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O jato particular pousa em Nova York após sete horas e vinte e três minutos de tortura. Sete horas pensando no cheiro do seu shampoo, no modo como seus dedos traçam círculos distraídos em meu pulso quando acha que não estou prestando atenção. 

*Estou voltando, Ana.* 

O motorista me espera na pista. "Bem-vindo de volta, senhor Grey. Como foi a viagem?" 

*Um inferno.* "Longa, Marc. Muito longa." 

Dentro do carro, minha perna não para de trepidar. O trânsito está parado - um acidente bloqueia a avenida - e eu quase arranco a porta para correr a pé até você. 

*Maldito mundo que insiste em nos separar.* 

Ligo. Caixa postal. 

"Ana..." Minha voz soa estranha no gravador - áspera, desesperada, *humana* demais para o monstro que todos acham que eu sou. "Você é o único porto seguro que conheci em trinta e dois anos de tempestades. Não me deixe afogar agora." 

O carro avança centímetro a centímetro. Meu telefone permanece mudo. 

Releio nossas últimas mensagens como um homem faminto revirando lixo: 

*"Acabou."* 

*"Não me procure mais."* 

Mas você não entende, querida. Eu *não sei* como não procurar você. É como pedir a um viciado que pare de pensar na próxima dose. Você está em meu sangue, nos meus ossos, na química do meu cérebro. 

Quando finalmente chegamos à universidade, meu coração bate tão forte que posso senti-lo na garganta. 

Corredores. 

Alunos. 

Professores. 

 Entre Sangue e AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora