O que assustou os pombos?

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É noite, chove lá fora. Pelo visto  será mais uma madrugada fria e solitária nesse prédio.
Em alguns momentos posso jurar que as gotas atravessam o teto e encharcam meu corpo.
Faz 3 meses que minha mãe foi até a Sibéria visitar alguns amigos, a viagem que tanto planejou, na qual passaria 2 meses e então voltaria para comemorar meu aniversário aqui. Porém faz um mês que não tenho noticias dela.
Antes de viajar, me deixou um cartão da sua conta bancária para que eu  comprasse o que fosse necessário nesse período, mas não iria ter graça comemorar sozinho, uma vez que não conheço ninguém nessa cidade.
Foi meu aniversário de 19 anos e não parou de chover o dia todo, gosto da chuva, mas essa cidade me parece chorar junto a ela.
Perdi as contas de quanto tempo faz desde que a ultima coisa sobrenatural me aconteceu. As taças não quebram mais, a cama já não treme quando choro sobre ela, a água do chuveiro não congela mais, me sinto como desejei sentir-me durante vários e vários anos... alguém comum.
Essa noite ta passando devagar e não acho que vá melhorar de algum forma. Caminho até a minha cama, deito a cabeça no travesseiro e adormeço com o som da chuva
 
                             6:00 AM

Os raios de sol invadiram o quarto, entraram pela janela e se esgueiraram entre minha palpebras, então acordo.
Sem enrolar, eu levanto e percebo que a chuva passou. Agora o sol da manhã ilumina as ruas ainda frias de Dublin. Através da janela observo a cidade começar a funcionar, as pessoas caminhando na calçada molhada, se escondem em meio seus grandes e espessos casacos de frio, touca, luvas e botas.
Escovo meus dentes e, então, visto meu corpo com a roupa que usei ontem, e um moletom por cima de tudo.

Na rua, escondo as mãos dentro de meus bolsos, mas não era suficiente para evitar a temperatura congelante. A cidade estava movimentada e alegre, os pombos desciam do teto de prédios antigos, Tudo parecia estar vivo outra vez, e isso é bem animador.
Entrando na cafeteria, peço um café, e rapidamente recebo o meu pedido. Sentado na cadeira, esperando o café esfriar, eu disassocio a realidade e minhas pupilas desfocam e minha audição se ausenta por alguns momentos.
Uma mão toca meu ombro e minha mente é puxada violentamente de volta para onde eu estava. O garçom pergunta se desejo pedir algum lanche, então o peço que me traga um croissant. A cafeteria encheu, tem muito barulho e não consigo ter prazer em tomar meu café em um ambiente assim. Pego minha comida e me dirijo ao caixa, a funcionaria parecia ser mais jovem que eu. Se tratava de uma Jovem de cabelos escuros, amarrados em um coque quase se desfazendo, o uniforme amassado com um broche estampado o logo da cafeteria

— Este lugar está cheio hoje, concorda? - falei na tentativa de ter um momento legal com outro ser humano

— Falando a verdade... não costuma ficar mais vazio que isso, pelo visto o senhor não vem muito aqui.

— Tem razão, não venho muito por aqui

— Dinheiro? - ela disse tentando agilizar o antendimento

Paguei pela comida e fui até o banco da praça, bem na frente da cafeteria. Haviam vários pombos alí, me assistindo comer e talvez querendo um pouco da minha comida, o que me levou a arrancar um pequeno pedaço e atirá-lo ao chão. Nesse momento, algo estranho aconteceu, talvez até sobrenatural. Todos os pombos da praça voaram agitados e sincronizados. como se uma bomba tivesse acabado de explodir.
Uma nuvem de passaros se formou em cima da praça e foi em direção aos prédios altos.
Todos se olharam, procurando resposta para aquilo, o que teria assustado os pombos? Mas as atenções foram desviadas da praça, as pessoas tinham coisas pra fazer, pessoas para ver, dinheiro para ganhar, e não havia tempo para se distrair logo cedo.
Do horizonte, nuvens carregadas se aproximavam, uma neblina virava a esquina e o sol da manhã se despedia da cidade.

— O clima é bem indeciso nessa cidade
- uma feminina voz falou ao meu lado

Era a jovem da cafeteria, havia sentado ao meu lado no banco, e eu nem sequer ouvi ela chegar

— Que surpresa, achei que estivesse trabalhando

— Depois que você saiu, um homem tentou tocar meu cabelo depois de eu recusar sair com ele, então eu joguei o café nos pés dele. O gerente me mandou ir pra casa, é a terceira vez que acontece,  acho que vou ser mandada embora. Mais um esprego que eu fracasso

— Sinto muito que tenha que passar por isso logo de manhã - digo tentando melhorar a situação - sou o Angelo, e você?

— Millie, mas pode me chamar de Mill - falou com seu sotaque britânico depois de suspirar profundamente

— Então você ta com o dia livre? - pergunto na tentativa de conhecer melhor a garota

— Tenho que ir pra casa, se eu der sorte, meu tio vai estar em casa ao invés de sair para se drogar em alguma festa. — Mill falou com normalidade, claramente isso já teria se repetido algumas vezes

— Você pode ir até a minha casa se precisar, quer meu número?

A garota retira uma caneta de seu coque, o fazendo cair revelar cabelos que passavam do meio das costas. Arregaça a manga longa do uniforme, e então anota os numeros em seu pulso.
Então me despeço de Mill, deixando-a no banco, observando a chuva que se aproximava

Então me despeço de Mill, deixando-a no banco, observando a chuva que se aproximava

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               ♪    To love somebody    ♪
                        (Nina Simone)

Posso dizer que hoje o dia começou bem, me encorajando a fazer coisas que gosto.
Em casa, coloco uma música pra tocar e começo a organizar as coisas que via pela frente, não eram muitas, não costumo fazer bagunça então acabaria rápido

                             12:00 AM

Faz algumas horas desde que terminei de arrumar a casa, me exercitei com empolgação e tomei um bom banho.
No momento me encontro na frente do espelho, esperando os 10min da máscara facial. É hora do almoço, pego meu celular para procura algum delivery de comida, mas antes que desbloqueasse a tela, o celular vibra ma minha mão, estava recebendo uma chamada, provavelmente era Mill. Não consigo pensar em mais alguém que me ligaria no momento,

— Angelo, eu to tentando entrar, mas você precisa ligar para portaria e avisar que você me conhecesse, o porteiro está me olhando como se eu fosse sacar uma arma a qualquer momento. Além de tudo vai chover outra vez - disse a garota, sem pausar as palavras nem pra respirar

Saio do banheiro, vestindo apenas uma toalha que escondia a parte inferior do meu corpo. Corro até o telefone e comunico a portaria que permitisse que Millie subisse. Não demora muito até as batidas na porta começarem.
Abro a porta e vejo Mill com um olhar de frustração e cabelos molhados

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⏰ Última atualização: Dec 17, 2020 ⏰

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Angelo - O começo do fim.Onde histórias criam vida. Descubra agora