Capítulo 1 - Apresentações

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Laura

Ainda estou sem acreditar. Há exatos seis meses que ando num estado de frenesi constante e ansiosa de uma maneira impossível de descrever. Exatamente desde o dia que recebi do Guilhermo Castelli, meu chefe, amigo, cunhado e diretor geral de jornalismo da Castelli Sports, a rede de TV do império da Castelli Comunications Inc, o convite para ser a jornalista principal da cobertura da Copa do Mundo, com entradas ao vivo durante os dias pré-determinados. E na quinta, dia dos namorados, a loucura faria parte da minha realidade por trinta e dois dias. Hoje era segunda e no dia seguinte às duas da tarde já teria que estar no estúdio CS SP[1] para a reunião de pauta e conhecer minha equipe além de ser informada mais especificamente sobre o que eu faria e quais locais iria.

Era um sonho que se tornava realidade. A maior vitória depois de tudo que já havia acontecido na minha vida. Não me lembro quando decidi ser jornalista. Desde que me recordo e me entendo por gente meu sonho é esse. Ficava fascinada vendo os telejornais e repórteres pela TV. Com os passar dos anos, percebendo que um jornalista era também um formador de opinião tudo foi tomando outras proporções. Minha grande aproximação com os esportes também ajudou a me interessar por esse ramo do jornalismo.

Claro que passei por caminhos tortuosos e sofridos para chegar até aqui. Tinha dias que minha vontade era bater a cabeça na parede. Como pude ficar tanto tempo com o Daniel? O mais triste é perceber que joguei no lixo doze anos da minha vida. Os doze que passei em sua companhia.

Arrumando minhas malas para ir a São Paulo, onde seria a cerimônia de abertura dos jogos, deixei minha mente vagar pelas lembranças...

Meu namoro e casamento com o Daniel foi algo previsível com o tempo. Família vizinhas e amigas, somadas ao fato de termos estudados juntos desde o jardim de infância, contribuíram para que eu me apaixonasse por ele. Ele era doce, gentil, carinhoso e educado. Isso tudo me confundiu e me fez crer que o amava. Roubou de mim meu primeiro beijo aos quatorze anos. Começamos a namorar no colégio. Eu com dezesseis e ele com dezessete.

Todas as minhas primeiras vezes foram com ele: beijo, amasso, sexo. Acredito que as mudanças começaram depois que passamos no vestibular, eu em Comunicação Social e ele em Direito, ambos na UFMG[2]. No primeiro semestre tudo era tranquilo. Estudávamos no mesmo campus e estávamos sempre juntos. Depois que as coisas ficaram um pouco confusas.

Daniel se mostrou muito ciumento e possessivo, coisas que ele não era até então. Eu não podia ter amigos homens, fazer trabalhos com qualquer um deles e nem mesmo dirigir a palavra a eles. Alguns professores eram a exceção, a maioria por serem bem mais velhos.  

Como boba e inexperiente que fui, achava que tudo aquilo era cuidado e protecionismo por parte do meu amado. Quão idiota eu era. Tudo se complicou quando, no segundo ano da faculdade, engravidei. Foi como se uma bomba caísse sobre nossas cabeças. Nossos pais nos forçaram a um casamento e eu acabei por trancar minha matrícula. Infelizmente com quase três meses de gravidez e faltando um para o casamento perdi meu bebê. Foi um aborto espontâneo, fiquei triste, mas todos por fim me convenceram que o melhor era continuar com os planos anteriores e aos vinte anos me casei com Daniel.

Ainda muito abalada com tudo e tentando me acostumar com a rotina de casada, fiquei um ano sem estudar. Nesse tempo Daniel intercalava momentos carinhosos e apaixonados com brutalidade, humilhação e violência. Ele nunca me bateu ou levantou a mão para mim, mas as palavras com que ele se dirigia pra mim me deixavam triste, magoada e simplesmente acabaram com minha autoestima.

Quando Daniel ficava dois ou três dias sem aparecer em casa, e isso acontecia nos finais de semana onde ela saia na sexta para ir trabalhar e na faculdade e só voltava no fim de tarde de domingo, já sabia o que esperar. A violência verbal e o descaso com o qual ele me tratava depois me faziam chorar baixinho por várias e várias noites. Aí, quando o álcool não estava mais no seu organismo e ele me via chorando me pedia desculpas e era mais carinhoso do que antes, me enchendo de flores, chocolates e jantares que iam até a próxima sessão de bebedeira, onde tudo começava novamente.

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⏰ Última atualização: Jul 18, 2014 ⏰

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