto uma fungada quente no meu rosto.
Um relâmpago surge através da janela, revelando a terrível figura novamente. Desta vez na minha frente. Cara a cara. Paraliso total. Todos os pêlos do meu corpo se arrepiam, e um terrível choque domina-me. A canção diabólica...Desta vez...Desta vez consigo ouvir os trechos da letra: "(...)As terríveis garras, óh as malditas garras compridas(...) Os suspiros são quentes, óh vislumbre do calor do inferno. E o que dirá dos olhos? Óh malditos olhos vermelhos e ferozes que parecem lhe devorar(...)". Excitado pela canção o demônio relinxa alto, exatamente como um cavalo. Suas patas reproduz um som alto na madeira a medida que sapateia nela. Depois late, mia e até grunhe como um porco. Um verdadeiro porco.
Como se alguém tivesse me empurrado, eu consigo correr até a janela e saltá-la. Coragem, eu não sei da onde tirei para fazer isso. Mas oque sei, é que nunca corri tão rápido em toda minha vida. E quase sem fôlego chego até o carro. Poderia ter esquecido o mundo desta vez, mas jamais voltarei para aquele casebre. Dou a partida, ouço os relinxos selvagens da coisa lá na cabana. Me arrepio outra vez, e corro com o carro numa velocidade altíssima.
Acelero cada vez mais. Vejo as árvores passarem rapidamente se tornando apenas vultos. O farol ilumina de repente aquela mulher esquisita do vestido imundo. Levo um susto imenso, desvio, grito alto, vejo um clarão e bato o carro bruscamente numa árvore.
No carro estava tudo escuro. Minha cabeça estava enfiada no visor do carro, sangrando, cheia de cacos de vidro. Algo alí acendeu e vibrou: o celular com a tela trincada, mas ainda funcionando exibia uma mensagem: Querida não esqueça dos remédios, beijos, sua mãe te ama.
Fim!
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Ferozes Olhos Vermelhos
HorrorCheia de problemas e procurando esquecê-los, uma garota decide se isolar num casebre velho de seus falecidos avós, sem os pais saberem. Em um dia de caminhada, descobre dentro da floresta um esquisito campo. Desde então, coisas estranhas começam a a...