A mendiga

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No interior de São Paulo, havia um tempo que o casal estava a espreita dela. A mendiga grávida. E nesse exato momento, a mesma já estava em período expulsivo do parto. As intenções dos consortes em relação a pobre lazaronessa, era de fato, maquiavélicas. Tudo aconteceu numa noite de lua cheia, próximo a um cemitério local.  Seu vestido maltrapilho estava esvaindo em sangue, deixando seu cobertor felpudo e longevo, repleto de sangue. A mulher gritava de dor, mas, aquela hora da madrugada, e próximo do cemitério, quem a ouviria? Exceto o casal, que já estava esperando por esse momento ansiosamente... 

- Boa noite senhora. Ouvimos um grito aqui perto, podemos ajudá-la? - Emitiu o homem.

- Sim, por favor! Graças a Deus que apareceram!  - Respondeu aliviada olhando para o casal.

- Meu Deus! A senhora está em trabalho de parto! - Exclamou a esposa, uma mulher jovem de cabelos ruivos. 

-  Lúcia, ligue para a emergência. - Ordenou o marido encarando a esposa ardilosamente.

Enquanto Lúcia fingia falar ao telefone, Lourenço, um médico obstetra, ajudava a mendiga em seu trabalho de parto. 

- Fique calma, eu sou médico. Vou te ajudar. Continue fazendo força que seu bebê já está coroando. - Respondeu Lourenço enquanto fazia a rotação da cabeça. 

Após alguns segundos a criança nasceu. Lourenço já estava com os instrumentos cirúrgicos apostos ao seu lado, e entregou o recém nascido a esposa quando fez o corte do cordão, usando um de seus instrumentos. A mulher estreitou o cenho, já estava sentindo que havia alguma coisa errada. 

- Dê o bebê pra mim. - Implorou a mulher. 

- Eu não disse meu amor?   - Emitiu Lourenço para Lúcia se levantando  -  Eu te prometi uma filha não foi? Eis aí, a nossa princesinha...

- Como assim? O que está acontecendo? Ela é minha filha! Por favor, me devolvam! - Implorou a mulher extremamente abatida.

- Era, não é mais... E veja pelo lado bom, estamos livrando essa criança de uma vida desprezível como a sua. - Concluiu Lourenço pegando uma pedra golpeando-a em sua cabeça.

A vítima foi encontrada morta pela polícia civil de São Paulo. Os mesmos identificaram o casal como suspeitos após registrar a tal criança, em um  cartório de Caxias, no Rio de Janeiro. No entanto, pela tamanha estupidez, foram pegos, por não possuírem nenhuma documentação. Apurado os fatos, o casal foi preso, e a criança permaneceu na  UTI Neonatal. 


Lúcia notou uma sombra emergindo do lado de fora de sua cela. O brilho da lua transpassava a janela de barras de seu calabouço, esculpindo o formato da sombra da entidade. 

 "Lúcia ... Lúcia ... Cadê o meu bebê?" - Pronunciou uma voz sombria e melancólica. 

Lúcia então, ficou perplexa e imóvel, após contemplar  a entidade esdrúxula e magricela pairando no ar. Os cabelos negros e ressecados esvoaçavam como se estivesse na gravidade. Seus membros superiores eram longos e cadavéricos, e suas unhas lembrava as de um tamanduá. Ela portava o mesmo longo vestido e farroupilha de sempre repleto se sangue que pingava no chão por onde passava. Os olhos da criatura eram esbugalhados e alvacentos, causando enorme repulsa e fastio. 

- Por favor, me perdoe... - Implorou com a voz estremecida, inundada pelo medo.

A assombração atravessou as grades, como um fantasma passando por uma parede.  E, por fim, pairou sobre a mulher  aterrorizada. Com as unhas longas de suas mãos, a entidade cravou-a na barriga de Lúcia, arrancando-lhe todos os seus órgãos e tripas, depois, tirou seu útero e comeu. Lourenço teve o mesmo fim, mas teve também, seus olhos arrancados. 


A polícia local encontrou os corpos de Lúcia e Lourenço, ressecados e estripados, como se alguém tivesse sugado todo o seu sangue e alma. E o bebê desaparecido da Uti, nunca mais foi visto.

A MendigaOnde histórias criam vida. Descubra agora