without you;

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A garganta ardia. Por mais que ele insistisse em encher seu âmago de mais e mais álcool, ainda parecia seco demais. A ventania que passeava por entre as cortinas, arrancando um sentimento de culpa e dor do corpo consideravelmente frágil, parecia muito mais fria quando tocava sua pele. Era como se nem mesmo o céu e tampouco as estrelas tivessem pena de si. Considerava-se sóbrio quando estava bem; e, naquele momento, estava afogado pela embriaguez. Sufocado. Ainda sem chance, debatendo-se contra sua própria loucura e tentando atingir uma superfície inexistente, ele abraça, de maneira forte e desesperada, a garrafa de vidro.

Não é como se ela fosse um corpo.

Mas poderia ser por algumas horas.

Ele ouviu a chave. Não sabia o que dizer. Por isso, levantou o rosto com tamanha rapidez e sentimento que poderiam ser sentidos do outro lado do mundo. Os passos ecoaram lentamente, como se o outro sentisse medo de adentrar, novamente, em casa. Quando fechou os olhos e apertou as pálpebras, surpreendeu-se ao notar o corpo magro e meio pálido em sua frente. Os braços cruzados; o bico nos lábios ㅡ ele estava feliz por ver seu menino novamente, mesmo que fosse levar um sermão. Viu sua imagem duplicar e logo então sumir; e fechou os olhos. Sua cabeça doía como se sua mente estivesse sendo martelada. Um grande quadro de uma pintura abstrata, dadaísta e surrealista.

ㅡ Aish! Está bêbado de novo... ㅡ foi um murmúrio quase inaudível com tom de convicção, não uma pergunta. Era como se ele soubesse o que havia acontecido anteriormente. ㅡ Seunghyunnie, você pode parar de agir como uma criança?

E então, o homem no sofá riu. Riu com toda sua alegria e felicidade; a de uma criança quando ganha exatamente o que pediu no Natal. Era como se um grande presente estivesse ali. Jazia em pé. A expressão não era nada feliz; mas, ainda assim, Seunghyun foi dominado por uma enorme euforia ao vê-lo novamente. Com as mãos trêmulas pela emoção e pela embriaguez, tentou tocar o rosto do mais novo. Tudo que recebeu em retorno foi um sorriso fraco; seguido de um desvio.

Seunghyun não conseguiu dizer nada, à príncipio. Talvez, se sua boca obedecesse os comandos de seu cérebro, ele perguntaria ao dongsaeng o motivo de ter desviado de seus toques. Ou diria ter sentido falta de Jiyong. O pequeno Kwon ainda tinha um sorriso fraco nos lábios.

Seunghyun entreabriu os lábios e moldou uma expressão em misto de tristeza e confusão; que foi respondida por uma pura risada do mais novo. Aquela risada ecoava. Era como se há muito não o tivesse visto. Embora respeitasse Jiyong, Seunghyun estendeu as mãos novamente. E foi recusado. E novamente. E foi recusado.

Até que, impetuosamente, lançou-se contra os lábios de Jiyong em um beijo doce e singelo, repleto de saudade. O mais novo havia retribuído; mas, ao se separarem, Jiyong não nutria uma expressão muito feliz.

ㅡ Eu tenho que ir. ㅡ foi o que disse, sem muitas rédeas.

Murmurando pedidos negativos, Seunghyun apenas sentiu tudo ao seu redor desvanecer. Tudo ir embora, pouco a pouco, virando ar. E viu-se, mais uma vez, sozinho. Virou mais um gole de Soju e fechou os olhos. A imagem de Jiyong, moído em meio àquelas ferrugens e fuligens, com cacos destruídos do vidro do para-brisa em sua pele, com a cabeça sangrando e o couro cabeludo manchado de vermelho, os olhos pequenos lacrimejantes e a expressão de puro horror, com duas ou três costelas destruídas e esmigalhadas, não saía de sua mente.

E talvez fosse mesmo sua culpa.






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